Cap XVIII 🏳️‍🌈

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Por Yuuki

Talvez os tão esperados dias do Pedro tenham chegado.

Como poderia estar nesse estado com tão poucas horas passadas depois de se sentir a pessoa mais realizada e desejada do mundo?

Devem ter sido os remédios que lhe foram aplicados na emergência, capazes de derrubar um leão. Se sentia exausto, seus pés doíam como se estivesse pisando em pregos. E olhar Lucas com sua expressão de confusão só piorava tudo. Por isso não tinha energia pra nada, só conseguia nesse momento, pensar sobre sua emocionante vida.

Realmente acreditava que as pessoas só acostumavam-se às coisas boas. Porque para ele cada crise que tinha ao longo de todos esses anos o destruía.

Sua cabeça e corpo sofriam, logicamente, mas seu coração também. Se sentir dependente de todos, ser olhado com medo e logo depois com compaixão o corroía, se sentia inferior, incapaz.

Lucas nunca o olhara assim. Ele desejava seu corpo, era impossível negar seu olhar de veneração. Mas além disso, desejava conhecer, adentrar, em sua mente e em sua alma, o queria por inteiro. Sabia disso desde o início, pois seus olhos eram tão claros como o céu ensolarado. E ainda estava buscando compreender como haviam criado essa necessidade de um pelo outro em tão pouco tempo.

Nunca sentiu um sentimento assim e aquilo fazia bem ao seu ego, a sua alto estima, que no momento não era lá tão estimada assim. Pois diferente do sentimento intimidador de Pedro, o de Lucas era suave. Talvez não soubesse a pessoa boa que era, mas todos ao seu redor viam isso.

E o divertia às vezes ver o quanto ele se dedicava a adorá-lo, quando em sua mente, Yuuki que deveria ser grato por ter despertado tais sentimentos.

Pensou que deveria afastá-lo o quanto antes diversas vezes. Ainda era tempo, deveria permitir que Lucas vivesse uma vida normal e tranquila ao lado de uma boa pessoa. Ele merecia isso. E Yuuki não deveria se achar merecedor de ter alguém assim ao seu lado. Já tinha seus pais tão dedicados, e havia Pedro, que o encurralava em um canto e lhe sufocava com todo o seu doentio amor.

Talvez se fosse mais normal da cabeça fizesse isso - mas não era, era louco e deveria usufruir dos poucos direitos que tinha com isso - até ria de si por pensar assim.

Ria de Lucas também, por ele estar feliz achando que entrar em sua vida seria uma coisa boa. Mas se ele desejava, seu pedido lhe seria concedido.

Evidentemente não suportaria muito tempo e iria embora. Já possuía muitas pessoas que o aguentavam, mais um seria até milagre.

Dizem que se você fica muito próximo de pessoas loucas, acaba enlouquecendo também - bem, isso deveria ser verdade - Pois Yuuki via a sanidade da sua mãe indo por água abaixo cada vez mais. Se tornou paranóica e atormentava-o e ao pobre pai incontáveis vezes durante o dia, pois só aceitava cada mínima coisa se fosse de sua maneira.

Pedro também não era lá dos mais normais. Qualquer pessoa com um grau de obsessão tão grande por algo ou alguém e que perdurava por tantos anos assim não poderia bater bem.

E o que dava mais certeza disso a Yuuki era o fato de que mesmo sendo tão desejado por Pedro, ele nunca o havia forçado a nada. Quando criança mal se aproximava, ficava o olhando de longe e falando coisas que sabia que qualquer menino na sua idade iria se interessar. E só na adolescência passou a tocar sua mão ocasionalmente ou abracá-lo forte ao se despedir.

Quando Yuuki completou 16 anos, tomou a decisão que deveria dar seu primeiro beijo o mais rápido possível, e poucos dias depois, em uma de suas crises de mania, atacou Pedro quando o viu chegar no jardim de casa.

Pedro retribuiu o beijo imediatamente e o apertou contra si com força, adentrando sua boca com urgência e ansiedade, mas Yuuki logo voltou a razão e o empurrou com certa repulsa. Depois disso passou tempos sem lhe dirigir a palavra e Pedro aceitou sua decisão de forma submissa, mas o mesmo aconteceu depois, em tantas outras ocasiões.

Às vezes, entre suas crises maníacas, sua cabeça despertava desejos estranhos a ele, sentia o corpo queimando e uma urgência em aliviar-se. Então sempre que sentia isso, era a ele que recorria, só poderia ser ele, pois era o único homem conhecido, atraente e confiável com quem convivia, e nunca havia sentido a mínima atração pelas meninas da sua idade, outras mulheres.

Então, chegava como quem não quer nada e esperava até ficarem alguns minutos a sós, seja quando ele chegava em sua casa ou ia se despedir, então o beijava. Vezes com rapidez e intensidade e vezes devagar e com doçura.

Nunca passaram dos beijos e prensadas nas paredes. Pedro tinha consciência do estado de Yuuki e que ele só o procurava quando estava assim. Enquanto Yuuki, nunca teve desejo o suficiente para fazer mais que isso. E com o tempo, passou a se aliviar sozinho, não sentia mais vontade de fazer aquilo.

E o que já acontecia raramente, passou a não existir mais quando Yuuki já havia completado seus 20 anos. Sabia que Pedro não se desesperava e tentava algo, porque tinha a certeza que estavam destinados um ao outro mais cedo ou mais tarde, como uma promessa não dita, então esperava de bom gosto.

Já na sua casa, em sua cama, enquanto pensava na sua vida, no que já lhe havia acontecido, viu que a única opção era esperar também, Lucas iria assustar-se e ia embora em breve, e Yuuki só poderia usufruir dos dias bons ao seu lado enquanto isso.

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Só desejava que ele fosse antes de enlouquecer também.

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