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Eu sentia como se a minha cabeça fosse um balão cheio de pedras a ponto de despencar do meu pescoço e se espatifar no chão, espalhando mil pedaços de mim a cada passo que eu desse; fora o meu corpo que era mil vezes mais leve, porém, traidor, capaz de me fazer tropeçar nos próprios pés e errar o jeito certo de caminhar até o banheiro.

Tudo errado.

Era assim que os remédios me deixavam.

Abri a torneira e a água gelada começou a escorrer por entre meus dedos dormentes, acordando meus nervos, fazendo-me sentir algo além de ressaca. O pior tipo de ressaca.

─ Eu ainda estou aqui.

Poderia parecer lento para outras pessoas, mas na minha cabeça eu me virei muito rápido, ao mesmo pé que um gritinho medonho escapou da minha boca, deixando claro que eu realmente não acreditava no que meus olhos viam.

Eu podia confiar nos meus olhos ou em mim mesma?

Não dopada daquele jeito.

─ Não acredito. – Resmunguei. – Isso não é verdade.

Desliguei a torneira e me apoiei na parede para caminhar melhor até o quarto.

O dia ainda estava nascendo dava pra ver, mas a minha sensação era de que eu tinha dormido por dias afins.

─ Eu nem queria te aborrecer...

─ ... Então some.

─ ... Mas, eu realmente não sei o que aconteceu.

Me sentei na cama e o encarei.

Hum... Bonito. Muito bonito.

Eu não tinha reparado nisso na noite anterior, talvez porque a raiva estivesse me cegando.

Mas ele definitivamente era bonito.

Aqueles olhos cor de topázio marrom que encandeavam a luz do sol como se ela pudesse atravessá-lo enquanto se esparramava no meu chão, e aquela boca bem contornada pela barba bem feita, os cabelos encaracolados que se misturavam entre si formando um redemoinho engraçado, mas não feio, um bolo de cabelo castanho, quase como os olhos.

─ Ai meu Deus! – Exclamei jogando-me para trás contra o colchão fofo. – Eu vou acabar voltando para aquele lugar... De novo.

Voltar para o sanatório... desapontar os meus pais... ver minha vida desandar de uma vez... tudo voltando... os pesadelos... as memórias...

Não.

Parecia insano demais ter me esforçado tanto para consertar as coisas e, do nada, tudo descarrilar novamente.

Eu não ia deixar isso acontecer.

Eu dou conta. Eu treinei pra isso.

─ Que olhar é esse?

Peguei impulso e me sentei de uma vez, depois fiquei de pé avançando na direção do meu armário para procurar uma calça jeans limpa.

─ Eu vou continuar com o plano. – Expliquei. – Vou para a escola e vou sorrir. Sorrir para todos.

Eu não tinha porque entregar os pontos, eu sabia que algo assim poderia acontecer, porque é normal, nada mais seria como antes na minha vida e se o preço de todo o trauma era agüentar um cara bonitão aparecendo do nada, tudo bem. Eu iria lidar.

Tinha que lidar.

─ Então você finge que é feliz?

Eu estava de costas e fiquei feliz por isso, porque assim ele não iria ver a expressão que passou meu rosto.

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora