10

635 74 250
                                    

Socorro, eu gritei para dentro ao invés de esbravejar para fora.

As pessoas iam passando por nós e isso dificultou ainda mais a minha tentativa estúpida de ficar de pé.

─Você está bem? – Ele perguntou com a testa franzida. – Garota, o que aconteceu?

Aquela voz. Maldita voz.

Eu odiava aquela voz. Odiava. Odiava com fúria.

─ Sai de perto de mim. – Rosnei com a voz fraca quando ele se abaixou para tentar me ajudar. ─ Sai daqui!

Ele paralisou olhando no fundo dos meus olhos apavorados, mas percebi imediatamente que ele sequer se lembrava do que havia feito.

Claro.

Estava podre de drogas naquele dia... Mas isso não justificava.

Eu o odiava tanto quanto o temia.

Consegui ficar de pé, mas a minha garganta ardia e a minha voz parecia unhas arranhando uma lousa.

Eu queria gritar.

─ Porque está me olhando assim, menina?

─ Você tinha que estar preso... – A ficha foi caindo. – Meus pais disseram que você estava preso.

Ele recuou um passo e esbarrou em alguém.

─O quê?

─ VOCÊ MATOU A MINHA AMIGA! – As palavras saiam como respingos de sangue que manchavam tudo, deixando claro a dor que causava. ─ socorro... socorro!

Fui cambaleando para trás com a palma da mão na parede.

As pessoas iam se chegando dominadas pela curiosidade dos meus gritos, mas ninguém parecia realmente entender o desespero daquele momento e o quão perigoso aquele homem era...

Sai tropeçando nos meus próprios pés, me embrenhando entre corpos conhecidos, desejando poder desaparecer, fugir, chamar a polícia...

Alguém tinha que fazer alguma coisa!

─ Do que ela está falando? – Alguém falou.

─ É aquele homem... – Outro apontou.

─ E-eu não sei do que ela está falando... – Podia ouvi-lo.

─ Garota? Garota? O que aconteceu? – Tentaram me segurar, mas me desenrosquei daquelas mãos e sai praticamente patinando no piso liso até cair de joelhos perto das escadas-rolantes.

─ Karol?

Mãos me tocaram novamente e eu me esquivei tentando ficar de pé novamente.

─ Karol, sou eu. A Lia.

Olhei-a com desespero.

─ É ele... – Grunhi. – É ele, Lia... É ele.

Ela olhou por cima dos ombros e eu tentei fazer o mesmo já que havia conseguido ficar em pé, mas havia muita gente tampando a visão, falando coisas desconexas e não permitindo que ele saísse dali.

Eu tinha que fazer alguma coisa.

Mas as imagens daquele dia...

Ele nos agarrou por ali mesmo... Numa rua atrás do shopping... tentando nos roubar... odiando que estivéssemos nervosas e tivéssemos gritado por ajuda... Aquilo foi o estopim para seu surto de ódio colossal... Ele tentou nos matar.

Ele a matou.

E ele estava solto.

Livre.

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora