Convivi por muito tempo com um buraco enorme no peito, uma ferida aberta que toda vez que ousava cicatrizar, algo acontecia e tudo simplesmente voltava a ficar inflamado, sangrando, se alargando e me deixando incompleta. Solta. Despedaçada.
Eu nunca havia beijado antes. Nunca. Sequer saberia dizer se aquilo contava com um beijo, já que nem era real, mas, me agarrei à ele, tentando me manter equilibrada na corda bamba de emoções que me mantinha sóbria, completa.
Ruggero me mantinha inteira.
Por muito tempo imaginei como seria beijar Mike, como seria quando ele se declarasse e nossos lábios se tocassem no torpor dos sentimentos ensaiáveis, porém, nada, nenhuma das minhas imaginações chegou perto do que senti nos braços de Ruggero, na boca dele, no toque febril de sua pele, na maciez de seus lábios e na quentura de sua língua na minha.
Aquilo era a prova de fogo, o desenlace que poderia nos separar para sempre, o motivo pelo qual o feitiço que havia entre nós se quebraria, entretanto nada disso me assustava.
Beijá-lo era tudo que eu conseguia fazer.
Uma de suas mãos estava na minha cintura e a outra estava afundada nos meus cabelos e eu sequer saberia dizer o que estava acontecendo em volta, porque o mundo ficou silencioso, abstrato, enevoado.
Nossas bocas se afastaram alguns centímetros e ele sorriu com os olhos fechados.
Eu ainda tentava controlar minha respiração e me manter de pé ao mesmo tempo.
─ Você me beijou. – Murmurei atônita.
Meus olhos estavam úmidos como se eu estivesse prestes a chorar, havia um nó na minha garganta, mas também sentia uma vontade absurda de sorrir. Tudo ao mesmo tempo.
─ Posso te beijar de novo se estiver duvidando. – Riu.
Meu rosto estava tão quente, mas eu continuava olhando para ele, me impedia de desviar o olhar ou de soltá-lo. Minhas mãos estavam agarrando firme sua camisa.
A água que cobria quase metade do nosso corpo nem parecia existir, na verdade, tudo a nossa volta estava desfocado.
─ Cínico. – Sorri. ─ Eu nunca tinha beijado antes.
A mão de Ruggero encontrou uma mecha rebelde do meu cabelo que estava presa no meu cílio e a colocou para trás, esbarrando de leve os dedos contra o meu rosto.
─ Um fantasma? – Gracejou. ─ Isso é interessante, porque eu nunca tinha beijado uma garota que não existe no meu mundo.
Apesar de todos os sentimentos controversos que iam e vinham no meu peito, eu ri um pouco mais e apoiei minha testa no peito dele, fechando os olhos e pressionando os lábios com força, trazendo para o mais fundo da minha memória o sabor dele.
─ Você disse que...
─ Que estou apaixonado. – Ele sabia o que eu estava pensando. Claro. ─ Sim, eu estou e acho que descobri isso quando você me descreveu para a sua amiga, mas não quer dizer que eu já não estava antes, apenas quer dizer que sou muito burro de ter demorado tanto para perceber que sou seu.
Meu.
Agarrei sua camisa com mais força, amassando o tecido contra os meus dedos, mantendo os olhos fechados com ainda mais afinco.
Meu.
─ Sabe que não pode acontecer nada entre nós.
Engoli em seco.
Aquelas palavras doíam, mas precisavam ser ditas.
Tinham que ser ditas.
─ Eu sei. – Suspirou, dava para sentir seu corpo cedendo com a frustração que também era minha. ─ Mas isso não me impede de ser apaixonado por...
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A Bela Rosa {Vol. 1}
FanfictionQuando a minha vida virou-se de ponta cabeça me entreguei nos braços da morte, desejando fortemente que aquele fosse o fim, porque assim, talvez, a dor causada pelas imagens que discorriam na frente dos meus olhos pudesse ser um pouco menos aterrado...