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Vivo...

Vivo...

Vivo...

Ruggero estava, realmente, vivo.

Deus, aquelas palavras pareciam fruto de uma ilusão, mas quanto mais eu as repetia na cabeça, mais pareciam reais, porque Lia não podia estar mentindo, seria maldade demais. Ela não faria isso, nunca.

─ Ele está vivo. – Balbuciei ainda perdida nos meus próprios pensamentos.

Eu sabia que Otávio Romero estava enganado, mas constatar isso era tão... Tão bom.

─ Está, amiga. – Lia falou. – E foi por isso que eu achava o nome dele familiar. É que na época que saiu a reportagem falando sobre o acidente, eu me lembro de ter comentado como esse nome dele era diferente, sabe? Mamãe até me disse que era nome italiano, mas depois... Quer dizer, foi na mesma época da morte da Valentina Zenere, então...

─ As coisas estavam tumultuadas em Bela Rosa. – Completei. – Está tudo bem, não tinha como você se lembrar de tudo.

Vi com o canto de olho quando Ruggero se levantou da cama e caminhou até a janela, depois ficou lá observando a rua, como se tentasse, de alguma forma, digerir tudo aquilo, por mais que parecesse bom demais para os nossos dias acinzentados.

Não estávamos acostumados com boas notícias.

─ Aqui tem o endereço da avó do Ruggero. – Assim que Lia falou isso, Ruggero e eu a encaramos. ─ Na verdade, o Augustin me entregou todos os dados da denúncia da época, mas eu preciso entregar hoje mesmo a ele, porque se o delegado souber que ele mexeu nesses arquivos... Bom, já deve imaginar.

Um endereço.

Apenas um endereço que foi capaz de me causar um abalo no corpo inteiro, porque aquele endereço tornava tudo ainda mais palpável.

Corri até a cama e peguei a pasta, mas minhas mãos tremiam muito.

─ Em que rua de Bela Rosa ela mora? – Perguntei ainda tentando abrir a pasta com meus dedos suados e trêmulos. ─ Amanhã bem cedo eu vou lá.

Senti quando Ruggero se aproximou de mim, tão curioso quanto eu.

Se eu falasse com essa senhora, se eu pudesse saber mais sobre tudo o que aconteceu... Só essa mulher poderia nos indicar um rumo agora, principalmente porque ela poderia me levar até ele...

Até o corpo dele.

─ Karol... Amiga, calma. – Lia pegou a pasta da minha mão e eu a encarei com certa irritação. ─ A avó do Ruggero não está morando aqui em Bela Rosa. Bom, ela até morava aqui, mas depois do acidente, ela foi para Lourenço, porque o Ruggero está internado no Hospital Geral de lá, entende? Fica perto daqui de Bela Rosa, mas levaríamos algumas horas para chegar.

Franzi o cenho enquanto fazia um calculo mental de quanto tempo levaria até chegar à rodoviária, comprar a passagem e quanto tempo levaria na estrada... Quer dizer, talvez eu ainda conseguisse chegar lá na noite seguinte.

Daria certo. Tinha que dar.

Abanei a cabeça concordando e passei por Ruggero para ir até onde estava minha mochila da escola, depois joguei tudo que tinha dentro dela no chão.

Precisava apenas de poucas roupas, bem poucas.

─ O que está fazendo? – Ruggero perguntou.

─ Karol, o que você...?

─ Eu preciso pegar apenas umas coisas para irmos. – Falei com obviedade.

─ Irmos? Para onde? – Lia indagou com a voz muito aguda.

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora