XXXV (Patrick)

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Patrick

Acordo e não sinto meu braço, olho em volta e vejo que estou em meu quarto, começo a tossir sangue, estou perdendo a visão aos poucos e sinto que a bala está alojada em meu ombro.

Eles entram no quarto, entram com armas nas mãos e um deles com um pedaço de madeira, me olham e eu apenas olho para o chão, sinto lágrimas caírem e meu rosto todo fica molhado, estou com as mãos amarradas em uma cadeira atrás do meu corpo, minhas costelas estão doendo para um caralho, puta merda que dor.

- Cadê meu dinheiro Patrick? – Ele pergunta e eu não o respondo – Eu vou falar mais uma vez, CADÊ O MEU DINHEIRO SEU FILHA DA PUTA?

- Eu já disse...que não tenho ele! – Digo fraco e levo um chute no abdômen

- Eu quero meu dinheiro, ou você morre agora mesmo e eu não vou ter piedade nenhuma!

- Eu...já tô morto, acaba com isso de uma vez! – Digo tossindo e ele se abaixa em minha frente.

- Aonde você escondeu sua mulher? Em, cade aquela putinha?

- Não fala assim dela! – Digo e recebo um soco da madeira, fecho os olhos pela dor ainda tossindo.

- Eu vou descobri onde você escondeu ela, e eu vou pegar ela para mim, como minha recompensa!

- Nunca vai achar ela! Me mata de uma vez!

- Eu prefiro te torturar, é bem mais prazeroso para mim, e fique você sabendo, que eu não quero ela, é muito magra, não aguentaria sequer uma metida do meu pau naquela buceta dela! – Ele fala bem próximo e já não consigo me mexer – Pode fazer o que quiser com ele, mas deixem ele vivo, para morrer sozinho e repensando na vida que teve.

Ele ao dizer sai do quarto e a tortura começa, são chutes, porrada com a madeira e eu só gritava de dor, gritava e gritava mas não adiantava mais, eu estava a beira da morte e quando eu fechei meus olhos eles pararam.

Era sangue para todos os lados, eu já não podia enxergar mais, era tudo preto e cheirava muito a sangue, meu pulso se abriu, minha respiração está fraca e ninguém pode me ajudar, esse é o meu fim.

Esse é o meu fim.

Abro meus olhos mas não enxergo nada  estou cego e a beira da morte.

Eles poderiam me matar, eles podem me matar mas eles não quer, se eu não tivesse amarrado já teria acabado com isso, dizem que gente ruim não morre cedo, está me castigando por completo, estou sendo molestado, torturado, totalmente entregue, mas eu não consigo apenas ir, o que me resta é meu coração parar de bater e isso ele não quer fazer, o que me corroe muito mais porque essa dor é muito mais além do que qualquer ralo no joelho, do que qualquer dor de ter caído de uma moto, de ter levado um tiro, é muito pior.

Esses desgraçados me deixaram cego, eu já não consigo mais enxergar nada e pensar em nada, meu cérebro apenas não parou ainda de funcionar, mas é quase isso, meus dedos, meus dedos estao jogados por aí, eu não sinto mais nada em meu corpo, apenas os batimentos do meu horrível coração, minha respiração está irregular.

Meus ouvidos sangram, estou tendo uma hemorragia e a qualquer momento eu posso morrer, eu vou morrer e...deixar minha morena para trás, vou deixar Poliana viver sua vida feliz, vai ter filhos, se casar e finalmente ter uma vida digna como sua irmã está tendo com Christopher.

A...Christopher, eu que errei tanto como irmão, errei depois que papai morreu, que me fez prometer cuidar do meu irmão gêmeo, não deixar nada faltar para ele, errei na aprendizagem, errei no ensinamento, errei em tudo com meu irmão, mas hoje ele está feliz, hoje ele está bem ao lado da mulher que ele ama e vai construir sua família com ela.

Meu filho.

Eu tinha perdido um filho por causa da minha arrogância, da minha infidelidade, da minha irresponsabilidade, eu matei meu próprio filho porque eu sou um monstro, eu não mereço o amor que Poliana tem por mim, eu não mereço o amor de ninguém, não mereço nem sequer uma ajuda, não mereço nada, o que eu tenho que fazer mesmo é morrer.

Eu não posso mais ficar aqui maltratando as pessoas que gostam de mim, eu não posso mais ser esse homem que um dia eu fui, eu precisava mudar, mudar para melhor, e ser pelo menos um dia sequer feliz ao lado da minha morena, mas não consigo, se não for a morte será a prisão, passarei anos e anos enfiado na cadeia sem ao menos ver o sol nascer, ou o sol se pôr, não poderei ver Poliana todos os dias, não poderei presenciar ela grávida e ter nosso filho, eu não sou digno de nada, eu sou apenas um dono mesquinho que erdou um morro de seu pai para comandar.

Eu deveria ter escutado Christopher, deveria ter consciência do seu conselho e ter ido atrás dos meus documentos verdadeiros, da minha felicidade, de ter ao menos uma vida feliz. Mas não, não posso ter isso mais e....

Estou morrendo.

Estou morrendo.

Estou....

 Dono Do Morro | Concluída |Onde histórias criam vida. Descubra agora