Capítulo 28 | Camille

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Onde eu estava, eu tinha asas que não conseguiam voar 
Onde eu estava, eu tinha lágrimas que não podiam chorar 
Minhas emoções, congeladas num lago congelado 
Eu não conseguia senti-las até que o gelo começou a se quebrar 

Tears of the dragon, BRUCE DICKINSON.

PÁSSAROS NEGROS VOAM e batem com toda velocidade na barreira de vidro

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PÁSSAROS NEGROS VOAM e batem com toda velocidade na barreira de vidro. Alguns deles sangram, e se debatem no piso reluzente; outros apenas morrem. Os mais insistentes continuam voando contra o vidro transparente. Alguns já nem o tocam; outros contemplam o vazio de um esquecimento póstumo.

Eu os observo cair, os observo perseverar. A garota de cabelos acobreados sentada apenas alguns centímetros de distância a minha frente faz o mesmo. Há uma diferença entre nós, parece suave, mas, é gritante. "Porque você acha que eles estão fazendo isso?", ela se vira para me perguntar.

Seus olhos verdes são brilhantes, eles ainda parecem vivos. Ela ainda parece viva.

"Talvez eles gostem de sofrer." Eu dou de ombros ao responder, lembrando-me do sofrimento que minha colega de quarto dos inicias no inferno se impunha. Ela acreditava que, de alguma maneira, encontrava conforto na dor. "E você, porque acha que eles estão fazendo?"

Ela se levantou devagar, caminhou até o vidro manchado pelo sangue dos pássaros suicidas, ela parecia admirá-los de alguma forma, porque fez uma reverência exagerada que me fez rir, então, caminhou de volta até mim.

"Talvez desejem tanto a liberdade a ponto de morrer por ela."

― Eu não acredito que essa porra deu certo! ― Manu me abraça forte no meio do meu apartamento, então, desfaz o abraço me pegando pelos ombros. ― Sério, eu estava cagando de medo que ele te jogasse no meio do oceano.

Rolo os olhos para o exagero. Alexander não faria isso. Talvez fizesse?

― O que você quer que eu faça com o vídeo?

― Não quero pensar nisso agora ― digo, respirando o ar frio e estéril do interior. Cada traço da decoração contrastando com a escuridão de Alexander, expondo o quanto eu julgava ser diferente dele.

Eu ainda achava que branco era minha cor?

― Tá com a maior cara de morta, Camz. ― Os lábios generosamente grossos se curvam num sorriso um pouco preocupado. Ela mexe nos cabelos crespos meio soltos dum arranjo que eu particularmente amo quase tanto quanto amo o tom homogeneamente negro da sua pele.

― Nada que um banho não resolva.

― Não vou te ajudar com isso, garota ― diz, conseguindo arrancar-me uma risada. ― Seja rápida, Lydia tá vindo, queremos saber todos os detalhes.

Eu suspiro profundamente.

A primeira vez que Ash me falou sobre Alexander eu estava no meu quarto, essa cama estava tão perfeitamente alinhada quanto está, os lençóis tão brancos como estão, ele se deitou nela, com os pés para fora e começou. Sua primeira frase pra mim foi "Cami, minha irmã, eu preciso que você me ajude.".

Alexander: Implacável | Retirada em BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora