Capítulo Vinte e Um

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Dylan Becker

Sinto todo meu corpo paralisado e um calafrio percorre toda minha pele, me fazendo arrepiar. Só tenho a noção de que há uma boca contra a minha e inconscientemente meus lábios se movem contra os deles em um beijo. Sua boca é macia e meus olhos se fecham por alguns segundos, querendo aproveitar mais dessa sensação, mas no instante em que sinto sua língua se esbarrar em meus lábios, eu me dou conta do que realmente está acontecendo...

Eu estou beijando Uriel... Eu estou beijando um GAROTO!

Abro meus olhos de uma só vez e afasto um passo para trás, tendo a certeza de que meus olhos estão esbugalhados. Minha respiração está um pouco ofegante e quando os olhos castanhos dele se encontram com os meus, eu não sei o que fazer. Eu não sinto raiva do que aconteceu, mas sim assustado e com medo. Isso é tão estranho.

- Me desculpa, Dylan... Por favor! - Ele pede após alguns segundos e vejo algumas lágrimas caírem por seu rosto, o que não me agrada.

- Não, está... Está tudo bem. Só não faça novamente. - Falo e solto um suspiro, passando as mãos por meu rosto.

Droga, isso não deveria ter acontecido. Somos amigos e eu não gosto de garotos, não faz o menor sentido ele me beijar.

- Tá... Eu-eu vou embora. - Ele diz um pouco atordoado e em seguida pega a mochila que havia tirado somente há alguns segundos atrás.

- Não, Uriel... Não precisa disso. Somos amigos, você cometeu um pequeno erro, mas está tudo bem. Isso não vai voltar a se repetir. - Falo, pegando em sua mão para o impedir de ir, mas ele balança a cabeça em negação e se afasta.

- Você não entende. - Ele sussurra e sinto algo ruim ao ouvir dor em sua voz. - Eu só preciso ir agora... Me desculpa, de verdade. - Ele pede mais uma vez e limpa as lágrimas, me dando as costas em seguida.

Penso em ir atrás dele, mas desisto, pois me sinto tão perdido e confuso nesse momento, que acho que não vai ajudar em nada. Me sento em uma das espreguiçadeiras e coloco meu rosto entre minhas mãos, respirando fundo. Que merda aconteceu aqui hoje?

Primeiro eu consegui me abrir para a última pessoa que podia imaginar, ao mostrar a ele minhas cicatrizes. E confesso que foi bom fazer isso, pois não vi julgamentos em seu olhar, apenas tristeza, como se ele pudesse sentir minha dor também.

Segundo, eu disse coisas bonitas a ele, o que eu não costumo fazer. Na verdade, eu nunca tive esse cuidado, nem antes. Eu sempre quis ajudar, mas usava as palavras erradas e hoje foi do jeito certo, tanto que rendeu até beijo.

Porra! EU BEIJEI O URIEL! Eu beijei um garoto... Aquele almofadinha irritante e folgado. Eu o beijei! E por que merda não foi ruim?

Ao fechar meus olhos, eu posso me lembrar nitidamente dos seus lábios contra os meus, a maciez da sua boca e merda... Isso é estranho! Eu nunca me senti atraído por meninos, sempre gostei das garotas, tanto que até hoje só me relacionei com elas. Então por que eu me sinto confuso agora? Por que eu não posso simplesmente abrir meus olhos e esquecer o episódio de minutos atrás?

- Merda! - Resmungo com irritação e me levanto, seguindo até à piscina. Aproveito o fato de estar apenas de sunga e pulo na água fria, querendo apenas que minhas lembranças sejam apagadas definitivamente.

[...]

Ainda me encontro na piscina quando meu pai chega em casa e sou obrigado a sair quando recebo um olhar repreendedor seu. Solto um suspiro e dou impulso na borda, fazendo meu corpo já enrugado sair da água. Pego a toalha que ele me estende e sigo para dentro com ele em meu encalço.

Maktub | Livro 01 - Trilogia Destinos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora