Capítulo 23

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Ainda não eram nem quatro horas da tarde e estava longe de escurecer, dias de verão são sempre assim. Isso queria dizer que Caio e Mateus teriam poucas chances de se esconder, ainda mais com todos os homens que tinham caçando-os. Então sabiam que teriam que inventar alguma coisa para poder fugir.

— Por aqui. Disse Mateus.

Ele indicava para a entrada dos trens. De frente para a pirâmide que Caio havia visto há pouco. Tinha uma entrada mais antiga para os trens e outra mais moderna para o metrô.

Quando já estavam na estação de trens tentaram não chamar muita a atenção e por sorte a perna de Caio já não sangrava muito. Apenas uns pingos de sangue ficavam pelo caminho. Mateus indicou isso para ele que mordeu um pouco os lábios.

— Isso é bom. — Disse Mateus e Caio pareceu não entender. — Lembra que em São Paulo as estações são conectadas, aqui também são. Vem comigo.

Ele passou dois bilhetes na catraca o que para Caio pareceu ridículo. Deviam pulá-las e sair correndo. Ele estava todo machucado? Estava. Chamaria a atenção de policiais que não podia confiar? Também. Mas ele não achava que era ideal perder tempo com bilhetes de metrô. 

Desviando de pessoas que tinham acabado de descer de um dos trens eles chegaram a uma das plataformas. Mateus olhou para ver se alguém os observava e não viu ninguém. Se os capangas de Alessio já estivessem ali eles estariam no meio da multidão procurando por eles.

— Vamos pular aqui. Disse Mateus.

— Como assim?

— Olha suas pegadas. Eles vão achar que pegamos um trem, mas nós vamos atravessar esses dois trilhos e sair do outro lado.

Do outro lado, à esquerda, estava o lugar onde metrô fazia a conexão com os trens. Caio desceu primeiro e em seguida seu amigo também pulou. A estação podia receber seis trens ao mesmo tempo. Os rapazes estavam na plataforma mais próxima ao metrô e conseguiram atravessar sem chamar muita atenção. Uma senhora os viu e se assustou, Caio pediu para que não fizesse barulho levando um dedo à boca e ela se apavorou mais ainda, contudo permaneceu em silêncio. Ele então percebeu que sua mão direita estava rubra e cheia de sangue ressecado. O importante era que havia funcionado e isso bastava. Todo perigo era grande demais. Não só a vida dele, mas as de todos os passageiros presentes na estação estavam em risco. Os tiros atravessariam pessoas e vagões e ninguém nem saberia de onde tinham saído.

Esperaram a senhora se afastar e subiram na plataforma novamente. Talvez alguém encontrasse essa nova trilha de sangue de Caio, mas já seria tarde demais, em poucos metros, eles se encontraram próximos a uma escada rolante que descia para outra plataforma, dessa vez do Metrô. Desceram como se estivessem em uma escada comum e em dez segundo já se encontravam na plataforma. Por segurança afastaram-se da escada rolante e se aproximaram de um grupo de meia dúzia de turistas, ficaram perto o suficiente para se esconderem e longe o bastante para não acharem estranha a repentina proximidade dos dois.

Meio minuto depois o barulho irritante, e naquele momento o mais gostoso que já tinham ouvido ia aumentando aos poucos. O metrô vinha freando e o seu barulho estridente acalmava um pouco a angústia deles. Parou de frente para os turistas que entraram primeiro e logo após os brasileiros os seguiram. Um sinal sonoro se fez, as portas começaram a se fechar e Caio ainda olhando pelas janelas viu dois homens descendo pela escada rolante. Um deles era Alessio, com o rosto todo manchado de sangue. Somente quando o metrô embalou e saiu da estação que ele conseguiu respirar.

Ambos se olharam, sabiam que aquilo não era nada bom, o cerco se fechava ao redor deles. Ainda assim Caio agradeceu ao amigo. Sem precisar falar. Um olhar e um gesto de cabeça bastaram. Eles sequer haviam sentado, estavam em pé em frente à porta em estado de alerta. Se alguma coisa acontecesse poderiam fugir.

Bzzzz....bzzzz...bzzzz

O barulho de vibração que já ocorria há algum tempo finalmente chamou a atenção de um dos dois.

— O que é isso? Indagou Caio.

— Isso o qu...

Mateus antes mesmo de terminar de fazer a pergunta, enfiou a mão do bolso direito de sua bermuda jeans e puxou seu celular.

— É a Chiara.

Caio aproximou-se e Mateus colocou o celular no modo viva-voz.

— Que merda tá acontecendo?

— No momento estamos no metrô fugindo de uns caras muito maus. Disse Mateus.

— Que vocês estão no metrô eu já sei, mas o que vocês estão fazendo aí?

— Longa história, o encontro com a irmã da Anja não deu nada certo. Eu e Caio estamos aqui sem saber pra onde ir... — Mateus então lembrou-se do novo ferimento do amigo, que agora era mais grave que antes. — E ele tá bem machucado.

Na verdade, Mateus, também não se sentia muito bem, Caio viu o desconforto do amigo com o pulso esquerdo, ele tinha também as pernas arranhadas pela queda. Não estavam bem arrumados.

— Eu pedi para alguém buscar vocês. Agora vocês vão parar em uma estação, desçam na próxima. Quando chegarem lá saiam e esperem, saberão o que fazer.

— Como assim saberemos o que fazer?

A ligação já tinha sido desconectada. Quando fez a pergunta.

— Ela não parecia nada bem. Disse Caio.

— Você estaria?

— Estaria melhor do que estou agora.

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