Ainda com o olhar fixado no gatinho em meus braços eu abro a porta sem me preocupar em quem seria.
Só levanto o olhar quando ouço a voz da pessoa que eu conhecia bem.
– Desculpa incomodar mas você viu um gato por... Aí meu Deus, Anjinha? Não acredito.
Não pode ser.
–Oliver? –pergunto com desdém.
–Olha só, você se lembra de mim – um sorriso sarcástico se forma em seu rosto enquanto ele se encosta na soleira da porta
Como eu iria esquecer?
– O que te fez voltar ao Coronado, Anjinha?
Reviro os olhos.
–É Isabelle, para de me chamar assim é ridículo – falo pronta pra fechar a porta sem responder a próxima pergunta.
– Acho que voltou para roubar meu gato – fala em um tom divertido, bem diferente do que eu conhecia.
Olho por de trás da coleira do gato e vejo que está escrito "Dono: Oliver".
Estendo o gato para ele que logo o pega fazendo carinho em seus pelos macios.
– Obrigada. Até mais, anjinha. A gente se esbarra por aí – ele da uma piscadela para mim e vira de costas.
Fecho a porta atrás de mim depois que ele começou a andar em direção a casa ao lado.
Oliver Smith, o responsável por fazer minha vida um inferno na época da escola.
Como todos bons inimigos, nossa história começou com uma linda amizade onde as mães eram melhores amigas e faziam de tudo para os filhos seguirem os mesmos caminhos.
Até os sete anos, o plano deu certo. Mas em um dia como todos os outros, resolvemos ir tomar sorvete no quarto dele enquanto brincávamos com os ursinhos de pelúcias.
Nem me lembro ao certo quando começou a briga pelo o restinho do sorvete que estava no pote. Geralmente nós sempre dividiamos, mas naquele dia ele não quis dividir o sorvete comigo.
Com cada um puxando de um lado do pote o pior aconteceu. A vasilha voou e todo o sorvete que já estava praticamente só a água caiu em cima do ursinho de pelúcia favorito dele.
O quarto de Oliver virou praticamente um ring de luta, até ele se estressar e me expulsar do cômodo e de sua vida.
No começo pensei que seria como as outras brigas, tudo se resolveria com um abraço e um beijo na bochecha. Mas na verdade aquela briga virou uma guerra.
Como forma de revanche, ele simplismente pintou todos os cabelos e roupas das minhas Barbies com tinta verde. Aquilo para mim foi como se ele tivesse anunciado a terceira guerra Mundial.
Na escola não conversavámos mais, as únicas palavras que trocamos eram insultos. Nossa única relação existente era o comprometimento de pregar pegadinhas um no outro.
Nossas mães até tentaram juntar nós dois no meu aniversário de dez anos, mas como consequência eu acabei minha festa com a cara enterrada no bolo.
Daí em diante foi só ladeira a baixo.
Resolvo parar de pensar no meu vizinho que curiosamente está repleto de músculo e vou dormir.
Estava tão cansada que já caio na cama praticamente dormindo e só acordo com o barulho do meu celular. Pego ele ainda sem tirar o rosto do meu travesseiro e levo ao meu ouvido.
– Alô? – minha voz sai rouca.
– Mana? Me desculpa por ter ido me despedir de você no aeroporto – diz eu suspiro.
– Tudo bem, Caroline. Já estou acostumada – falo e me sento na ponta da cama.
– Me desculpa mesmo. Mas e aí? Como está o Coronado?
– Exatamente como me lembrava.
Ouço a campainha tocar.
– Depois eu te ligo, ok?
– ok, beijo mana
Desligo o celular e olho para a janela que tem a vista para o mar e percebo que está praticamente anoitecendo.
Desço as escadas e abro a porta vendo Melary segurando várias sacolas. Pego algumas para ajuda-la.
– Pronta pra faxina? – faço uma careta e ela ri – Vamos, comigo aqui vai ser rápido e depois podemos pedir uma pizza.
Eu sei que não adianta discutir com Melary ainda mais quando o assunto é limpeza.
Ela me entrega uma sacola com alguns produtos e panos. Vou para a cozinha e abro todos os armários vendo que só estava literalmente o pó.
Antes que eu pudesse colocar os produtos nos panos, uma música alta começou a tocar. Olhei pela janela que ficava próximo a pia e consegui ver Oliver perto da janela de sua casa regulando seu som.
Bati no vidro chamado sua atenção, balancei minha mão pra cima e para baixo pedindo para ele abaixar, porque realmente a música era péssima.
Ele sorriu e abaixou. Bom, foi o que pensei já que no momento em que virei as costas a música voltou a ficar alta novamente.
Olhei para ele antes de sair em busca da minha caixa de som.
– Tá afim de ouvir uma música, Melary? – pergunto pra ela que limpava a sala.
– Aí vai começar tudo de novo – em uma cena dramática ela se joga para trás com a mão na cabeça.
Subi ao meu quarto e abri uma das malas que continha uma caixa de música e desci com ela para a cozinha.
Conectei meu celular e imediatamente lembrei de uma música que sempre me animava e trazia um vibe incrível. Não conheço ninguém que não goste.
"The laze song - Bruno Mars"
Coloquei o som no máximo cobrindo a música da casa ao lado e sorrio convencida de frente para janela fazendo a coreografia da música enquanto ele me olhava com os braços cruzados.
Oliver aumentou a música dele e eu não fiquei pra traz aumentando a minha. Ficamos nessa até Melary aparecer na cozinha e gritar.
– CHEGA – grita e olha para mim em seguida para Oliver – Abaixa, por favor minha cabeça vai explodir e as dos vizinhos também.
Ela tinha razão.
Abaixei minha música deixando em som ambiente, em seguida Melary olhou para Oliver e sibilou um "por favor" e como um passe de mágica ele também abaixou a música e saiu do rumo da janela.
– É sério? Mal chegou e já vai começar com essa implicância – pergunta e eu reviro os olhos.
– Ele começou – acuso.
– Ele só tá fazendo isso pra te implicar, esquece o Oliver já se passaram seis anos.
– É.. seis anos. Tem razão, não somos mais crianças.
– Obrigada.
°°°
Continua...
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Você De Novo? (Concluída).
Ficção AdolescenteDesde de pequena Isabelle sempre soube que o seu lugar era no Coranado, quando ela e sua família se mudaram para Nova Jersey a trabalho Isa prometeu para si mesma que um dia ela estaria de volta. Seis anos se passaram e finalmente ela conseguiu enfr...