Ciúmes.

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— Cadê a Nat, pai?

Já havia duas semanas que Nat não aparecia na academia e eu não havia tido coragem pra contar a ninguém o que havia acontecido em sua casa.

— Não sei, Karina! Deixei ela casa e nunca mais ela deu notícias. — estava mentindo e eu odiava mentir.

—Muito estranho! Ela nunca foi de desistir.

— E eu não sou mesmo!

Me surpreendi! Nat aparecera apesar de ter me dito que nunca mais iria pôr os pés na academia.

— O que você faz aqui? —disse atônito.

— Ela veio treinar.

— Não só por isso Karina, eu vim dizer para o seu pai que eu já entendi o recado que ele me deu.

Gelei! Ela contaria tudo.

— Que recado? O que você fez, pai?

—Nada! Eu não fiz nada com ela.

— É verdade, ele não fez nada. Só me disse que eu podia treinar aqui tranquila e que ninguém  iria me atrapalhar, não é?

Ela me olhou com ar de ameaça. Não havia o que fazer, só consentir.

— Então, é isso. Já pode
ir. As duas.

Quando Nat e Karina sairam eu desabei em minha cadeira. Ela me ameaçara e não desistiria fácil e eu temia que  ela estragasse a  felicidade de minha filha e isso eu não deixaria nunca.

Saí da minha sala decidido.

— Tenho um comunicado a fazer. — todos me olharam atentos.

— A partir de hoje, eu irei treinar a Nat. Apenas eu e ela.

Todos olharam pra mim e pra ela, esperando que alguem dissesse algo.

— Como assim treinar só a Nat? Você vai me treinar também?

Karina me olhou com apreensão. Eu não resistiria ao seu olhar.

— Vou sim. Irei treinar as duas pessoalmente.

— No caso só uma não é, Mestre? Por que eu não vou treinar com o senhor.

— Eu não te perguntei se você quer Nat, eu disse que vai. Eu faço questão.

— Se você faz questão, tudo bem.

Ela me deu a mesma olhada que me deu em sua casa.

— Bom então amanhã começamos. Karina de manhã e você a tarde.

— Por que eu e Nat não podemos ser na mesma hora?

— Por que você faz faculdade e ela trabalha. Agora, quero ver todo mundo se mexendo!

Um a um meus alunos voltaram a treinar mas percebi que Duca não se moveu. Ele observava Nat e me lançava alguns olhares inquisitivos.

— Que foi!? —perguntei ríspido. Odiava que me questionassem mesmo que fosse pelo o olhar.

—Nada, Mestre! Eu vou treinar.

Nao era só ele. A  academia inteira me olhava e eu só não entendia o porque de tanta inquietação.

Quando o treino acabou, fui pra casa e passando pela praça, vi meu filho sentado no banco pensando. Decidi ir  falar com ele.

— Filho?— sentei ao seu lado.

— O que você quer? — ele me disse em um tom triste e seco.

—Saber o que está acontecendo. Você está triste, distante, chegou lá em casa com cara de choro e a Karina não me disse nada. Então me fala: O que houve?

— Nada que te diz respeito! Agora dá licença.

— Para com essa marra! Você é meu filho e quero que você me perdoe e conte comigo para o que for.

Me aproximei dele e o abracei. Cobra se deixou abraçar e eu senti lágrimas  quente molharem a minha camisa. Ele estava realmente sofrendo.

— A Jade terminou comigo e amanhã  vamos assinar a papelada do divórcio. Acabou pai, acabou!

Não acreditava no que ouvia. Meu filho sofrendo muito e eu ali, sem saber de nada.

— Filho, se separar é difícil mas bater de frente é pior. Assine os papéis e dê tempo ao tempo.

— Você acha mesmo que tenho desistir dela? — ele falou secando os olhos.

— Desistir não mas esperar. Não posso te garantir que ela vai voltar mas se você não aceitar a vontade dela só vai conseguir que ela tenha raiva de você.

— Está bem, pai! Vou dar um tempo pra ela. Vou até voltar pra Goiânia, amanhã mesmo.

— O quê!? -— fiquei surpreso. —Você não vai sair de perto de mim. Não vou deixar isso nunca.

—Não precisa esse chilique todo. É só uma viagem.

— Noronha! É aqui do lado e dar pra esfriar a cabeça bem perto de mim e de quebra ainda volta bronzeado.

Cobra sorriu.

— Tá bom grudento, eu fico. Credo! bem que a pequena falou que você é possessivo.

— Possessivo!? Não! Só quero meus filhos perto de mim até eu morrer.

Nós rimos. Quando Cobra me olhou, percebi que sua tristeza diminuira. Estava mais sereno.

— Estou com fome e eu não aceito não como resposta. — disse apontando pra casa.

— Eu não recusei.

Enquanto íamos para casa, vi Nat colocando o capacete enquanto se preparava pra ir embora.

— Cuidado! A Dandara é brava.

— Eu não estava olhando pra ela.

— Estava sim. Todo mundo olha. Mas você olha com admiração de Mestre pra lutadora mas nem todo mundo pode achar isso. Principalmente a onça, digo Dandara.

— Vamos pra casa, rapaz! Não inventa problemas pelo amor de Deus.

Quando chegamos em casa, todos me olhavam e Dandara estava segurando uma faca com cara de poucos amigos.

— Nossa, o que foi?

— Quer dizer que você está dando em cima da Nat,Gael?

Olhei para Cobra, procurando reforço, enquanto ele pronunciou baixinho "um eu não disse?" com os olhos arregalados.

— Dá onde você tirou uma loucura dessas? A Nat é praticamente uma menina.

— Menina que deu em cima do Mestre e arrastou ele pra cama. E pode fazer isso com você também, esqueceu?

— Que isso, Bianca!? Você me respeita, hein? Está achando que eu sou o quê?

— Homem não é? — Dandara afirmara com raiva na voz.

— Dandara pelo amor de Deus! Olha o que você está dizendo. Eu e a Nat? Não tem cabimento.

— O que não vai ter cabimento é você me fazer de trouxa.

Dandara se aproximou ameaçadoramente, ainda segurando a faca.

— Se você pensa quê... Cale a boca! — ela disse quando tentei argumentar. —Que você vai ter uma caso e eu vou ficar sentada esperando a sua aventura acabar? Ah Gael, você esta bem enganado. Posso não entender de Muay Thai mas de fazer você em pedacinhos pode ter certeza plena de que eu entendo.

—Mas...

—Vamos almoçar.

— É que...

— A G O R A!

Olhei para Cobra e ele assentiu violentamente, sentamos e começamos a comer. Eu não tive coragem pra olhar mais ninguém naquela mesa.

The True Story Of Nat [ Rewrite ]Onde histórias criam vida. Descubra agora