Dor.
Era apenas isso que eu conseguia sentir depois da discussão que tive com o Lobão.
Nunca o tinha visto tão arrasado daquela maneira e eu via verdade em seus olhos e sofrimento em suas lágrimas.
Me joguei no sofá ainda sentindo o gosto amargo das minhas palavras na boca, um cansaço imenso me consumiu e eu me permiti fechar os para lembrar.
Lembrei de quando éramos crianças. Brincávamos juntos até cansar e depois íamos para o rio nadar até de noitinha. Mamãe sempre nos chamar pra tomar banho.
—Amor? — Dandara chegara e eu nem havia percebido. — Eu soube da briga na academia, você quer desabafar?
Como eu tinha sorte! Apesar de termos enfrentado muita coisa eu e Dandara finalmente havia dado certo e Miguel era o presente que ela me dera.
—Quero muito!— ela se sentou ao meu lado e eu deitei em seu colo tão acolhedor. — Você não sabe o tamanho do desespero que estou sentindo.
— Você acha que ele falou a verdade? — ela me olhou de forma indagadora enquanto acariciava os meus cabelos. — Do Lobão dá pra esperar tudo.
— Eu sei! Mas eu também o conheço. Ele tava magoado demais pra quem estava mentindo. O que me mata é que eu não sei o que aconteceu.
Ouvi o barulho de alguém abrindo a porta. Levantei do colo de Dandara para ver quem era.
—Pai? Eu posso... — Cobra estava na porta e parecia bastante acanhado.
Ele sempre ficava sem jeito quando tinha que falar de sentimentos.
— Bom, eu vou cuidar do Miguel que já está na hora do jantar dele.
Dandara me deu um beijo breve, acariciou os cabelos de Cobra e me lançou uma piscadela antes de sair.
— O senhor está bem? — ele me perguntou sem graça, coçando a cabeça.
— Vou ficar melhor se você vier me abraçar.
Vi ele abrindo um grande sorriso, quando eu o abracei. Ele ficou ali quietinho, como se tivesse matando a saudade de anos em que não havia tido um pai.
— Sabe o que eu acho? — Ele me disse baixinho como se estivesse com medo que eu o repreendesse.
— Pode falar,Cobra!— fiquei nervoso ao imaginar o que ele me diria.
— Que a Ana armou para acabar com a sua amizade com o Lobão.
Afastei ele de meus braços em um solavanco. Como ele ousava pensar isso da mãe das minhas filhas?
— Você está doido!? Da onde você tirou uma sandice dessas? —esbravejei.
Ele me olhou de forma dura e os seus olhos nada diziam. Ele simplesmente me mediu de cima, como se eu fosse um estranho e todo aquele carinho de pai e filho sumisse.
— É que eu não sou doido e sei juntar uma coisa na outra. Lobão não mentiu e você sabe disso. — ele esquecera de me chamar de senhor.— E a única interessada em acabar com a amizade de vocês era ela.
— A Ana era uma boa pessoa e jamais, jamais faria isso comigo, está me ouvindo? -— disse me aproximando dele tentando intimida-lo.
Cobra, ao invés de recuar, também se aproximou como se me desafiasse para uma luta.
— Bianquinha também é uma boa pessoa mas isso não a impediu de pagar o Pedro pra namorar a Karina, não é? — disse sorrindo torto.
— Fora daqui! — gritei.— Se você não têm respeito pela memória da mãe da suas irmãs é melhor você nem vir mais aqui.
Os olhos dele escureceram e sem me dizer palavra, ele saiu batendo a porta.
Eu jamais permitiria que alguém duvidasse do caráter de Ana, já que eu mesmo chegara a duvidar durante anos, quando pensei que ela me traíra com Renê e que a Karina não fosse a minha filha.
Passaram-se algumas horas e toda a família estava reunida para o jantar. Miguel brincava no cercadinho, enquanto nós jantavamos em silêncio. Um silêncio muito incomodo, diga-se de passagem.
—Cadê o Cobra, Gael? — Dandara perguntou se servindo de mais purê. — Achei que ele viesse para o jantar.
—Ele até viria, se o meu pai não tivesse expulsado ele de casa. — a ironia de Karina era palpável.
—Você expulsou o seu filho de casa, Gael!? —Dandara me olhou indignada.
— Alguma ele aprontou! — Bianca dissera. —Papai deve ter tido motivo.
—Nem vou falar nada sobre isso. Se o próprio filho ele expulsou, imagina eu que nem parente não sou. — João disse sorrindo mas percebi a sua indignação também.
—Como a Bianca disse, —mencionei. —eu tive os meus motivos.
—Eu sei qual é e eu concordo com ele. Vai me expulsar também? — Os olhos de Karina soltavam faíscas.
—Do que vocês estão falando? —Dandara perguntou.
—Cobra disse que a mamãe pode ter feito alguma coisa pra acabar com a amizade dele e do Lobão e eu acredito que ela tenha feito isso mesmo.
—Vocês estão loucos!? O Cobra tudo bem, porque ele é um delinquente, agora você, K? —Bianca havia se revoltado.
— É só juntar os pontos Bianca. Alguém armou e a única pessoa interessada era a mamãe!
—Já chega! —gritei. —Não foi a sua mãe! Deve ter outra explicação. Agora vamos jantar em paz?
— E o Cobra!? Vai jantar o quê? Já pensou nisso, Gael? — Dandara bateu o garfo na mesa.
Quando a minha esposa me lançava aquele olhar, significava apenas uma coisa: Você vai dormir no sofá pelos próximos meses se não ir agora consertar a sua burrada.
—Tá bom! Eu vou ir pedir desculpas ao Cobra e chama-lo pra jantar, ok?
— E não volta aqui sem ele, ok? Se não... — ela me olhou seriamente decidida.
Só de olhar para aquele sofá a minha coluna já reclamava.
Saí pela noite encontrando o QG fechado com apenas a luz dos fundos acesa e era lá que meu primogênito costumava dormir.
Bati na porta umas três vezes e nada. Já estava perdendo as esperanças quando ele acendeu a luz principal da loja e pegava as chaves para poder abrir.
— O que você quer? — ele me disse de forma calma porém ríspida.
— Você não... senhor! Eu sou seu pai e eu vim te pedir pra voltar pra casa comigo.
— Eu nunca mais ponho os meus pés naquela casa! — ele me falara com a voz trêmula de raiva. — Posso ser o mais desgraçado dos seres humanos mas eu tenho uma coisa chamada orgulho e você pai feriu o meu!
Quem me ferira foi ele com aquelas palavras tão duras! Ele nunca havia falado comigo daquela forma nem mesmo quando não sabíamos que éramos pai e filho.
—Filho, me perdoe! Eu não queria ter sido tao duro com você. Eu não queria...
—Me expulsar? — ele lançou um sorriso gelado. — Engraçado como a frase eu não queria sempre está na sua boca, não é? Foi assim com o Lobão também? Você não queria isso, eu não fiz por mal aquilo. O dono da verdade!
— Você está me desrespeitando! —disse perdendo um pouco a paciência.
— Então, pra eu não acabar de te desrespeitar vai embora AGORA!
Ele me apontara a rua com um olhar que eu não soube definir se era de ódio ou tristeza.
—Está me expulsando? — disse sem crer no que ele dissera.
—Só pra você saber qual é a sensação. Agora cai fora que amanhã eu trabalho.
Cobra batera a porta na minha cara, me deixando perplexo! Em menos de vinte e quatro horas eu havia brigado mais ainda com meu ex melhor amigo e com o meu filho. E pelo o que eu conhecia do meu menino eu iria passar muitas noites naquele maldito sofá.
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The True Story Of Nat [ Rewrite ]
Jugendliteratur[ Eu perdi a minha outra conta. Por isso, resolvi repostar a história aqui. Capa ilustrativa.] Essa história que vou lhes contar meus caros amigos, não é sobre o amor mas sim sobre o ódio. Dois anos se passaram desde que Nat decidira abandonar seu p...