Capítulo Doze

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Uriel Castro

Sinto meu peito se apertar enquanto abraço Dylan e o sentimento que prevalece em mim é tristeza. Ouvir ele contando, um pouco, como se sente me deixou muito mal. Reconheço que Dylan é uma pessoa difícil, mas ninguém merece se sentir tão só e sem saída. Eu sempre vejo dor em seus olhos e isso é tão ruim. Apesar dele se fazer de forte, tratar as pessoas com indiferença, eu sei que ele se importa e sente até demais.

- Vai ficar tudo bem, eu estou do seu lado. - Falo de forma baixa, acariciando suas costas enquanto estamos abraçados.

Confesso que fiquei surpreso quando ele me abraçou de volta e isso só me fez ter ainda mais certeza de que ele é uma garoto solitário, que mesmo não admitindo, sente falta de receber um pouco de carinho. E sim, eu sei que às pessoas ao seu redor fazem isso por ele, principalmente seu pai está disposto a o amar mais que tudo, mas ainda há barreiras que impedem Dylan a sentir esse amor.

Ele não diz nada enquanto o abraço e ouço seu fungar baixo, o que indica seu choro, mas eu não falo absolutamente nada e deixo ele se acalmar. Aos poucos sinto seu corpo menos tenso e então me afasto dele. Vejo que ele limpa o rosto rapidamente e olha ao redor, para ver se ninguém está olhando. E confesso que eu agradeço o fato da sorveteria estar praticamente vazia.

- Vamos? Acho que já aproveitamos nosso tempo. - Sorrio para ele e me levanto.

- Tudo bem, eu só vou pagar. - Ele diz se levantando, mas eu nego.

- Não, eu te convidei... Eu pago. E quando eu puder, na próxima você me paga um açaí. - Falo rindo e vejo ele revirar os olhos.

- Já te disseram que você é folgado demais? - Ele pergunta e eu dou de ombros.

- Nunca tive amigos para isso, você é o primeiro. - Falo e toco seu ombro com um tapa fraco.

- Quem disse que somos amigos? Eu só te aturo por causa dos meninos. - Ele diz, me seguindo até o caixa e eu solto uma risada.

- Nem você acredita nisso, Dylan. - Falo e me viro para ele.

Pego em seus ombros e olho fixamente em seus olhos.

- Vamos fazer assim, eu vou continuar sendo seu amigo e quando você decidir me "aceitar", estarei de braços abertos te esperando. - Falo a ele, sorrindo de forma calma e ouço ele suspirar.

Penso que ele vai dizer algo, mas diante seu silêncio, eu me viro novamente e termino meu caminho até o caixa, pagando pelos nossos sorvetes. "Bendito seja o cartão do meu pai!"

E sem mais nada impedindo nossa ida, nós saímos da sorveteria e caminhamos em silêncio até um ponto de táxi.

- Dylan? - Chamo por ele e espero por sua resposta, mas só recebo um "Ahn". - Seja mais aberto ao seu pai e tente entender o lado dele. Acho que nesse momento não há ninguém que possa te dar mais apoio do que ele. - Falo, mesmo que isso não seja da minha conta.

Mas eu me vejo quase que na obrigação de o alertar quanto a isso. Eu sei que Dylan não odeia o pai, ele só não compreende todas as mudanças que ocorreram e essa frustração ele desconta sendo um homofobico. O que na minha opinião, ele não é de verdade, mas só ele pode mudar isso.

- Não acho que você deva opinar sobre a minha vida, não é? - Ele devolve e isso me faz suspirar.

- Tem razão, eu não sou ninguém para isso. - Falo por fim e agradeço aos céus quando vejo o táxi parando para nós dois.

Eu entro primeiro e Dylan faz o mesmo em seguida. Falo meu endereço ao motorista, pois serei o primeiro a ficar em casa. Nosso caminho é completamente feito em silêncio e isso me incomoda um pouco, mas não irei forçar uma aproximação entre nós. Já entendi que Dylan faz as coisas no tempo dele e quando se sente confortável para tal, então só resta esperar.

Maktub | Livro 01 - Trilogia Destinos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora