Capítulo 32

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O parceiro de Diallo puxou Emanuele pelo braço, logo atrás o homem mais baixo fez um gesto com a mão para que Caio e Mateus entrassem no apartamento. Ambos estavam receosos, mas naquela situação já não poderiam dizer não, a reação dos homens poderia ser inesperada e perigosa.

O apartamento não era muito grande,  a sala era um festival de cores, a melhor definição para o lugar seria: uma camiseta havaiana. Claramente nenhum dos dois homens era formado em um curso de design e com certeza não era isso que Caio esperava de traficantes de armas. Mas ainda assim ficou surpreso com o pouco apego a discrição. Plantas de plástico e bandeiras africanas, das cinco que viu espalhada em quadros, tecidos e enfeites, conseguiu reconhecer a do Senegal, que era a maior. Estava estendida na parede atrás do sofá. Pelos seus poderes de dedução concluiu que fosse do dono apartamento, que acreditava ser Diallo. Este que sentou no sofá e o homem mais alto ficou em pé ao seu lado. Definitivamente Diallo é o dono do apartamento pensou Caio.

— Senhores, sentem-se. Disse Diallo em um tom de um homem de negócios.

Não tinham onde se sentar além do sofá. Eles olharam para Diallo quase que o perguntando onde. Mas então viram que Emanuele sentou-se ao chão. Mateus olhou para Caio preocupado com a perna do amigo, mas Caio anuiu e então com a ajuda de Mateus também sentou-se.

A dor na perna não era tão desconfortável quanto à situação de inferioridade que Caio sentia por estar olhando Diallo de baixo pra cima. E conseguia perceber que exatamente aquilo que o homem queria que ele sentisse. Então fez o que pode para não demonstrar que estava incomodado.

— O que você trouxe para mim? Disse Diallo para Emanuele.

— Eles precisam de dois ferros.

— E você acha que eu vou arrumar arma para você assim... do nada?

— Eu os trouxe no melhor.

— No melhor? Você acha que eu tenho cara de otário? Você trouxe eles no único canto que você achava que podia arrumar alguma coisa e aproveitar para pagar o que me deve.

— Não é bem assim... Tentou dizer Emanuele.

— Não é bem assim merda nenhuma.— Disse Diallo irritado e então olhou para os rapazes e disse: — Vocês querem duas armas para quando?

— Agora. Disse Caio.

— Aí Fred, eles tão achando que estão em um Walmart nos Estados Unidos.

O homem ao seu lado riu forte.

— Duas pistolas. Hoje. São oito mil.

O lado economista de Mateus entrou em ação, mas mais que o lado economista foi seu conhecimento cultural que o fez agir, ele sabia que africanos não respeitavam um homem que não sabe negociar e chutou baixo, mais baixo até do que armas deviam custar.

— Dois mil euros. Disse Mateus.

Diallo e Fred só não gargalharam pela audácia dele. Mas não deixaram de rir da oferta dele.

— São oito mil, irmão, mas você é engraçado. Gostei de você, faço por sete e quinhentos. Só por me fazer rir hoje.

— Dois mil. Insistiu Mateus, com a melhor cara de jogador de pôquer que conseguia fazer.

Eles negociaram por mais meia hora e Mateus cedeu muito pouco e no final concordaram em quatro mil e quinhentos.

— Moleque você é ousado. Respeito isso. Disse Diallo.

Mas não pareceu que isso fosse verdade quando ele apareceu com duas pistolas uma de calibre 380 e uma calibre .22. Esta última foi a que mais incomodou Caio, que havia permanecido calado quase toda a negociação disse:

— Você quer nos vender uma arma de criança?

— Você disse que quer armas agora, não posso te dar as minhas, só tenho as reservas aqui. É pegar ou largar... Eu nem perguntei para o que vocês querem essas armas com tanta urgência. Essa cidade não usa muitas armas sabia? Dificilmente vocês vão achar tão rápido.

— Isso não vai assustar ninguém. Disse Caio.

— Elas também matam, pode ter certeza que depois do primeiro tiro, ela vai assustar qualquer um. Debochou ele.

Caio não queria matar ninguém, ainda que Alessio estivesse se esforçando para mudar isso, contudo se precisasse se defender gostaria de ter algo melhor em suas mãos do que uma pistola minúscula. Esta que frequentava mais as bolsas de garotas de programa do que o arsenal de qualquer atirador. As duas Berettas com numerações raspadas teriam que dar para o gasto.

— Mais alguma coisa? Perguntou Diallo.

— Não. Disse Caio incomodado.

— Vocês não me conhecem... Está claro? Disse Diallo querendo se proteger de qualquer respingo que a aquela negociação pudesse representar.

Ambos anuíram.

— Emanuele, você ainda me deve a metade, desculpa, mas o garoto aí não tá para brincadeira, não vou ter muito lucro, sabe como é né?

Todos se levantaram e Fred os acompanhou até a porta. Mateus saiu por último. Ouviu alguém chamar pelo seu nome e se virou. Era Diallo.

— Se precisarem se algum outro serviço — E entregou um cartão de visitas todo branco com apenas um número de telefone no meio. — Cuidado para não perder.

Mateus foi embora com a esperança de não precisar usar aquele número.

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