13

519 81 135
                                    

De tudo que eu poderia ter dito naquele dia, a única que berrei foi a que tinha que ficar em segredo.

Ruggero, apesar de real para mim e para meus hormônios traidores, não era nada além de um motivo para que o Bonaventura voltasse a me receber em suas instalações opacas; ou seja, ninguém poderia saber sobre o meu fantasma sem que isso me arrancasse tudo que consegui até agora.

Olhei sutilmente para ele que já estava de pé e podia sentir facilmente a força de seus pensamentos, mas me obriguei a abrir um sorriso para Lia.

Um sorriso que fez minhas bochechas doerem.

─Hã? – Quase engasguei.

─ Ruggero. – Lia repetiu devagar. – Foi o nome que você falou. Não se lembra?

Passei as mãos pelos cabelos e comecei a sorrir mais, muito mais. Estava quase histérica.

─ Lembrar? Não. Não lembro de nada. – Torci a boca. ─ Ruggero? Não. Não conheço.

Eu queria que ela acreditasse em mim com todas as forças possíveis. Queria que nem cogitasse a idéia de pensar que eu estava mentindo, porque, se ela pensasse algo assim, só Deus saberia o que ela podia sair dizendo.

Gostar muito dela não me fazia ficar menos apavorada com a idéia de que a história sobre Ruggero se tornasse pauta na cidade.

─ Karol, você chamou por esse cara. – Insistiu. – Eu ouvi perfeitamente. Você ficou apavorada por ele, ficava repetindo que ele ia se machucar, chamava por ele com tanto desespero... Não se lembra mesmo?

É claro que eu me lembrava.

Eu me lembrava de tudo que tinha haver com Ruggero.

Podia senti-lo chegando mais perto, mas prendi a respiração e revirei a mente em busca de algo plausível para falar.

Não encontrava nada, porque a sombra do pesadelo ainda pairava nas minhas memórias.

─ Não sei do que está falando. – Meus lábios tremiam. ─ Ontem foi um dia terrível e...

─ É, foi horrível. – Suspirou, pensativa. ─ Eu ouvi os seus pais falando com a polícia ontem lá no shopping.

Franzi o cenho.

─ Meus pais?

─ Sim. Eles estavam falando sobre o tal cara que morreu... – Lia parecia escolher as palavras que ia pronunciar. ─ Foi aquele homem que matou a Valentina, não foi?

Ah sim.

Aquelas memórias eram dolorosas e afiadas, rasgavam tudo dentro de mim sempre que eu as invocava.

─ Foi. – Murmurei. – Ele a matou.

Vi Lia se levantar do sofá e vir na minha direção, ela passou por Ruggero sem sequer triscá-lo e me puxou para um abraço apertado e muito bem-vindo.

Deixei que suas mãos acariciassem minhas costas e cabelos enquanto meu rosto descansava em seu ombro, porque lembrar de tudo aquilo só me fazia querer morrer, mas não era a minha melhor opção no momento.

─Sinto muito que tenha passado por isso. – Ela falou baixinho. ─ Sinto muito que todos te julguem e te machuquem ainda mais, mas agora você pode contar comigo, tá? Eu te ajudo.

Fechei os olhos por um mísero segundo e deixei que o peso das minhas dores se aliviassem um pouco, porque por mais estranho que pudesse parecer, era como se eu estivesse esperando aquelas palavras desde sempre.

Quando abri os olhos, vi Ruggero sorrindo e assentindo positivamente para mim e, só por um instante, desejei que ele estivesse ali assim como Lia estava.

A Bela Rosa {Vol. 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora