Prólogo

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Havia acabado de terminar uma missão quando ela me chamou. Uma mulher que parecia saída dos cartazes de anos cinquenta. De visual sempre impecável, aparência quase divina de tão bonita. As roupas? Davam vontade de matá-la e rasgar todas por inveja de tão bonitas. E antes que você se pergunte daí, quem é ela?

Deixe-me apresentá-la da forma correta. A puta da minha chefe, também chamada de cadela maluca ou psicotica, que chamamos apenas de Gestora quando ela está presente.

— Sei que é tarde, coelhinha. — Gestora comentou me medindo de cima a baixo.

— Não é como se eu tivesse escolha senão vir até você como um cãozinho bonzinho, né? — digo com sarcasmo chutando a cadeira que estava na minha frente.

Se mamãe me visse agora provavelmente me colocaria de castigo, foi o que pensei pela primeira vez em anos nela.

— Como sempre absolutamente correta, coelhinha. — Gestora observa com seu sorriso cruel em seu rosto perfeito, num contraste assustador.

Desde que Agnes morreu, por conta de um maldito câncer, meu pai, Hazel simplesmente desistiu de viver. Com isso, enquanto ele trabalhava, bebia e mergulhava no fundo do poço, fazendo de lá uma morada, esquecendo que tinha uma filha de oito anos para cuidar, eu decidi fazer aquilo que achei certo:

Voltar no tempo para quando mamãe estava viva para pedir colo a ela. Uma ideia de merda, mas foquem no detalhe de que eu tinha oito anos, nenhum bom senso, nem um pouco de inteligência. Caindo no radar da comissão por uso indevido da maleta do tempo.

Que papai tinha duas e NUNCA me disse que não podia usar aquela merda! Em resumo, tinha oito anos, estava com meu ursinho senhor orelhinhas, sem perspectiva nenhuma e estava muito encrencada.

Até que sugeri de ajudar em qualquer coisa pra pagar pela maleta, que burra pra caralho joguei num rio e tentei fugir. Entrando naquela zona que deveria ser responsável por cuidar do tempo.

— O que você quer de mim, Gestora? — falando com falso respeito, não consigo me conter de deixar transparente em meus olhos o ódio pelo sono interrompido.

Passei dias numa maldita montanha sem nem uma privada e shampoo pra dar um jeito no meu cabelo. Minhas unhas? Muito mal sobreviveram a minha luta contra a porra de um urso pra um cientista babaca achar alguma erva estúpida a mando da comissão. Eu quase morri! E um aumento? Banheiro privativo? Um salário maior? Mais liberdade? Nada! Não ganhei nem um muito obrigada por isso.

— Preciso que vá até esse lugar e tome informações desse alvo. — pediu sutil entregando um papel com algo escrito em letra perfeita.

Furiosa, pois aquela vagabunda não tinha defeito nenhum, li o papel com um endereço, ano e o nome Cinco Hargreeve escrito abrindo e fechando minha boca depressa.

— Esse cara é...? — digo incrédula tentando disfarçar meu sorriso.

Não podia deixar claro que havia gostado de alguma coisa, caso contrário ela apenas me olhava com irritação e mudava a missão para algo que eu fosse detestar, provando que não importava o que eu fizesse era uma marionete com poderes para ser usada da forma que a Gestora bem entendesse.

— Não se aproxime muito. Apenas veja como ele está indo... Destesto pensar que ele possa ser contratado por outros, mas. Meu amado número Cinco é rebelde até o último fio de cabelo, preciso estar sempre um passo a frente. — disse como se fossem próximos.

Ideia que fez meu estômago protestar com nojo do que se formou em minha mente. Eca.

— Sim senhora. Onde estão meus seniores? — pergunto ao notar nenhum deles presente na reunião.

Éramos apenas nós duas e todos sabiam que parte da minha sentença era não trabalhar sem supervisão de alguém mais antigo.

— Cha Cha e Gretel tem mais o que fazer. Não me diga que não consegue, coelhinha?

Irritada, amasso o papel na minha mão e saio sem dizer nada, não pensando muito antes de pegar a maleta deixada sobre a mesa da Gestora e sair porta a fora.

Tendo a programado e chegado no lugar, atraindo olhares pela rua, pois usava uma camisola preta com detalhes em prata além de estar descalça segurando uma maleta.

Que se foda eles, penso ao ignorar o homem que me olhava indiscreto com uma mulher ao lado dele. Com isso vou para os fundos da casa do endereço, deixo minha maleta escondida atrás de uns arbustos e mudo de forma me pondo a voar sobre o lugar.

Com a aparência de uma coruja vejo toda a casa, e voo até a parar na única janela aberta uma hora daquelas, vendo um rapaz irritado discutindo com um homem enorme num quarto.

— Você é...! O que porra uma coruja faz no teu quarto, Cinco? — perguntou o grandão assustado.

Se virando depressa, o rapaz vai até janela onde estava, me olhando nos olhos por uns bons segundos antes de levantar sua mão, com um sorriso discreto e eu curvar minha cabeça para receber o toque dele.

— Esse é dócil... Me pergunto de quem é. — comenta  sozinho passando a mão na minha cabeça.

Como ainda estava com sono, bocejei alto, o que me rendeu um leve arquear de sobrancelha do rapaz, antes de eu decidir sair do lugar, o mordendo na mão dele para deixar claro que não era tão dócil.

Só servindo para fazê-lo sorrir mais amplo, antes de levantar a mão e sair de perto, me dando espaço para sair. Aproveitar um pouco da liberdade antes que tivesse que voltar aquele lugar infernal que era a Comissão.

Um Pequeno Favor - FIVE COMPLETA Onde histórias criam vida. Descubra agora