"- Não vai ser fácil - Consigo sentir as lágrimas se formando em meus olhos e meu nariz começa a arder - Não vai ser fácil mesmo.
- Eu não te obriguei a me amar, Amy - Seus olhos me avaliam com cuidado, ele sempre faz isso, sempre faz eu me sentir a...
Passei a noite recusando as ligações de David, até que dormi chorando e isso me deixou enojada comigo mesma. Eu definitivamente não sou assim, as clássicas perguntas invadiram minha cabeça por um instante: quem sou eu? Por que estou aqui? Será que tenho algum objetivo para cumprir na terra? O que vai acontecer quando eu morrer? E fiquei ainda mais brava comigo mesma. Eu não sou assim.
O despertador do meu celular fez seu trabalho e novamente perdi o aparelho em meio as cobertas, isso sempre acontece. Encaro as olheiras embaixo de meus olhos e me sinto ainda mais estúpida, isso é ridículo. Coloco um vestido qualquer e meu costumeiro all star vermelho, sorrio ao receber o beijo de Tânia e converso pouco com a mulher enquanto tomo meu café da manhã.
O dia está nublado mais que o normal hoje.
As meninas perceberam que meu humor não é dos melhores e se limitaram a apenas perguntar se estava bem, agradeci por isso. O caminho até o colégio foi silencioso e cada uma se enterrou em seus próprios pensamentos, isso não é muito comum entre nós, mas às vezes acontece. Antes meus pensamentos voavam para o passado que ainda não tinha superado, mas agora voa para David e meu futuro cada vez mais instável, e isso me assusta. Muito.
- Por que não me atendeu? Eu fiquei preocupado – David me aborda assim que saio do carro – Achei que tinha acontecido alguma coisa com você.
- É? – Encaro seus olhos amendoados, eu vejo a preocupação dele, sua aflição, mas também vejo ele e Andrea juntos.
A líder de torcida nos encara assim que entramos no refeitório, pela primeira vez odiei ter que ficar esperando o sinal aqui, seu sorriso é maldoso e isso me revolta. David continua o interrogatório, mas agora suas perguntas são para minhas amigas que não sabem o que responder, porque elas também não sabem o que está acontecendo.
- Será que dá para a gente conversar depois? Não estou no clima agora – Quando ele confessar a traição não vou ter vontade de assistir aula.
- Claro, eu vou na sua casa – Assinto e encaro a tela do meu celular, quero mexer em algo para o tempo passar mais rápido, mas também não estou com vontade de fazer isso. Merda.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
- Você foi chamada para participar? – Loren e Star chegam correndo até mim no corredor.
- Participar do que?
- Do BotC desse ano, você foi chamada ano passado.
- Ah – Foi impossível não lembrar da vergonha que passei dançando ano passado – Fui não, ainda bem. Vocês?
- Também não – Elas falaram em uníssono – O David foi – Star diz, mas se repreende por falar no mesmo segundo – Desculpa – Contei para elas o que aconteceu ontem na hora do intervalo.
Star e Loren têm a mesma opinião de que deve haver algum outro motivo para a líder de torcida ter ido até a casa de David, elas não acreditam que ele me trairia assim, mas isso não mudou nem um pouco minha insegurança. A conversa delas sobre o BotC me deixa interessada no assunto, como vai ser a dança desse ano?
As aulas passaram sem problemas e isso me deixou de certa forma calma, mas assim que cheguei em casa e vi o carro de David estacionado em frente minha casa, a calma foi embora. Entramos juntos e sentei no sofá da sala de visitas encarando-o, minha barriga dá sinal de vida e lembro que preciso comer, vou ter que adiar nossa conversa de novo, pelo menos vou tentar adiar.
- Então? – Ele pergunta ansioso assim que apareço ao seu lado.
- Eu preciso comer, a gente pode conversar depois?
- Eu não vou conseguir esperar, estou preocupado demais – Seu olhar de súplica me faz revirar os olhos, entramos juntos em minha casa e ele me acompanha até a cozinha – Por que você não foi ontem? – Ele senta ao meu lado e encara eu colocando a comida no micro-ondas.
- Eu fui – Minha voz sai baixa e praguejo por isso – E encontrei a Andrea por lá – Seu cenho está franzido.
- Ela foi lá ontem mesmo, o que isso tem a ver? – Encaro todos os detalhes do seu rosto e minha mente fervilha.
- Ela me falou o que estava fazendo lá – Ela falou mesmo? Pior que agora não consigo me lembrar do que ela disse realmente.
- Ela disse que estava me ajudando com a dança para o BotC? – Encaro seus olhos a procura da mentira.
- Não.
- O que ela falou?
- Na verdade, ela não falou muita coisa, ela deu a entender.
- O que ela deu a entender? – Encaro o chão e me sinto uma boba, ela me provocou e eu cai como uma besta.
- Eu acho que não quero falar mais sobre isso.
- E eu acho que você não confia nem um pouco em mim – É que é difícil confiar em alguém que você não conhece direito.
- Talvez – A comida está fria de novo, mas não me importo, coloco a colher na boca e mantenho-me ocupada.
- Ah – O som some de sua boca e eu me desespero com o seu olhar, magoei ele.
Estou agora machucada por magoar ele.
- Eu quero ficar sozinha.
Que porra de conversa foi essa?
- Estou indo, então – Meu coração arde ao encarar o triste amendoado de seus olhos.
- Então vai – Encaro a comida no prato de cenho franzido, desde quando eu fico agindo assim? Eu tenho que escutá-lo, tenho que mostrar para ele o meu lado, tenho que confiar nele.
- Até amanhã.
- Não sei se vou na aula amanhã – Meu tom é frio e isso me estressa, é como se a mágoa que alguém implantou em mim agisse por conta própria.
- Tá.
- Tá.
- Tchau – Ele não parece querer ir embora e eu não quero que ele vá, mas por que não estou fazendo nada para impedi-lo?
- Tchau.
Eu estou sendo burra.
Estou sendo louca de pedra.
Estou sendo estupida.
E estou confiando na pessoa errada.
Eu acho que está tarde demais para resolver, constato quando escuto a porta de casa sendo fechada com certa força.