Conselhos.

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Tentei dormir a noite inteira mas em vão. O dia já havia raiado e eu não conseguia esquecer.

Saber que Gael era meu pai destruiu todas minhas defesas. Me sentia vulnerável, ferida e ainda mais sozinha do que nunca.

Sempre sonhei com uma família bonita e feliz que me aconchegasse mas esse sonho era algo improvável que só tinha espaço nas vontades de uma menina triste.

Ódio fazia parte da minha infância difícil. Eu via as minhas coleguinhas de classe abraçadas aos seus pais, enquanto a minha mãe me tratava aos gritos e solavancos. Nunca entendi o motivo e agora eu sabia. Era por causa do Gael. Sempre ele.

Mas agora mais calma, pude analisar melhor a situação.

Ganhei dois irmãos queridos: Karina e Cobra. O peçonhento me trataria bem mas já a Karina eu duvidava muito. Ela ficaria sempre ao lado de Bianca.

Bianca! Meu deus ela era a minha irmã. O tempo inteiro eu e ela  disputando o amor do mesmo homem sem saber que o mesmo sangue corria por nossas veias. Como será que ela reagiu? Da pior forma possível, supus.

Tomei um banho frio. Já ia ligar pra o Max, quando ouvi a campainha tocar. Temi. Não queria ver ninguém.

— Quem é? — gritei sem me mover. Ninguém respondeu.

Seja lá quem fosse, queria falar comigo pessoalmente. Bufei de ódio. Teria que abrir a droga da porta.
Me surprrendi ao ver quem era.

— Posso entrar? — Cobra perguntava sem jeito. Talvez com medo que eu o rejeitasse.

— Pode sim. — disse dando espaço pra que ele entrasse.

— Só queria saber se você está bem.

— Estou tentando processar ainda. Não acredito que isso esteja acontecendo comigo.

— Nem eu. Mais uma irmã. Só não gostei porque não sou mais o primogênito.

Cobra sorriu pra mim. Era o sorriso mais sincero que eu poderia esperar. Ele estava realmente  feliz por eu ser irmã dele.

Me aproximei acanhada com medo que ele pudesse estar me testando, que fosse rir da minha ingenuidade por achar que ele gostava de mim mas aí ele fez melhor. Continuou sorrindo e me abraçou. Um cheiro gostoso e familiar invadiu minhas narinas.

— Quer chorar? — ele perguntou preocupado.

—Quero muito.

Desabei em seus braços. Chorei tudo até cansar e então deitei a cabeça no seu peito tentando me acalmar.

— Nat, o Gael é maneiro como pai. É grudento e ver tempestade em copo d'água mas sabe ser firmeza. Sei que vocês têm diferenças e eu também tenho com ele mas estamos remando pra gente dar certo. Espero que isso aconteça com vocês.

— Eu não quero nada com o Gael. Ele me ofendeu muito.

—  A coisa que ele mas faz é ofender, ainda mais porque ele não sabe lidar com gente de temperamento forte mas não afasta ele não. Ninguém vai cuidar de você como ele. Eu não estou te colocando pressão, porque cada um no seu tempo mas pensa antes de agir.

Pensei nas palavras do Cobra. Eu não podia me precipitar. O assunto era delicado demais.

— Fica sabendo Marrenta, que eu estou aqui e curti muito a ideia de você ser a minha irmã, sério mesmo. Vou te aproximar da pequena. Já a Bianca aí eu não garanto.

— Eu nem quero. Acho melhor eu evitar a Bianca por enquanto.

— Sábias palavras. Eu não sei lidar com ela e olha que eu nem dormi com o Duca, hein?

Sorrimos. Finalmente me senti em casa. Cobra e eu. Dois rejeitados pegos de surpresa pelo destino.

— Nat? — senti que Cobra voltou a ficar sem jeito.

—Pode perguntar.

—Você voltou com o Lobão porque? —Cobra perguntou baixinho como um segredo.

—Prometo que no dia que eu puder contar, você vai ser o primeiro a saber.

Fui sincera. Contaria tudo pra o Cobra mas não ali daquele jeito e acima de tudo não sem ter certeza.

Cobra balançou a cabeça positivamente ficando em silêncio. Ele me respeitava.

— Está com fome? — ele perguntou de repente.

—Um pouco, porquê? — não conseguia parar de sorrir com ele.

— Vamos comer cachorro-quente?

— A essa hora da manhã? — perguntei verificando o relógio. Eram nove e cinqüenta e seis.

— Por isso mesmo. Ninguém nunca come um dogão assim de manhã.

Concordei com um aceno de cabeça. Coloquei uma roupa qualquer, prendi o cabelo, peguei o capacete e o segui.

—Vamos pra aonde mesmo? — perguntei subindo na moto.

— Só me segue. Cada um na sua máquina, ok?

Começamos a pilotar com cautela. Cobra me mostrava o caminho
e eu seguia tranquila, já esquecida das minhas feridas abertas, pensando apenas na sorte de ter conseguido um irmão legal, até que escutei um terrível barulho de carro atrás de mim.

Em alta velocidade e bem na minha cola, o motorista corria desesperadamente. Tentei pilotar rápido, Cobra percebera a situação e começou a traçar um modo de me tirar da mira do carro que a essa altura já andava em zig zag. O motorista estava  realmente muito bêbado. Entrei em pânico!

Em uma tentativa frustrada de ultrapassar outro carro, o motorista bêbado entrou com tudo na minha pista sem me dar tempo para reagir.

Houve um baque terrível na minha moto. O meu corpo fora lançado para longe e eu senti um gosto amargo na minha boca enquanto os meus olhos  escureciam...

The True Story Of Nat [ Rewrite ]Onde histórias criam vida. Descubra agora