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Voltar para casa e deixá-lo naquele quarto frio foi a pior parte.

Eu não queria ir sabendo que uma parte minha havia ficado para trás, entretanto, também não podia morar no hospital até que seus olhos se abrissem, então, apesar de relutante, deixei que Amélia fosse comigo até a rodoviária e esperasse até o meu ônibus chegar.

Eu não havia dito que era de Bela Rosa, mas quando ela viu a passagem, não pude esconder, então contei apenas o básico e, apesar de curiosa para saber como Ruggero e eu nos conhecemos em tão pouco tempo que ele havia passado na cidade, consegui contornar a situação da melhor forma.

Não havia uma parte minha que conseguisse explicar tudo o que estava acontecendo, então era melhor omitir algumas coisas.

─ Este é meu número de celular... – Amélia me entregou um pequeno cartão branco quando eu já ia subindo no ônibus. ─ Ligue-me assim que chegar em casa, só para que eu fique tranquila, certo?

Abri um sorriso de agradecimento e entrei de uma vez no veículo para encontrar meu assento, pois minhas pernas não estavam suportando meu peso mais.

Meu mundo havia virado de cabeça para baixo e eu não conseguia parar de chorar. O choro era a única coisa que eu podia fazer no meio daquele turbilhão de acontecimentos que se interligavam e arrancavam meu fôlego.

Eu estava ciente de que as pessoas me olhavam por causa dos meus soluços, mas ignorei a todos.

Assim que me sentei, virei de lado e acenei para Amélia até que não pude vê-la mais por causa da curva que o ônibus fez para pegar a rodovia.

─ Amor, não chora... – Ruggero falou em determinado momento da viagem de volta. ─ Não gosto de te ver assim.

Ele estava sentado no banco do meu lado e seu rosto estava encostado no encosto do banco para que ficasse frente a frente com o meu.

Queria que ele me envolvesse em seus braços e me aquecesse com o calor de sua pele, varrendo para longe todas as minhas agonias.

Mas sempre havia uma barreira entre nós.

─ Sabe... – Umedeci os lábios ressecados e funguei. ─ Eu estava pensando aqui...

─ Me conte tudo que se passa por sua cabeça, Linda.

─ Se você tivesse me alcançado lá no shopping, provavelmente, Valentina e eu não teríamos saído naquele momento... – Me encolhi um pouco e quando falei novamente minha voz estava mais baixa. ─ E ela estaria viva... Você estaria bem e nós...

─ Não podemos dizer como teria sido o futuro...

─ Eu sei. – E isso me irritava. ─ Mas, e se tudo tivesse sido diferente? Se eu tivesse te visto também?

Ele abriu um sorriso de canto.

─ Você teria se apaixonado por meus lindos olhos. – Gracejou daquele jeito Don Juan dele.

E eu ri, apesar das lágrimas.

Eu queria tanto rebater suas palavras, mas só conseguia pensar em como teria sido se eu o tivesse visto, se tivesse falado com ele, se tivesse... Se.

Sempre o 'se'.

Nossa história só se baseia em suposições de coisas que não aconteceram e, aos pouquinhos, a irritação em relação a isso vai crescendo.

Sinto-me profundamente furiosa comigo mesma por não ter olhado para trás naquele dia, por não ter visto o belo rapaz que me olhava com paixão, por não ter sido mais atenta e olhado além da tela do meu celular...

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora