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Eu não fazia idéia do que aquele infeliz queria, mas aceitei falar com ele, porque era melhor que ele desembuchasse logo antes que os comentários corressem pela cidade e chegasse aos ouvidos dos meus pais, afinal, um carrão daquele em Bela Rosa, com um cara usando uma túnica vermelha-sangue, chama bastante atenção.

Lia nos levou até o Luz Vermelha e os seguranças de Otávio Romero ficaram do lado de fora esperando.

Eu não conseguia reprimir a vontade de abraçar Ruggero, porque o olhar de Otávio me deixava amedrontada de certa forma.

Mas eu não podia simplesmente voltar atrás ou me deixar impressionar por um maluco que vestia terno de camurça num calor infernal como aquele, ainda mais com aquela calça vermelha brilhosa...
Ninguém que se vestia daquele jeito e que se movia como se flutuasse devia causar medo.

Mas, porque mesmo assim eu me sentia sufocando?

Lia nos levou até uma mesa, mas eu não queria me sentar, então cruzei os braços e fiquei de pé me balançando sobre os calcanhares nervosos... Meus batimentos acelerados.

Ruggero estava ao meu lado e seu olhar me fazia afundar em um pesar profundo, porque as palavras de Otávio Romero ficavam voltando, assim como todas as lembranças pesadas daquele dia.

─ Eu não quero me sentar também... – O falso guia disse. – Só quero falar e ir embora.

De fato, Otávio Romero parecia diferente, talvez estivesse um pouco opaco apesar das cores vibrantes que vestia... Ele parecia atordoado, nervoso e ficava o tempo inteiro olhando para Ruggero e para mim como se fôssemos duas almas condenadas.

─ E porque você não fala logo? – Lia guinchou.

─ Primeiro, me diz, como sabia que éramos de Bela Rosa? Como me encontrou? Eu não falei nada naquele dia. – Falei.

Ele deu uma risadinha.

─ Esqueceu que você estava com o meu celular? A propósito, a tela está trincada, sabia? Precisei comprar outro... Mas enfim... – Suspirou. – Eu rastreei o telefone e o encontrei na beira da estrada, então só precisei juntar dois mais dois, porque a cidade que ficava perto da estrada era essa e... Bom, em que outro lugar uma criança estaria a essa hora além da escola? E só há essa escola nessa cidadezinha, então...

Bufei.

─ Não sou criança. – Resmunguei. – Mas tanto faz, o que você quer?

─ Já não basta todas as merdas que você falou aquele dia? – Ruggero disse.

Otávio empinou o queixo.

─ Que linguajar! Olha aqui, eu não falei nada de errado, o problema é que eu não contei tudo, fiquei com medo, mas a tia Margô não me deixou em paz, ficou repetindo que eu precisava ser sincero, que tinha que fazer o certo, que o correto era falar... Ela não me permitiu esquecer o que eu vi, então cá estou eu.

Uma coisa gelada subiu pela minha espinha e meu corpo arquejou de leve.

Puxei o ar devagar.

─ Será que você pode falar e ir embora? – Meus lábios tremiam. – Eu tenho que ir para casa.

─Espero que vá sem ele. – Otávio apontou para Ruggero e depois recolheu o dedo. ─ Você tem que ficar longe dele.

─ Eles se amam, seu bocó! – Lia guinchou. – Eles são, tipo, almas gêmeas, sabe? Não podem ficar afastados. Nunca.

─ Ah meu Deus! – Otávio foi tombando para trás até que se sentou, depois apoiou o cotovelo na mesa e cobriu o rosto com a mão. ─ Eu devia ter falado antes! Isso é tão errado...

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora