A delegacia que já estava silenciosa parecia ainda mais. Era apenas possível ouvir a respiração um pouco mais pesada de Giancarlo. Todos se olhavam naquela grande sala que, se não fosse os uniformes dos policias, pareceria mais um escritório comum como a maioria daqueles de advocacia em que Caio já havia frequentado durante a vida acadêmica e agora como advogado. Eles se olhavam sérios, não durou muito, porém pareceu uma eternidade, Mateus se incomodou com toda aquela mudez e foi o primeiro a falar.
— Como assim falsos? Ela falsificou um passaporte para vir para cá? Ela é holandesa que eu saiba ela não precisa por causa do Acordo de Schengen...
— Talvez ela não queira que saibam quem ela é de verdade. Cogitou Giancarlo.
— Ainda assim não faz sentido. Ela poderia ter falsificado um documento mais simples e não um passaporte. Insistiu Mateus.
— Isso é verdade, ainda assim esse passaporte era praticamente perfeito, só percebi por um detalhe na impressão da parte interna da capa. Se não jogasse ele no sistema dificilmente perceberia.
— Não encontrou nenhuma informação sobre ela nos bancos de dados de vocês? Com certeza ela não é nenhum fantasma. Perguntou Caio
— Não — disse Giancarlo coçando a cabeça. —, isso é que é estranho. Não consegui achar nada, mas continuaremos procurando e tentaremos achar o que pudermos.
— Talvez ela não exista e esses garotos estão tentando nos fazer perder tempo. Isso é crime sabiam? Insinuou Piero.
Caio não gostou nada da atitude do policial, Giancarlo parecia ser competente em seu trabalho e disposto a buscar soluções para as situações, mas o Piero tinha algo errado, algo não cheirava bem.
— Você acha que eu daria um tiro no meu próprio braço— disse Caio apontando para o membro ferido — para pregar uma peça na polícia de um país estrangeiro? Me diz quando isso fizer realmente algum sentido para você e eu volto a falar contigo, por enquanto vou me reportar ao seu colega. Obrigado.
Depois de contarem o resto da história para os policiais, Mateus disse:
— Tem mais alguma coisa que possamos fazer aqui?
— Precisamos dos seus documentos e endereço para mais informações. Disse Piero, para desprazer de Caio.
Ao puxar a carteira do bolso Caio ficou aliviado em sentir que seu passaporte ainda estava ali com ele. Seria uma dor de cabeça muito grande não encontrá-lo. Depois de apresentar os documentos, Mateus disse o endereço do prédio onde estavam hospedados.
— Eu sei onde é esse prédio. — Disse Giancarlo — mas qual é o número do apartamento?
— 305. Disse Caio antes de seu amigo. Quando percebeu que ele estava para contestar ele deu um leve chute no pé de Mateus. O rapaz quis esboçar uma reação, porém resistiu aos seus impulsos e ficou quieto.
— Ok. Disse Giancarlo sem notar o que Caio havia feito.
Após alguns minutos de burocracia os rapazes foram liberados.
— Você devia ir dar uma olhada nesse seu braço. Debochou Piero antes de Caio se levantar para ir embora.
A vontade de xingar o policial correu por todo o seu corpo, seu sangue pareceu ficar quente e sentiu as palavras na ponta da língua, mas sabia muito bem o que era desacato e não estava a fim de complicar ainda mais a sua estadia naquele país. Embora Caio soubesse que no fundo ele mesmo encontraria algum outro modo de fazer isso acontecer. No fim apenas se levantou e seguiu para fora da delegacia com Mateus.
***
Durante o trajeto até o apartamento nenhum dos dois disse uma palavra. Caio estava pensativo e Mateus ainda incrédulo com o ocorrido. A mesma coisa aconteceu quando chegaram ao apartamento, era tarde e ninguém estava a fim de discutir. Mateus entregou a sacola com o kit de primeiro socorros para Caio e sem dizer nada seguiu para o seu quarto.
De cabeça quente Caio foi tomar banho, tentou aliviar o estresse e ficou por muito mais tempo que gostaria debaixo do chuveiro. Quando acabou secou-se e se olhou no espelho. Podia ver em seu rosto a exaustão. Estava com olheiras e uma expressão pesada na face. O que era para ser uma noite divertida com uma garota que ele já havia se apegado tanto, virou um pesadelo.
Mexeu na sacola e buscou por uma gaze. Encobriu a ferida e enrolou uma bandagem no braço. Com um esparadrapo ele prendeu o curativo e se olhou de novo no espelho. Com apenas a toalha cintura e o braço coberto, ele se perguntava o que faria agora. Isso não pode ficar assim, será que a polícia vai mesmo procurar a Heidi e se encontrarem o que acontece? Ela vai presa pelo documento falso? Será que é Heidi mesmo o seu nome? Pensou. Tantas perguntas que não teriam respostas naquela noite, mas que, com certeza, atrapalhariam o seu sono.
Caio buscou uma segunda toalha e secou seus cabelos cacheados, que Heidi já havia dito adorar. Escovou os dentes e foi dormir... ou tentar.
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Vou te encontrar
Misterio / Suspenso1º LUGAR NO CONCURSO BLUE - REINO AZUL. Caio viaja com seu melhor amigo, Mateus, para Roma. Nessa viajem Caio conhece uma garota misteriosa, Heidi, uma turista holandesa, e eles têm um breve relacionamento que é interrompido quando ela é sequestrad...