Na Itália com amor

Capítulo 22

Bella Montanari

Acordo no meu quarto sem entender direito as coisas, bem no clima de onde estou, o que estou fazendo aqui, quem sou eu. Completamente perdida por alguns segundos.

O nome disso é sono minha gente, sono que tem me tomado por completo. Sento prendendo os cabelos em um coque sem jeito mesmo. Faço minha higiene e saio do quarto pronta para tomar meus remédios diários quando uma cena me para.

O que ele faz aqui?

Matteo está parado no meio da minha cozinha tomando café. O que? Balanço a cabeça e sigo fazendo cara de Monalisa, como se nada tivesse acontecido.

Murmuro um bom dia pegando meu copo de água e meus remédios os tomando em seguida.

- O que é isso tudo? - Pergunta e eu o encaro pela primeira vez.

- Remédios, vitaminas, coisas que a médica mandou. - Ele assenti e volta a tomar café.

- Trouxe umas coisas, não sei o que está comendo agora.

Sento na banqueta e pego um brioche com suco comendo em seguida. O clima está meio estranho e deve ser pela conversa não dita ontem.

- Deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui ainda né. - Perguntou e assenti pois era verdade.

- Te levei pra cama e dormi no sofá, não tivemos nossa conversa.

- Ah. - Murmuro.

- E fiquei preocupado. - Quase engasgo  quando ele fala isso e abaixo o olhar terminando de comer.

- Vou tomar um banho. - Falo fugindo dele.

Sim, estou fugindo. É domingo antes das dez da manhã, preciso de uns minutos sozinha pra me preparar pra essa conversa.

Tomo um banho rápido, troco de roupa, respiro fundo e volto o encontrando no sofá com a cabeça entre as mãos, parece nervoso, então me sento ao seu lado, mas ele nem se mexe ou fala nada por uns cinco minutos até escutar seu suspiro e sua voz sai meio falha.

- Lembra que quase fui noivo? - Assinto mas ele não me olhou então respondo.

- Sim. - Murmuro baixinho.

- Namorei Alice no final da faculdade, em poucos meses ela descobriu que estava grávida de pouco mais de um mês. Eu fiquei feliz pra caralho, mesmo com todo caos era um filho, quem não ficaria feliz.

Tentei não lembrar como ele não ficou feliz ao saber da minha gravidez e volto a escuta-lo.

- Participar da primeira ultrasson, ver o pequeno ser se formando era mágico e estava decidido a pedi-la em casamento. Até que uma semana depois seu primo apareceu bêbado na minha casa no dia que ela estava lá .. no meio de tudo ele jogou na minha cara que eu não era o pai. - Sentir ele tenso. - Eu acreditei que seria pai, que teria uma família, fiz planos que foram por água a baixo quando descobri que meu bebê na verdade não era meu e sim da Alice com seu primo.

Abri a boca totalmente em choque. Caralho. Essa Alice em, nem conheço mas já odeio.

Me aproximei dele passando o braço sobre seu ombro e então ele me fitou por cima. Seus olhos estavam brilhando com lágrimas que brigavam pra descer.

- Sinto muito. - É a única coisa que consigo dizer.

- Foi por isso. Eu julguei você por que lembrei de tudo isso e tive medo de assumir um papel que poderia ter sido tirado de mim depois.

Me aproximo do seu corpo e o abraço com todo força que tenho, ele se assusta mas em segundos afunda a cabeça em meu pescoço se jogando em mim.

- Você sempre esteve certa, eu deixei o passado me atrapalhar, atrapalhar meu futuro. Mas eu sou fraco Bella, um homem fraco que aqui .. - Ele se separou e bateu na própria cabeça. - .. aqui tenta se afundar. Mas não quero mais isso.

- Você não é fraco por não ter conseguido lidar com isso Matteo. - Ele me olha com lágrimas saltando. - Você terminou de criar sua irmã depois que seus pais se foram mesmo ainda sendo mentalmente só um menino, se esforçou e criou um império. Deu exemplo a Luna. O que você menos é, é um homem fraco.

- Me desculpa Bella. - Ele limpa o rosto e se levanta. - Não queria estragar o que tinhamos e nem falar tudo aquilo pra você. Eu sou um babaca.

- É, você é um babaca e idiota. - Digo rindo e consigo tirar um sorriso sem jeito de seus lábios. - Mas mesmo eu não gostando de como as coisas foram, eu entendi seu ponto.

- Sério? - Perguntou incrédulo e me levantei afirmando.

- Sério. A única coisa que precisava era ser verdadeiro comigo. - Então penso em algo que vai fazer ele me entender também. - Vem comigo.

- Pra onde? Você precisa de repouso.

- É na galeria. Vou te mostrar algo, vem.

Descemos em silêncio ainda envolto da atmosfera que nos rodeava e o levei para o meu quadro mais conhecido.

Uma tela toda no preta em branco onde mostra um casal de costas. O homem está em pé, já a mulher está ao seu lado mas virada para a direção contrária dele. Seus corpos são realistas mas do lado do homem está tudo negro e no da mulher braco.

Apesar de simples qualquer um que olha entende e senti um pouco dos sentimentos que se passaram naquele momento e acho que isso que encanta a todos que a olham.

- A alguns anos uma pessoa oprimiu tanto a minha mente que fui capaz de acreditar que não servia pra isso. - Indiquei o quadro com as mãos. - Essa foi a primeira obra que fiz assim que separei do meu ex namorado. Enquanto um é a escuridão, outra é luz. Mas ninguém suporta ou merece a escuridão por muito tempo, por isso ela mudou e começou a trilhar o próprio caminho.

- São vocês? - Perguntou ainda de frente para o quadro como eu.

- De um jeito ou de outro sim e ao mesmo tempo não .. Ainda escuto a voz de repreensão dele e tenho lembranças sempre que meu trabalho é reconhecido ou quando crio algo magnífico ao meu ver, mas não deixo isso me atormentar ou me atingir, por que entendi que o problema não era eu e sim ele .. assim como o problema não era você, e sim ela que te deu esperança. As pessoas tem momentos de fraqueza que os outros podem não entender, mas não significa que somos fracos Matteo.

Ele permaneceu em silêncio então deitei a cabeça em seu ombro e senti a sua apoiada a minha.

Permanecemos ali, sentindo todo o peso das lembranças se esvairem nos deixando mais leves.