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Quando o sábado chegou naquela semana, mamãe insistiu que fôssemos comprar o tal celular para mim, mas eu não estava com a mínima vontade.

Sentia-me exaurida com tudo que havia acontecido durante a semana e era especialmente esquisito conviver com Ruggero, principalmente porque as coisas estavam estranhas entre nós, porém, de certa forma, achei bom já que usaria o fim de semana para ajudá-lo a descobrir se estava morto ou não, assim quando ele se fosse, não haveria dores de uma despedida.

Eu não aguentaria mais ter que dar adeus a alguém que gostava, por isso eu não podia gostar dele.

Aliás, já bastava Lia e toda sua alegria contagiante que me fazia ficar com certa saudade dos meus momentos sozinha, já que ela sempre estava comigo na escola e até fora dela, pois havíamos saído para tomar sorvete depois da aula.

Apesar das pessoas nos olhando de forma atravessada, conseguimos aproveitar um pouquinho. Ela não era tão inconveniente, mesmo que falasse muito.

No fim das contas, eu só queria ser uma tartaruga e me enfiar dentro do meu casco protetor onde eu deixaria de existir por algumas horas; só o tempo suficiente para que as coisas entrassem no eixo certinho e eu pudesse pensar com clareza.

Entretanto, mamãe continuava remexendo no meu armário procurando algo para mim, para que fôssemos ao shopping juntas, já que papai tinha ido levar Lica para o cinema com umas amiguinhas.

─ O que acha desse vestidinho? – Ela segurava o cabide cor-de-rosa na frente do corpo e o tecido floral do meu vestido a cobria. ─ Você sempre ficou linda com estampas florais, Filha.

Eu estava sentada na cama com uma toalha enrolada no corpo e a segurava com força, pois Ruggero estava bem ali sentado no parapeito da janela nos observando com certo humor no olhar.

─ Mamãe, de verdade, eu me viro bem sem celular...

─ Nada disso, você é uma adolescente e os adolescentes amam celulares. – Retrucou. – E eu acho que você merece, pois você até falou que está fazendo amigos. Deve querer conversar com todos.

Ruggero deu uma risadinha.

Idiota!

Sim, eu tinha feito amigos.

Quer dizer, Lica era minha amiga – eu achava – e Jorge vivia sorrindo pra mim e até havíamos almoçado juntos, mesmo que Ruggero ficasse na mesa ao lado nos encarando... E além deles, eu fiz um trabalho na sala de aula com um pessoal divertido – excluídos? Sim. Mas muito legais.

Eu estava me enturmando. Mas definitivamente não iria ficar horas e horas com eles no celular.

─ Eu agradeço, mas talvez você tenha coisas para fazer e eu não quero te incomodar. – Respirei fundo. A Karol de antes nunca recusaria um celular. Nunca mesmo. Abri um sorriso. ─ Na verdade... Bom... Eu estava pensando se podia ir ao shopping com uma amiga. Você ficaria triste se eu fosse com outra pessoa?

Mamãe arregalou seus lindos olhos negros e abriu um sorrisão como se estivesse sentindo-se aliviada ou talvez ela estivesse percebendo que tudo estava voltando ao normal, finalmente.

─ Você e a Bianca fizeram as pazes? Ai que bom! – Guinchou feliz. – Eu sei que a mãe dela é uma pessoa difícil, mas você e a Bianca sempre se amaram tanto e...

─ Não. – Sorri da melhor forma que pude. – Mamãe, eu e a Bianca não estamos mais próximas. Acho que seguimos outros caminhos, entende? Mas está tudo bem. Eu juro.

─ Ela é uma vaca! – Ruggero falou como se minha mãe pudesse ouvi-lo.

Fiz uma careta sutil para ele.

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora