Capítulo 42

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O trajeto da loja de vestidos ate o restaurante fazemos em silencio completo e absoluto, fiquei me sentindo mal depois de provar o vestido sem minha mãe. Não quis encher Christopher com essas coisas sem antes comermos. Então resolvi engolir meus sentimentos reprimidos mesmo, é melhor assim.

Assim que adentramos ao restaurante fazemos nosso pedido que não demora a chegar, comemos como se fosse nossa primeira refeição em dias, realmente estávamos com fome e nem tínhamos percebido, Chris comeu duas vezes, claro, ele ainda fez piada fazendo a barriga crescer e dizendo que estava comendo por dois, o que me fez dar o primeiro sorriso depois que saímos da loja de vestidos.

— Então — ele começa depois de terminar a sobremesa — já te paguei um bom almoço, quero respostas sobre aquela carinha quando mencionou sua mãe.

— Achei que a sobremesa ia ser o encontro com os fornecedores — comento quando tomo um gole da minha água.

— Não se preocupe, aqui ainda tem muito espaço — ele acaricia a barriga e dou risada. — porque você estava quase chorando quando saímos da loja?

— Senta que lá vem historia — suspiro e ate sorrio lembrando de quem dizia muito isso era meu avô — eu tinha um irmão mais velho, só que ele morreu a muito tempo e minha mãe me culpa por isso. — certeza que vou ter uma indigestão depois dessa conversa.

— Como assim te culpa?

— Quando éramos mais novos, costumávamos ir a uma casa que meus pais tem no litoral, então um dia a gente foi a um rio próximo de casa, eu falei pra ele naquele dia que o tempo não estava bom, mas ele insistiu — suspiro — quando a correnteza ficou forte, ele acabou sendo arrastado, eu era muito nova e pequena, não consegui fazer nada, só voltei chorando pra casa.

Deem play na música.

— Não foi sua culpa — sorrio, a minha vida inteira ouvi isso — mas sua mãe é uma bruxa por crucificar você por isso — me surpreendo, geralmente as pessoas tem pena dela e a defendem. — ela pode ter perdido um filho, mas ainda tem outra filha, deveria ser grata por isso e não crucificar você por isso.

— Mas não foi assim que aconteceu, minha mãe se tornou uma mulher fria, amarga e desprovida de sentimentos humanos. — suspiro — por isso não quis chama-la, ate porque odeio os gostos da minha mãe, ela quer me transformar na copia perfeita dela e isso é realmente irritante.

— Me parece que estamos em um verdadeiro conto de fadas moderno — ele alisa o queixo — a bruxa malvada, o amor proibido dos pombinhos, e o vilão babaca — ele me olha e damos risada juntos — não se preocupe, se depender de mim, não verá a cara dela na organização desse casamento — pego sua mão e aperto.

— Obrigada Chris — ele me da um sorriso — saber que posso dividir tudo isso com alguém que me entenda é reconfortante.

— Não precisa me agradecer, eu que deveria agradecer por trazer um pouco de humanidade de volta para o meu amigo. — damos risada.

Depois dessa conversa tensa, conheço melhor meu amigo/padrinho, e fico sabendo que ele também teve problemas com o pai, hoje eles tem uma relação que ele chama de "normal", mas que antes era um verdadeiro inferno. O pai dele se separou da mãe dele quando ele ainda era um adolescente, então ele se casou de novo e teve mais dois filhos, ele não ligava para Christopher, apenas para a nova vida, o que magoou muito Chris, mas hoje em dia ele ama os irmãos mais novos. O pai confiou a ele a empresa e hoje ele é o mais bem sucedido CEO do país, e eu fico realmente orgulhosa dele por isso.

Saímos do restaurante e como ele disse fomos direto aos fornecedores, decidimos os docinhos, que alias Chris comeu todos os sabores e ainda contestou quando eu disse que o meu preferido era de chocolate branco com brigadeiro dentro. Decidimos o bolo juntos, nunca tinha comido tanto doce em tão pouco tempo e em um dia só. Fiquei realmente enjoada depois, dei risada quando Chris disse que não aguentava nem sentir o cheiro do açúcar. Depois dele fechar com o bufê e tudo que fosse servido na festa, inclusive os vinhos e o tipo de champanhe, saímos e fomos a vários locais para decidirmos onde iria ser a festa.

Claro que ele escolheu o maior lugar, o mais caro e o mais refinado da cidade, contra minha vontade, mas o lugar tem um salão de entrada e um pátio ao ar livre que tem um vista espetacular, que de acordo com ele, depois da decoração vai ficar parecendo um verdadeiro sonho. Confiei nele, porque eu realmente não sei como essas coisas funcionam, preciso aprender o quanto antes porque é tudo que irei precisar quando for esposa de Zabdiel.

Quando saímos com tudo pronto o sol já se foi e esta na hora de ir pra casa.

— Ai — aliso a barriga quando adentro ao carro — acho que hoje eu não como mais nada. — Chris da risada ao ligar o carro.

— Tenho certeza que ainda cabe um sorvete ai dentro — olho para ele atônita e ele dá partida parando em uma sorveteria e voltando com duas casquinhas, uma de creme e outra de morango. — não sabia do que você gostava e resolvi arriscar no tradicional — sorrio.

— Creme tá ótimo, obrigada — ficamos encostados no carro observando o vai e vem das pessoas e dos carros. — obrigada por hoje, fazia tempo que eu não me divertia assim — ele dá uma lambida no sorvete e me olha.

— É bom ter amigos normais de novo — sorrio e terminamos nosso sorvete observando as poucas estrelas que ainda podem ser notadas no céu.

Poucos minutos depois de sairmos ele para o carro em frente a porta da casa de Zabdiel, ou melhor, da minha casa. Desço e Chris vem ao meu encontro.

— Bom, obrigada de novo Chris — ele coloca as mãos nos bolsos.

— Você sempre agradece muito assim? — dou risada sentindo minhas bochechas arderem — não precisa agradecer, já te considero minha amiga e faço isso porque Zabdiel é como um irmão para mim, só quero ver ele feliz.

— Temos muita sorte de ter você — dou um abraço nele e o vejo sorrir depois. — boa noite. — dou as costas já subindo as escadas quando ele me chama.

— Emily! — me viro — amanhã decidiremos a lista e preciso de todos os seus documentos e os dele, para marcar a cerimonia no civil. — assinto — boa noite — dou tchau e adentro a casa, querendo tomar um banho e me deitar, estou cansada.

Jogo meu casaco no sofá e retiro minhas sandálias indo em direção as escadas, quero ver Zabdiel antes de dormir. Adentro seu quarto e não o vejo, olho no meu e ele também não está, vou em direção ao escritório e o encontro de calça moletom, a faixa em torno do braço com a tipoia, pés descalços, cabelo ainda molhado, seu rosto fixo lá fora.

— Pensando em que? — me aproximo dele e vejo seus ombros subirem e descerem com sua respiração.

— Como foi tudo? — ele me questiona sem me olhar.

— Bem, decidimos varias coisas, praticamente podemos nos casar a qualquer momento — suspiro — parece que tirei um peso das costas, eu estava realmente perdida, mas com a ajuda de Chris, agora falta poucos detalhes.

— Parece que no fim vocês se deram muito bem — ele se vira para mim — tão bem que ate a imprensa acha que vocês são um casal — ele vira o notebook para mim e as manchetes me assustam.

Entre Inimigos e Amantes - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora