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─ Foi você que fez aquilo? – As palavras iam se atropelando ao mesmo pé em que iam saindo da minha boca. – Como...? Ruggero, eu não...

─ Eu não sei! – Ele gritou, exasperado. – Eu fiz? Não. Eu não fiz. Ou será que fiz? Não. Não é possível...

Esfreguei a testa e andei para lá e para cá na sala da minha casa.

Havíamos sido liberados do colégio por causa desse 'acidente' e as aulas voltariam ao normal no dia seguinte, porém, assim que cheguei em casa – e durante todo o percurso – fiquei com uma vontade louca de voltar para a sala e olhar o lugar onde Bruno estava e onde tudo aconteceu, porém havia sido tudo interditado por cadeiras e a coordenadora que ficou como um cão de guarda vigiando para que ninguém ousasse espiar.

Pelo menos quando entrei em casa não havia ninguém e também não pensei em ligar para avisar que havia chegado, porque eu precisava pensar naquilo tudo, principalmente no fato de que Ruggero – claro que foi ele – tinha quase matado meu colega de turma.

De alguma forma bizarra, o cara na minha frente tinha estourado uma lâmpada.

─ Ruggero, quem mais poderia ter feito aquilo? Eu já vi em filmes que assombrações podem acender e apagar luzes, bater portas, descontrolar a televisão... – Apontei para a tela de LED suspensa na parede por um painel. – Sabe, fantasmas fazem esse tipo de coisa.

─ Definitivamente eu não sou um fantasma! – Retrucou nervoso.

Ele ficava agitando as mãos, andando de um lado para o outro assim como eu, pensando.

─ Pensa... Não aconteceu nada trágico na sua vida ultimamente?

Ruggero parou e me encarou.

─ Trágico? Como assim?

─ Tipo morrer? – Dei de ombros sem saber direito o que estava pensando ou dizendo. – Eu não sei... Um acidente, talvez.

─ EU NÃO ESTOU MORTO!

Balancei a cabeça.

─ Talvez aja uma luz... Olhe para a luz, siga a luz! – Falei de modo teatral imitando algum personagem que já vi na TV. – Siga a luz, Ruggero!

─ Quê?! Que luz? Está louca? – Guinchou.

Havia uma inquietação crescente no meu peito, porque eu definitivamente já não acreditava que fosse imaginação minha, não era possível que eu estivesse criando tudo aquilo.

Então ele tinha que ser uma assombração.

Apontei para ele.

─ Você precisa raciocinar. Pensa... – Cheguei mais perto e ele foi andando pra trás. – Você apareceu aqui do nada, eu não posso te tocar... Ninguém te vê...

─ Você me vê!

─ Talvez aja uma explicação... – Supus.

─ Eu acho que eu saberia se estivesse morto! – Falou com autoridade, porém meus olhos foram se arregalando gradativamente enquanto eu ia digerindo a cena na minha frente.

Ele estava parado no meio do sofá.

Quer dizer, não apenas parado... Ele havia atravessado o sofá e nem tinha percebido, da mesma forma como atravessou meu corpo na noite anterior.

─ Ruggero... – Disse com cautela e apontei discretamente para a metade exposta do seu corpo; A outra metade estava escondida dentro do sofá. – Você...

Ele olhou para baixo e agitou a cabeça veementemente se afastando do sofá vermelho e cambaleando como se estivesse bêbado.

Talvez atônito.

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora