A morte de nós dois.

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Era hoje! Lobão não iria me escapulir. Já estava tudo planejado. Eu iria segui- lo naquela noite para descobrir o que tanto ele fazia na rua de madrugada que retornava tão debilitado.

Tinha que agir naturalmente. Se ele desconfiasse jamais teria uma nova oportunidade.

— Dia'! — sentei na mesa próximo a dele e havia o banquete de sempre.

— Está bancando o coleguinha agora, porque? E já deixei claro que não quero você perto.

— Bom, nós já havíamos decidido sobre o café da manhã e chegado a  conclusão de que você não tem estômago pra tudo isso. Quanto a ser seu coleguinha, já passamos dessa fase. Estamos aqui em uma missão.

Lobão espetou com uma fúria tão grande o pedaço de manga, que ela se despedaçou ainda mais.

— A sua mulher ligou. Parece que a fresca da sua filha vai fazer uma peça essa semana. Avisa pra sua amada Dandara que eu ainda não aprendi a matar por telefone e que ela não precisa se preocupar por enquanto. — ele sorriu ameaçadoramente.

Não iria cair nas provocações dele. Com sorte teria um trunfo nas mãos em poucas horas.

O telefone dele tocou. Fingi não dá  atenção mas apurei bem os ouvidos. Reconheci a voz da Nat do outro lado da linha. Saí o mais depressa possível. É demais pra mente de um pai  escutar conversas íntimas de sua filha com o namorado, ainda mais sendo ele o seu ex melhor amigo.

Um tempo depois ouvi batidas secas na porta.

— Porque bateu? Não sabia que era tão educado.

— Bati e não foi por educação mas por que quem está pagando isso aqui sou eu e também porque não queria topar com você se trocando. Vamos fazer o que hoje?

— Em relação a investigação? — Lobão assentiu. -— Nada. Pelo menos não agora. Prometi a Bianca que estaria lá na apresentação. Em todo caso acho melhor começarmos a investigar lá agora. O que tinha que dar aqui já deu. Se ao menos você fosse dar uma prensa no velho Rubens.

— Já te disse que aquele velho está caducando! Otário é você que caí nas esparrelas dele. Vamos embora então. A gasolina é sua e eu dirijo.

— Vamos amanhã. O meu cartão ainda não foi liberado pra colocar a gasolina.

Lobão riu com desdém, provavelmente da minha falta de dinheiro.

Mal sabia ele que eu não só tinha o limite do cartão, como dinheiro suficiente pra pagar gasolina de ir e vir duas vezes. Era uma desculpa, queria só mais uma noite para ver o que ele faria.

O dia se arrastou como se todos os relógios tivessem combinados de andar em câmera lenta.

Comecei a imaginar como eu faria para pega-lo. Lobão não ia até meu quarto pra verificar se eu estava dormindo. Bastava eu fazer muito silêncio e ele iria concluir que eu estava travado no sono. Depois era só apanhar um táxi que eu já deixaria de prontidão, assim que ele saísse pelo elevador, eu pegaria a escada. Não havia muito degraus para descer.

Quando bateu meia-noite e meia, eu  desliguei a tv, despi o pijama e coloquei roupas de sair. Eu já havia pedido o jantar e fui atender com roupas de dormir. Ele com certeza iria achar que eu não saíria mais. Me embrulhei nas cobertas até o pescoço e aguardei.

Como um gato pisando macio, vi ele abrindo a porta devagar para não fazer barulho. Levantei pé ante pé, assim que ele bateu a porta eu saí atrás rezando pra ele não me ver.

Ignorando o peito ardendo pelo esforço, desci desembalado as escadarias. Quando cheguei embaixo quase dei de cara com ele saindo do elevador mas Lobão estava tão absorto nos seus pensamentos e com uma certa tristeza no olhar que nem reparou em mim.

The True Story Of Nat [ Rewrite ]Onde histórias criam vida. Descubra agora