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Eu definitivamente tinha me esquecido do quão complicada e estressante poderia ser a vida na escola.

Depois de um ano inteiro enfiada em um lugar sem cores e com pessoas de mentes tão ferradas quanto a minha, a última coisa que eu pensava era em como levaria o dia a dia na escola, afinal eu só conseguia pensar na parte técnica, como se não houvesse um longo caminho a percorrer até o fim do ano letivo.

Na época em que aconteceu tudo de ruim na minha vida eu estava cursando o primeiro ano do ensino médio, mas então tudo desandou e eu acabei trancafiada no Bonaventura e perdi as provas e trabalhos, precisando retornar para o primeiro ano novamente, deixando todos meus amigos – ou os que eu achava que eram meus amigos – todos para trás.
Ou melhor, para frente, porque eles estavam no segundo ano e sequer pareciam lembrar-se de mim, ou talvez não quisessem andar com alguém da turma 'inferior'.

Será que eu seria assim também?

Se bem que na minha mente eu só conseguia pensar que eles se afastaram por causa da minha internação... Na verdade, todos se afastaram.

Menos a Lia e isso era estranho.

Ela não tinha motivos para ser legal comigo, principalmente porque eu sempre ignorei a existência dela – como uma boa vaca que eu era.

Então, depois de ter um resto de noite muito tranquila, me vi razoavelmente pronta para voltar para a cova dos leões.
Quer dizer, até precisar realmente voltar... Porque quando pisei na calçada da escola, desejei fortemente poder voltar para casa, talvez fingindo uma dor de barriga... Mas além do Ruggero tagarelando que eu precisava ser forte, também tinha a Lia que esbarrou comigo na entrada e começou a falar. Ela simplesmente não se calava.

─... Então, como eu estava dizendo, eu acho que você deveria ir ao baile e mostrar que está pouco se lixando para o que ficam dizendo por ai. O que acha?

Pisquei os olhos varias vezes, atônita com a rapidez que as palavras saiam de sua boca carnuda e cheia de dentes brilhantes.

─ Eu acho que você deveria responder. – Ruggero sussurrou perto de mim como se alguém mais pudesse ouvi-lo. ─ Quando uma pessoa fala com você, você fala de volta, sabia?

Eu quis rosnar pra ele como um animal irritado, mas me contive.

Forcei um sorriso gentil para Lia que parecia aguardar ansiosamente a minha resposta.

─ Baile? – Engoli em seco com força. – Eu não sei. Não sou muito de bailes, sabe? Dançar... Quer dizer, eu gosto de dançar, toda garota normal gosta, certo? Bom... É que eu vou sair no dia do baile.

─ Isso foi ruim... – A assombração chata falou ao meu lado.

Lia franziu o cenho pra mim.

─ Karol, eu te conheço há muitos anos. Digo, não éramos amigas, mas todos em Rosa Branca te conhecem, sabem como você e as meninas amavam o baile que abre o ano letivo... Por acaso você está mentindo só por causa do que aqueles nojentos fizeram com você ontem? Se for por isso...

─ Oh não, não, não! – Eu ri, ou tentei pelo menos. – Eu, hum, não me importo com o que fizeram ontem. Realmente nem ligo.

Ela cruzou os braços.

As pessoas passavam por nós no corredor e às vezes esbarravam em nossas mochilas, mas isso não parecia tirar a atenção de Lia de mim.

─ Então me mostre... Vamos ao baile! – Guinchou. ─ É um baile a fantasia. O tema esse ano é terror! Vai ser muito bom, tenho certeza.

Terror... Olha só, perfeito pra mim. Nem preciso me maquiar.

─ Você devia ir. – Ruggero disse e com o canto do olho vi quando ele saiu de perto de mim e foi para o lado de Lia, olhando-a de cima abaixo e assentindo para si mesmo.

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora