— Que merda foi aquela lá dentro? Disse Mateus para Caio. Ele dirigia a van enquanto Caio estava ao seu lado no banco de passageiros.
— A gente podia fazer isso do jeito rápido ou do jeito demorado. Só tínhamos tempo para o rápido e o demorado seria mais doloroso para os dois.
— Eu não gostei do Caio que vi lá dentro.
— Precisava me impor depois da palhaçada do grandão.
— Eles não têm nada a ver com isso. Não precisava disso.
— Conseguimos o que precisávamos. Respondeu Caio.
Caio tinha o costume de ir sempre um pouco além do que deveria, na maior parte das vezes era uma boa coisa, mas ele sabia bem que em muitos momentos se colocava em perigo por causa disso. Dez anos antes quando passava suas férias de verão com a sua família e a de Mateus em um sítio no interior de São Paulo, ele experimentou isso pela primeira vez. Não o fato de ir além, desde o incidente com sua irmã quando era pequeno ele agia assim, mas sim, sofrer as consequências por esse tipo de comportamento destrutivo.
O adolescente acha que ele é imortal e que sabe mais do que os outros, quanto mais jovem, maiores as chances de ser um completo idiota. Digamos que Caio não era um completo idiota, mas sim um meio idiota. O que já é o suficiente para colocá-lo em situações complicadas. Como achar que sozinho podia enfrentar uma dúzia de garotos maiores que ele, só porque ele fazia artes marciais. Ser treinado ajuda, mas não torna ninguém em super-herói.
Das duas irmãs que Caio tinha uma era tetraplégica. Ele era muito protetor dela, muito por carinho, mas também por um grande sentimento de culpa. Ele fazia questão de empurrar a cadeira de rodas dela para todos os lugares quando a família saía junta. Catarina era sua irmã mais velha, ele era o filho do meio e Isadora era a mais nova. Quando iam ao sítio, sempre frequentavam um lago da cidade que era bastante frequentado pelos locais.
nesta ocasião Caio fora com Catarina e Mateus para o lago para passar o fim de tarde com eles, darem uns mergulhos e jogarem conversa fora. Isadora e Renan o irmão de Mateus preferiram ficar no sítio, desde aquela época já eram muito ligados. Caio e Mateus foram mergulhar enquanto isso Catarina ficara a beira do lago os observando. Ela sorria bastante vendo as brincadeiras dos dois. Alguns garotos, mais velhos que Caio, passaram rindo perto de sua irmã e ele achou que algum deles estava apontando para ela. Ele saiu correndo da água em direção dela. Quase caiu de tão rápido que correu. Mateus que não havia percebido nada ficou sem entender o porquê do amigo sair desesperado.
— Eles falaram alguma coisa para você? Disse Caio para Catarina.
Ela fez um leve sinal negativo com a cabeça.
— Eu vi Catarina, o que eles disseram? — Insistiu, era uma pergunta inútil ela não conseguia falar muitas palavras. Ele lembrou-se e se sentiu estúpido. — Só me diz eles disseram alguma coisa pra você?
Ela negou mais uma vez. Mas já não adiantava de nada. Caio correu em direção aos garotos que passaram pela irmã dele e empurrou ao chão o primeiro que encontrou.
— O que você falou para ela, seu babaca? Falem pra mim, fala na minha cara seus merdas.
— Você tá maluco cara?! Ninguém falou nada para ninguém não. Disse o rapaz que tinha caído na grama.
— Você acha que eu tenho cara de idiota?! Caio gritou e chutou o garoto no chão na barriga.
Foi o necessário para dar o início a uma briga séria. Dois rapazes do grupo foram em sua direção para igualar o prejuízo do amigo. O primeiro levou um soco na garganta e o segundo conseguiu acertar Caio com um soco no peito. Ele retrucou e chutou a coxa deste. Logo em seguida veio mais um rapaz e outro, e então não demorou muito e ele se viu cercado. Quando Mateus chegou Caio já tinha apanhado, em dois minutos, o que não havia em sua vida inteira. Mateus conseguiu afastar o grupo de seu amigo, mas precisou de muito esforço.
— Imbecil. Gritou um deles enquanto todos se afastavam.
No chão, com dores e seu lábio e sobrancelha estourados e sangrando, ele mente se sentiu um imbecil. Mas ninguém mexeria com a irmã dele na frente dele. Nunca mais!
Os dois pontos que tomou acima do olho direito ficariam como lembranças de um dia que ele foi além do que deveria.
O sermão de Mateus o colocou de novo naquela lembrança. Ele estava certo.
— Você tá certo, foi mal... Disse Caio para Mateus na van.
— Tudo bem. Chegamos. Respondeu o amigo parando o carro perto da entrada do estacionamento do prédio.
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Mystery / Thriller1º LUGAR NO CONCURSO BLUE - REINO AZUL. Caio viaja com seu melhor amigo, Mateus, para Roma. Nessa viajem Caio conhece uma garota misteriosa, Heidi, uma turista holandesa, e eles têm um breve relacionamento que é interrompido quando ela é sequestrad...