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─ Não sei o que poderíamos ter para conversar. - Falei e fiquei imediatamente surpresa com a frieza da minha voz.

Assim como eu, Bianca também pareceu surpresa e levemente assustada com o meu tom, mas disfarçou com aquele maldito sorriso casual de sempre. Aquele sorriso que eu achava tão sincero.

Lia tinha nos deixado a sós e antes de sair me deu uma olhadela rápida e falou que estava me esperando no refeitório para almoçarmos juntas, e eu agradeci verbalmente e mentalmente, porque queria que Bianca percebesse que eu não precisava mais dela.

Apesar de que mesmo ferida e magoada, eu ainda me perguntava como seria - se ainda seríamos tão amigas e confidentes - se eu não tivesse ido embora.

Talvez, por mais doentio que parecesse, eu ainda sentisse falta dela.

─ Você agora fala com a Lia García? - Um toque de nojo em sua voz.

Senti meu corpo esquentar.

─ A Lia é uma pessoa incrível e que tem um caráter invejável.

─ Mas você sabe de quem ela é filha, Karol.

Cerrei os punhos ao redor do corpo e umedeci os lábios secos pelo ódio daquelas palavras.

Meu ódio era mais torrencial porque em algum momento na minha vida também fui como ela e isso começava a me corroer meus ossos.

Pelo canto de olho vi Ruggero parar ao lado dela e fitá-la com tanta amargura quanto era possível; me doeu pensar que ele também pudesse me olhar assim... Ele teria me olhado assim há um ano.

─ E também sei de quem você é filha... Qual a importância disso? - Cruzei os braços.

Bianca arregalou levemente seus olhos acinzentados e colocou uma mecha de seu cabelo louro para trás da orelha, ganhando tempo ou escolhendo as palavras.

─ Minha mãe não é como a dela, mas não vamos falar disso... - Comprimiu os lábios finos e abriu um leve sorriso em seguida. ─ Eu queria saber como você está. Já faz algum tempo que nós...

─ Estou perfeitamente bem. - Empinei o queixo e falei com convicção. - E realmente estou faminta, então se era só isso...

Ela segurou meu pulso. ─ Espera, eu queria me explicar... Karol, eu sei que não fui te ver no...

─ No sanatório. - Puxei meu braço e voltei para onde estava antes. - Pode falar 'sanatório', não tem problema pra mim.

─ Eu não quis ser insensível e nem... Quer dizer, eu quis ir te visitar, mas eu não sabia como... A morte da Valu me deixou desnorteada e depois você foi embora, então...

─ Então você seguiu sua vida.

Bianca assentiu vagamente.

Ela ainda continuava a mesma, era incrível.

O mesmo corpo magro demais, os traços delicados como de uma bailarina e os cabelos tão longos e amarelos que a faziam parecer uma Barbie; talvez ela quisesse parecer uma mesmo, porque, assim como eu, almejava a tão sonhada perfeição.

─ Se é por causa do Mike... Eu realmente quis te contar, mas eu não sabia como. Nós dois nos aproximamos, não foi nada de caso pensado, apenas foi acontecendo e acontecendo...

Igualmente a mim, Ruggero a olhava com impaciência.

Ele, inclusive, franziu bem o cenho e depois arqueou as grossas sobrancelhas, quase tão inconformado quanto eu.

─ Não precisa me explicar nada. - Garanti. - O Michael não me interessa mais, porque eu desejo que sejam felizes. Vocês se merecem.

─ Karol, não precisa se fazer de forte comigo, eu te conheço e eu posso te ajudar se você quiser. Talvez possamos...

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora