Capítulo 24

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Na estação seguinte Caio e Mateus desceram como indicado por Chiara, estavam tão absortos no problema que tinham em suas mãos e entre dores que começavam a se tornarem excruciantes, que não faziam a menor ideia de onde estavam e aonde iriam. Apenas desceram do vagão, subiram as escadas no caminho para a saída e observando sempre se não estavam sendo seguidos.

Ao saírem do lugar, após um par de lances de escadas, eles se assustaram com que viram. O monumento que deixaram para visitarem em seus últimos dias na cidade estava diante de seus olhos em todo o seu esplendor. No meio das dores e das preocupações Caio sorriu e olhou para o amigo apenas para sentir um pouco de luz naquele caos, pois tinha certeza que Mateus também estaria sorrindo.

Quando se fala em Roma não se pode deixar de pensar no Coliseu, ou Colosseo como o chamam os italianos. O Anfiteatro Flaviano se encontrava diante do fascínio dos dois brasileiros que haviam se envolvido na maior enrascada de suas vidas. Pelo menos até aquele momento. Eles estavam realizando o sonho de criança com um tiro na perna de Caio e provavelmente com um pulso lesionado de Mateus. Ainda assim não conseguiam tirar o olhar embasbacado de suas faces.

— É sempre assim. Disse uma voz que soava vagamente familiar atrás deles.

Os dois se viraram assustados e quase partiram para cima da garota que viram.

— Wow, wow! Calma rapazes. Sou eu! Ilaria! Lembram de mim?

Era bom ver um rosto familiar, só prefeririam não serem pegos de surpresa. Em defesa da garota, ela não se aproximou sorrateiramente ou algo assim, eles simplesmente esqueceram por um breve momento que estavam com "lama até o pescoço".

— A Chiara me mandou uma mensagem dizendo para levar vocês para um médico. Disse Ilaria.

— Não podemos ir ao hospital. Tomei um tiro na perna, se fomos para lá vão chamar a polícia e não podemos confiar neles agora.

— Eu falei médico e não hospital. Temos um amigo que faz esse tipo de serviço. Podem ficar tranquilos ele é de confiança.

— Tem certeza? Perguntou Mateus.

— Agora teremos que confiar, minha perna tá doendo demais.

— Vamos. Disse Ilaria.

Ela segurou Caio de um lado e Mateus deu suporte do outro e seguiram para um carro compacto preto. Não era de nenhuma marca que Caio conhecesse e não estava se sentido bem para tentar lembrar qual pudesse ser. Sua visão foi ficando turva pouco a pouco. Lembrava-se de ter entrado no carro. Ouvir Mateus dizer para ficar acordado, mas ele estava cansado. Passou todo o trajeto lutando para ficar com os olhos abertos. Vez ou outra seu amigo lhe dava um tapa no rosto. Outras vezes não era necessário, algum buraco na rua ou tampa de bueiro eram suficientes para fazer o carro balançar o bastante para que sentisse aquela dor pulsante em sua coxa.

Ele sabia que o tiro não tinha acertado nenhuma artéria, porque àquela altura já estaria morto. Porém a dor era forte. O tiro de raspão parecia um corte de papel no dedo, comparado ao que sentia naquele momento. Agora que estavam sentados e não mais em movimento, com adrenalina correndo pelo sangue, ele sentia a dor de verdade. Dor que não queria sentir nunca mais.

Ilaria os conduziu até uma zona residencial e para Caio o percurso pareceu ter uma hora, porém soube depois que durou pouco mais do que trinta minutos. Se pudesse ter ido a algum hospital sabia que naquele momento já estaria em uma sala de emergência pronto para ser operado.

Ao chegarem à frente da garagem de uma das casas Ilaria piscou as luzes do carro e o portão automático abriu até a metade.

— Vamos entrar. Tentem não chamar muita atenção. Disse Ilaria em voz baixa.

Mas antes mesmo de sair do carro Caio já resmungava de dor. Mateus entrou primeiro pela porta meio aberta da garagem e o ajudou segurando seu braço para que não fizesse força na perna ferida. Caio queria xingar todos os familiares de quem o estava fazendo passar por aquilo. 

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