Bônus Três - Camilo & Marcos

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Marcos Becker

Pego cada um dos cacos de vidro no chão com cuidado e os coloco em cima de um pedaço de jornal velho. Enquanto faço esse trabalho e limpo a sujeira que ficou, sinto as lágrimas descerem por meu rosto, sentindo a culpa ser um sentimento presente em meu peito.

Solto um suspiro e limpo meu rosto, me perguntando em silêncio o porquê eu faço tudo errado com Dylan. Eu jamais imaginei que um dia estaria vivendo esse dilema com meu único filho. Nunca achei que haveria um abismo entre nós dois, quando no passado nós éramos como duas metades que jamais ficavam longes uma da outra.

Termino de limpar tudo e pego as coisas que usei, seguindo até à lavanderia. Jogo os casos envoltos no papel no lixo e coloco o pano de chão que usei para lavar. Encosto meu corpo na parede fria e fecho meus olhos, me sentindo cansado de toda essa situação. Eu nunca me senti tão sozinho na minha vida como me sinto agora. Letícia era minha base, a pessoa que mais me entendia no mundo e depois que ela se foi tudo ruiu de vez, deixando apenas a escuridão.

Não sei quanto tempo eu fico parado no mesmo lugar, olhando para o nada com vários pensamentos rondando minha cabeça, mas acordo quando escuto a porta da sala bater, sinal de que Dylan acabou de sair. E isso me faz lembrar que hoje ele tem sessão com o psicólogo, o que me deixa com o coração mais pesado. Sei que apesar de tudo, ele odeia ir a esses lugares sozinho e em todas às vezes eu o acompanhei, mas sei que hoje ele não vai querer minha companhia, nem que esteja morrendo de medo.

Saio da lavanderia e sigo pela porta que leva até os fundo da casa. Meus passos me levam até uma espreguiçadeira na beira da piscina e é onde eu fico. Passo bons minutos olhando para à água parada, até que uma vontade um pouco louca se passa por minha cabeça.

Pego o celular em meu bolso e desbloqueio a tela, indo até meus contatos. O nome de Camilo aparece em questão de segundos e meu dedo quase coça para iniciar uma ligação. Nos últimos dias nós temos nos falado bastante sobre Dylan, na questão dele conhecer quem recebeu o coração da mãe. E no começo era para ser apenas isso mesmo, mas depois que ele disse ter interesse em mim, eu não consigo mais o ver da mesma maneira e eu acho isso tão errado. Por mais que ele já tenha seus dezoito anos, eu me sinto cometendo um erro, me deixando levar por sentimentos que não podem existir entre nós dois.

Balanço minha cabeça e afasto esses pensamentos, pois nosso laço é Dylan e é por ele que eu vou ligar... Apenas por ele.

Inicio a ligação e sinto meu coração bater acelerado em meu peito com cada toque da chamada, quase perdendo o ar quando ouço sua voz do outro lado da linha.

- Marcos? - Ele pergunta em um tom de voz quase que animado.

- Ahn, sim! Desculpa estar te ligando, mas eu queria muito conversar com alguém... É sobre o Dylan. - Falo e me sinto um bobão por estar recorrendo a um adolescente. Camilo deve ter coisas mais divertidas a fazer do que conversar e aconselhar um velho.

- Não precisa se desculpar, claro que podemos conversar. Quer vir aqui em casa, ou você está sozinho? - Ele pergunta solícito e é isso que eu gosto nele.

Vejo que Camilo às vezes coloca as pessoas acima dele, querendo ajudar sempre que é possível, ou até impossível.

- Estou sozinho, acho que Dylan vai demorar para voltar... Nós brigamos novamente. - Respondo em um suspiro.

- Bem, infelizmente não é novidade. Em quinze minutos eu estou aí, me faça um lanche por favor. - Ele pede e encerra a ligação em seguida, o que me deixa boquiaberto.

- Que folgado! - Resmungo, olhando para a tela do celular.

Aceno em negação, mas solto uma risada, deixando o celular sobre à espreguiçadeira. Me levanto em seguida e vou até à cozinha, ver se tem algo que sirva de lanche pro cacheado.

Maktub | Livro 01 - Trilogia Destinos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora