Vou te encontrar

Capítulo 25

Depois de muito esforço, ou do que parecia ser muito esforço no momento, Caio conseguiu passar pela porta da garagem e entendeu o porquê de ela não estar totalmente aberta. As luzes da garagem não eram fortes, mas ele conseguiu ver que estava dentro de uma sala operatória improvisada na garagem da casa. Provavelmente do homem à sua frente. Este parecia não ter nem trinta anos ainda, o que decerto modo preocupava Caio, não que conseguisse pensar muito bem ali, o rapaz estava vestido de verde com uma bata cirúrgica, pronto para operar, ou quase.

— Doutor Ferrari. Disse ele apresentando-se.

Caio ainda que com dor não conseguia perder seu humor respondeu:

— Não precisa jogar na cara que tem um carrão, Doutor.

— É o sobrenome dele. Disse Ilaria.

Caio tentou rir da sua piada, mas sentiu a perna mais uma vez e balançou quase despencando no chão, mas Ilaria e Mateus o seguraram.

— Vamos lá comediante. Vamos ver o que preciso fazer com você...

— Se não me matar já tá bom. Disse Caio ainda com cara de dor.

— Eu vou tentar.

— É melhor você conseguir, Doutor Fórmula 1!

Depois disso Caio não se lembra de quase nada, apenas alguns lapsos do homem cortando sua roupa e espirrando algo em cima da ferida. Então tudo ficou vago, lembra que acordou uma ou duas vezes quando já não estava mais sendo atendido.

Algumas horas depois teve aquela sensação estranha de acordar em um lugar que não conhece, sem saber onde e em que ano está. Como em qualquer bom cochilo à tarde quando se está cansado. Procurou lembrar-se das coisas e olhando ao seu redor soube que ainda estava na mesma garagem e na mesma maca, só que agora tudo estava escuro. Nenhuma luz acessa. Não sabia o que fazer e então foi se levantando. Ninguém estava ali. Esquisito pensou ele.

Ao colocar os pés ao chão sentiu que se tivessem lhe dado algum analgésico ele já não estava mais fazendo efeito. Mordeu os lábios com dor. Deu passos leves até uma porta, que conseguiu ver pela luz da rua que entrava pelas frestas da porta da garagem, mais guiado pela intuição do que por elas, mas as aproveitou o pouco que podia. Caçou no escuro com as mãos a maçaneta e ao encontrá-la a abriu devagar.

Não queria pegar ninguém de surpresa, mas era sempre bom saber onde ele tinha ido se enfiar e se tivesse a chance faria uma pequena investigação para concluir se realmente podia confiar no Doutor Ferrari. A porta de acesso a casa dava para um corredor. Neste a sua esquerda havia uma escada e mais adiante uma sala de estar. Seguiu em direção à esta onde não encontrou ninguém.

Eles me abandonaram mesmo trancado em uma garagem? Isso é que é prestígio pensou ele.

A sala estava iluminada, tinha um estilo clássico, nada de mais, a única informação que tirou era que o Doutor Ferrari amava os pais, pois tinha um daqueles porta retratos com escrito I love my Family e nele estavam o Doutor com uma senhora e um senhor com os cabelos grisalhos. Mas é fato notório que até as pessoas más podem amar seus pais então não se sentia pronto para confiar o suficiente nele.

O barulho de uma porta a sua esquerda assustou-o, mas o rosto que viu poucos segundos depois acalmou seus batimentos acelerados pelo susto.

— Finalmente acordou. Disse Mateus.

— Vocês me largaram lá sozinho.

— Não queríamos incomodar e o Doutor disse que era melhor te deixar descansar.

Caio olhou para Mateus e este logo percebeu sua desconfiança.

— Ele é tranquilo. Pode abaixar um pouco essa guarda. Disse Mateus.

— Não acho que estamos em posição para poder fazer isso.

— A Chiara disse que confiava nele, você não confia nela?

— Confio desconfiando.

Mateus sorriu.

— E de quem você não confia desconfiando?

— Você e... É acho que é só você mesmo.

— Que sortudo que sou. Olha aonde a sua confiança me levou.

Mateus alçou a braço e mostrou enfaixado e então mostrou as pernas que também na mesma situação.

— Em um concurso de múmias quem você acha que ganharia? Eu ou você? Debochou Mateus.

Ding Dong!

A campainha da casa tocou e Caio gelou.