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Ficamos o resto da manhã inteira procurando nos obituários de várias cidades o nome dele, paramos apenas quando precisei esquentar um pedaço de lasanha para almoçar e em seguida voltamos para o notebook, cada vez mais tensos, ansiosos e ligeiramente convencidos de que essa tarefa só se tornaria mais difícil.

─ Talvez eu tenha sido enterrado como indigente. - Ele sugeriu a certa altura.

Ergui os olhos da tela do notebook e franzi a testa pra ele.

─ Claro que não. Só precisamos ter paciência e continuar.

─ Certo...

As buscas duraram mais algumas horas, porém precisei cessá-las quando papai e Lica chegaram para almoçar.

Eu precisei explicar o que havia acontecido na escola, porém deixei de fora a brincadeirinha idiota que fizeram comigo, porque sinceramente eu não queria preocupar ninguém com isso. Eu daria um jeito de contornar essa situação ou simplesmente ignorá-la até que parassem.

Se a cidade sabia do que tinha acontecido comigo, ok, mas isso não podia me intimidar, por mais que a idéia de voltar ao colégio me fizesse sentir dores no estômago.

─ Que legal! - Lica exclamou com seus olhos brilhantes. - Deve ter sido irado ver a lâmpada explodindo!

Com o canto de olho vi Ruggero fazer uma expressão de contentamento e automaticamente revirei os olhos.

─ Foi perigoso. - Papai falou cauteloso. - O rapaz se machucou muito?

Umedeci os lábios.

─ Acho que ele vai ficar bem. Talvez precise de alguns pontos na cabeça, mas acho que vai ficar bem.

Sorte a dele, infelizmente - Escutei Ruggero sussurrar do outro lado da sala.

─ Sorte a dele. - Meu pai disse. - A diretoria precisa ficar mais atenta com essas coisas, afinal a escola passou por uma manutenção há pouco tempo, essas coisas não deviam acontecer.

Encolhi os ombros fazendo-me de desentendida.

─ Também acho... - comentei.

Passei o restante da tarde com a Lica na sala, assistindo TV, respondendo às suas perguntas sobre como tinha sido a explosão - mesmo que eu nem tivesse visto, porém Ruggero foi sussurrando pra mim toda a cena -, e, lógico, ela quis saber sobre os garotos...

Em que momento ela havia deixado as bonecas de lado e começado a se interessar por garotos?

─ Karol, eu não brinco de boneca já faz muito tempo. - Ela disse revirando os olhos.

Olhei por cima dos ombros e vi papai falando ao telefone na cozinha enquanto tentava lavar os pratos ao mesmo tempo, quase sem sucesso.

Voltei a olhá-la.

─ Ah não? - Refleti. - E... hum... Você por acaso está de olho em algum garotinho da sua sala?

Minha irmã que estava enrolando uma mecha do cabelo no dedo ficou visivelmente ruborizada e eu quis rir.

─ Estamos falando dos garotos da sua sala! - Ela rebateu, se esquivando. - Não ficou afim de nenhum?

Desviei o olhar e encarei minhas mãos, depois a televisão e por fim olhei para Ruggero que parecia bem atento a nossa conversa.

Me senti instantaneamente incomodada.

Garotos...

Eu não pensava mais em garotos - pelo menos nesse meio tempo - porque eu definitivamente não estava pronta para relacionamentos, além do mais, o único cara que eu gostava estava namorando a minha ex-amiga.
Então, aparentemente eu não tinha sorte com essas coisas...

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora