Capítulo Treze

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Dylan Becker

Sinto minha cabeça pesada e demoro algum tempo até abrir meus olhos, o que incomoda um pouco. O quarto ainda está totalmente escuro e fico aliviado por isso. Um bocejo escapa pela minha boca e pego meu celular, vendo as horas. Ainda não são sete da manhã, mas eu não sinto a mínima vontade de me levantar e ir para o colégio.

Volto a fechar meus olhos e não percebo, mas acabo pegando no sono novamente e só volto a acordar quando sinto uma mão chacoalhar meu corpo. Pisco algumas vezes após abrir meus olhos e dou de cara com Marcos, a poucos centímetros de mim.

- Você está atrasado para o colégio. Levanta, Camilo já está te esperando junto com o Matias. - Ele diz e se afasta, ainda mantendo seus olhos em mim.

- Eu não vou hoje, não estou me sentindo bem. - Falo, o que não é totalmente uma mentira.

Ainda sinto minha cabeça pesada e ela dói, assim como meu corpo.

- O que está sentindo? - Ele pergunta preocupado e volta a se aproximar da cama.

E isso me faz paralisar por um momento, pois por um segundo eu me lembro que ele se comportava exatamente assim quando eu era criança e estava doente. Na verdade, até um ano atrás era tudo exatamente assim.

- Dor de cabeça e no corpo, mas 'tá tudo bem. Eu só preciso dormir. - Respondo e puxo o edredom ainda mais para me cobrir.

- Tudo bem, eu vou trabalhar em casa hoje. - Ele diz e isso me pega de surpresa.

- Não precisa, eu posso ficar sozinho. - Falo e me viro de costas, me lembrando da noite anterior.

- Eu sei, mas eu vou ficar. - Ele diz e o quarto fica em silêncio em seguida.

Fecho meus olhos e penso que ele já saiu do quarto, mas ao sentir o toque em meu ombro, sei que isso não aconteceu.

- Me desculpa por ontem, eu não sei o que você sente, não posso te julgar. Só é doloroso demais te ver assim e não sei o que fazer, mas eu te amo, Dylan. Eu te amo mesmo e vou sempre estar aqui por você. - Ele diz e ouço sua voz falhar um pouco, o que me faz respirar fundo.

Não ouso abrir minha boca para dizer nada, pois não há o que dizer, então apenas fico em silêncio e assim ouço ele sair do quarto segundos depois.

Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto, mas rapidamente a seco e tento não pensar em suas palavras. E após alguns minutos acabo pegando no sono novamente, graças ao efeito dos remédios de ontem.

[...]

Reviro mais uma vez a comida em meu prato, não sentindo muita fome. Minha vontade era continuar em meu quarto, mas diferente do colégio, eu não consegui me livrar da consulta com o psicólogo. Antes seria um terapeuta, mas Marcos decidiu que sou um doente e agora farei psicoterapia, o que eu nem sei o que é, com uma pessoa que eu nunca vi na vida.

- Você sabe que eu não sou doente, não sabe? - Pergunto mais uma vez e afasto o prato de mim.

- E eu nunca disse que você é, filho... A psicoterapia vai te ajudar a lidar com os sentimentos que você não entende. Você vai poder se abrir e ninguém vai te julgar por isso. - Ele explica, como se isso mudasse alguma coisa.

Resolvo ficar em silêncio e apenas espero ele terminar de comer para me levar ao inferno. E eu me sinto exatamente como ontem, indo para um abatedouro.

Poucos minutos depois eu estou dentro do carro, seguindo até à clínica. Sinto minhas mãos suadas e tenho que puxar o ar com força algumas vezes, para não surtar. Eu não quero fazer consulta nenhuma, não quero sessão nenhuma de terapia ou seja lá o que for. Eu só queria estar quieto, sozinho comigo mesmo.

Maktub | Livro 01 - Trilogia Destinos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora