Kids in trauma - Beuavanna

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Savannah's pov

Eu ainda me lembro do dia em que cheguei aqui, com cinco anos de idade, a inocência me impedindo de ver o que realmente ia acontecer.

No dia anterior a aquele, eu estava brincando nos jardins, minha mãe ao longe me observando, uma névoa vermelha começou a sair das minhas mãos e quando me dei conta tinha matado o canteiro de tulipas da minha mãe.

Depois eu estava aqui, minha mãe repetia que era para o meu bem, parecia querer convencer a si mesma daquilo. Aquela foi a última vez que vi minha mãe.

Uns homens grandes, me levaram e me colocaram numa gigantesca caixa de vidro. Eu estava assustada, mas eu não estava sozinha, tinha ele, Josh.

Havia chegado alguns dias antes e estava tão assustado quanto eu ali.

Anos mais tarde eu descobri o que estávamos fazendo naquele lugar.

Tínhamos poderes e nossos pais nos entregaram para essa subdivisão do governo, para não fôssemos um risco a sociedade.

Eu manipulava venenos e Josh, a eletricidade.

Mas o jeito que nós tratavam ali, não poderia ser considerado humano. Algumas vezes por semana, eu e Josh éramos levados ao nosso limite, em outros dias, treinados pra controlar aquilo e em outros alguns exames médicos estranhos.

Eu já havia decorado aos meus dias e os dele. Segunda e quarta eram os dias que me tiravam da caixa de vidro e me levavam pra uma outra salinha, onde a cada dia um veneno diferente era colocado nas minhas veias.

Eles queriam ver até onde eu aguentava, até qual veneno meu corpo era capaz de suportar. Com 14 anos injetaram tetrodoxina em mim, o mesmo veneno que os polvos de anéis azuis tem, costuma matar em segundos, mas eu ainda estou aqui.

Naquele dia, eu voltei pra caixa grogue e não falava nada com nada, Josh ficou rindo de mim. Mas aí depois que o efeito "bêbada" passou, eu sentia muita dor, Josh ficou do meu lado a noite inteira.

Os dias dele era quinta e sábado, tiravam ele da caixa e viam até quanta eletricidade o corpo dele suportava, era comum ele voltar inconsciente de lá. Eu tentava cuidar dele, apesar dos choquinhos que acabava tomando. Os dias de testes eram sempre ruins, Josh tinha pesadelos horríveis, eu ficava com ele até passar.

Durante anos fomos eu e ele contra o mundo, sempre cuidando um do outro. Ele era a única pessoa que eu confiava e ele dizia que eu era a melhor coisa que havia acontecido na vida dele.

Mas depois do meu aniversário de 16 anos, fomos separados. Eu não sei como, ainda estávamos na caixa de vidro, nossos quartos eram em cantos opostos daquilo, e então naquela manhã, quando acordamos havia um muro no meio.

Parecia vidro, mas eu não conseguia ver Josh do outro lado. E aquilo me deixou desesperada, como íamos continuar vivendo agora?

- Josh! - gritei numa tentativa falha de lhe chamar.

Aparentemente o vidro era a prova de som. Passei aquele dia todo chorando, tinham tirado meu melhor amigo de mim, meu porto seguro.

No dia seguinte, quando me levaram pros testes e me fizeram inalar cianeto com uma máscara, eu não senti nada. Estava tão triste que meu corpo sequer se importou com o veneno.

Eu via os médicos, eu acho que eram médicos, fazerem anotações rápidas em suas pranchetas, mas eu estava triste demais pra me importar.

- Por que me separaram dele? - perguntei baixinho pra eles, não tive resposta.

Aquela foi com certeza a pior noite da minha vida, depois que me levaram de volta pra caixa e um tempo passou, meu corpo começou a reagir com o cianeto, meus órgãos queimavam e eu não me lembrava de ter sentido tanta dor alguma vez.

One Shots - Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora