O aviso de um anjo.

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Já havia me esquecido de como Goiânia era quente no verão. O sol já havia molhado toda a minha camisa e até agora nada. A única coisa que eu e Gael conseguimos foi uma sombra em um banco descascado em uma praça caindo aos pedaços.

— Que inferno! Rodamos a cidade inteira pra merda nenhuma. — bufei de ódio.

— Você achou o que? Que iríamos encontrar tudo em um dia e voltar a  tempo de assistir a novela das nove? Acorda! Até porque achei o rapaz da companhia telefônica muito suspeito.

O babaca do Gael tinha razão. O filho do dono da antiga companhia telefônica quase desmaiou quando falamos o nosso nome.

— Você quer dar uma prensa no moleque? — disse já imaginando meus dedos esmagando o pescoço magro do menino.

— Está ficando doido? Ele gritaria tanto que chamaria a atenção da cidade inteira. Até porquê é o pai que é da nossa época.

— Então vamos apertar o pai. Sabe lá o que o maldito está escondendo.

— Vamos ser racionais e agir com cautela. Se levantarmos suspeitas, ninguém vai falar nada pra gente. Me chama de louco mas aí tem coisa. Quem armou essa pra nós dois era barra pesada porque eu  nunca vi tanto medo como naquele menino.

Mais uma vez Gael tinha razão. O garoto estava tranquilo com cara de quem fumou uns baseados quando perguntamos sobre a antiga loja, já que a nova era de skates e roupas estranhas. Ele disse com o maior orgulho que havia mudado tudo e que seu pai finalmente acatara sua idéia de se livrar da companhia telefônica.

Quando ele escutou nossos nomes para anotar o recado, vi que ele não só perdeu a voz como entrou em pânico. Rápido como um raio ele se livrou da caneta e do papel dizendo que seu pai havia viajado e que não voltaria por tão cedo.

— Lembra aonde ficava a casa do dono da loja? — Gael balançou a cabeça afirmativamente. — Mais tarde vamos lá. Quero ver se o velho vai está viajando mesmo.

— Primeiro vamos tomar banho e almoçar. Não suporto mais esse calor.

Seguimos até o carro. Enquanto caminhávamos percebi que algumas pessoas nos encaravam e cochichavam. Gael também notou,ele me olhava de forma indagadora.

— Que diabos essa gente olha tanto pra gente, Lobão? Você fez alguma coisa?

— Eu é que sei! Olha, se antes eu tinha dúvida da armação, agora tenho certeza.

Quando chegamos ao hotel, tomamos um longo banho e comemos como dois animais. A viagem toda estava acabando comigo e a quimioterapia estava destruindo minhas energias. Logo nem mesmo ela faria efeito.

— Vamos? — Gael disse decidido.

— Vamos! — tentei bancar o forte mas o meu corpo pedia cama.

Invejei a saúde de Gael. Sabia que ele estava cansado mas nada se comparava a mim.

Dirigi o mais rápido possível. Confirmando minhas suspeitas o carro do velho dono da companhia estava na porta. Sorri para Gael. Esperaríamos a melhor hora para atacar.

Convenci Gael ficar de olho enquanto eu cochilava. Precisava de uma pausa ou teria outro chilique e eu não me perdoaria se isso acontecesse na frente do imbecil.

— Filho? Acorda. Preciso muito falar com você.

Quando abri os olhos, vi que não estava no carro mas sim em um campo cheio de flores. Me enchi de paz.

Avistei minha mãe ao longe. Era a mesma de quem eu me lembrava. Ainda possuía os mesmos olhos azuis, os cabelos negros até a cintura e o sorriso mais lindo que eu já vi.

The True Story Of Nat [ Rewrite ]Onde histórias criam vida. Descubra agora