Camilo Pontes
Acompanho com o olhar todos os meninos saindo da cozinha, me deixando para trás, o que eu agradeço em silêncio, já que quero muito falar com Marcos. Me levanto quando estamos só nós dois e me aproximo dele, que está de frente à pia, lavando a louça suja.
- Quer ajuda? - Pergunto, já pegando um pano de prato para secar a louça.
- Eu posso dar conta sozinho, mas já que insiste. - Ele diz e abre um sorriso pequeno, apontando para o pano em minhas mãos.
- É que eu quero falar com você. - Falo por fim e pego o prato que ele me estende.
- Sobre o Dylan? - Ele questiona preocupado.
- Arram! - Respondo e ganho um revirar de olhos, o que eu não entendo.
- Jovens... O que custa responder um sim? - Ele resmunga e isso me faz rir.
- Desculpa aí, ancião. - Retruco ainda rindo e coloco o prato seco em cima da bancada.
- Você deveria ter mais respeito, sabia? Sou mais velho que você. - Ele diz, mas apesar do tom firme, ouço o humor em sua voz.
- Uns dez anos? - Pergunto para implicar.
- Quem dera se fosse. - Ele diz mais baixo e isso me faz arquear uma sobrancelha.
Me encosto contra a pia e cruzo meus braços, olhando fixamente para ele.
- Por que? Isso faria você se interessar por mim? - Pergunto sem rodeios e só ouço o barulho de vidro se estilhaçando, já que o copo que ele lavava caiu dentro da pia.
Vejo que todo seu bom humor vai embora e ele me olha de maneira séria, como se estivesse procurando alguma coisa em minha expressão.
- Isso é algum tipo de brincadeira? Porque se for você pode parar por aí. Eu posso até conviver com meu filho me odiando, mas não vou aguentar as graças dos amigos dele. - Ele diz sério e posso ver a mágoa brilhando em seu olhar.
- Engraçado você pensar isso de mim, pois eu sempre fui contra o que Dylan faz com você. Não, eu não estou brincando com você, apenas fiz uma pergunta inocente. Acho que posso ter alguma esperança com um homem bonito, não? - Respondo e vejo seus olhos surpresos sobre mim. - O que? - Pergunto e me afasto alguns passos.
- Você é gay? - Ele pergunta um pouco desnorteado.
- Sim. - Respondo e me encosto na bancada.
- E é o melhor amigo do Dylan? - Ele questiona totalmente perdido.
- Sim. - Falo e abro minha mão esquerda, checando minhas unhas.
- Como isso é possível? Dylan me odeia por ser gay, acho que ele faria pior com você. - Ele diz e sinto a tristeza em sua voz.
Solto um suspiro e olho novamente para Marcos, vendo a confusão pura em seu olhar.
- Dylan não sabe sobre isso. Somente minha família sabe sobre a minha orientação sexual e não é como se eu fosse me "assumir" para todos, pois não vejo necessidade nisso, desde que um hetero não assumi tal fato. E no dia em que ele descobrir e achar que eu não sirvo para ser amigo dele, está tudo bem, eu não vou mudar quem eu sou. Só que por enquanto eu quero muito ajudar meu melhor amigo, então acho que devemos voltar ao foco principal da conversa. - Falo e me sinto melhor depois de dizer tudo isso.
É um pouco sufocante ter um melhor amigo que claramente odeio homossexuais, mas eu não vou mudar o que eu sou. Enquanto nós pudermos ser amigos, eu farei de tudo por ele e espero que um dia Dylan possa ver apenas as pessoas como elas são, o que eu acredito que ele pode fazer sim, desde que ele se abra novamente ao mundo.
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Maktub | Livro 01 - Trilogia Destinos [DEGUSTAÇÃO]
RomansaLIVRO COMPLETO DISPONÍVEL PELA AMAZON!!!! Um segundo pode mudar tudo. Pode ser o fim de uma vida, mas também a continuação de outra. Uriel e Dylan nunca se viram na vida, mas a ligação deles começa no mesmo instante em que Uriel recebe uma parte im...