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Lucas observou o quanto Haruto ficou abatido com a situação, sempre sorridente e buscando amenizar o humor de todos, amava demais o filho. E vê-lo sofrendo, o fez sofrer também.
- Me desculpe pelo que aconteceu, Lucas. Mas eu vou resolver tudo. - disse cabisbaixo.
- Haruto, eu sinto muito se ofendo falando isso, mas o jeito de Helena entristece Yuuki. E esse Pedro é muito estranho, o que ele quer?
- Sinceramente, eu também não sei. Pensei de início, quando se conheceram, que era um sentimento fraterno. Yuuki só tinha 12 anos, mas aparentava ter ainda menos na época. E logo depois nós descobrimos a sua doença e no início era extremamente difícil lidar com tudo. Mas Pedro permaneceu vindo aqui, dizendo ser por trabalho, pois eu quase não ia mais trabalhar.
- Ele tinha seus 24 anos - prosseguiu -, era muito bonito e esforçado, tanto que passou a ser meu braço direito. Helena era encantada por ele e ele por meu filho.
- Nós o acolhemos como a um filho mais velho, mas eu nunca o deixava sozinho com Yuuki. Nunca. Afinal, pra essas coisas, não podemos confiar nem no próprio sangue e nós nos conhecíamos a pouco tempo.
- Mas ele não parece gostar de Yuuki como um irmão. - Lucas disse em escárnio - ele é transparente até demais em relação a isso.
- Sim... - Haruto parecia estar lembrando de memórias distantes - Ele mudou com o tempo... ou talvez sempre foi assim e não percebemos. Mas eu gostava demais dele, de sua dedicação conosco e Helena nem se fala.
- E ele mudou como? - Lucas queria entender o que se passava na cabeça daquele homem.
- A primeira vez que achei tudo estranho, Yuuki tinha 14 anos. Pedro aparecia aqui quase diariamente e ficava o maior tempo possível. Então um dia, ele saiu mais cedo da empresa e eu nem notei, quando cheguei em casa, já no começo da noite, Helena estava terminando o jantar e subi as escadas sem falar com ela.
- Eu sabia que Yuuki estava deitado e fui logo vê-lo, já tinha alguns dias que estava em uma crise depressiva, todas as suas aulas aconteciam aqui mesmo nessa época e ele vivia medicado. Então quando cheguei a porta do quarto, ela estava entreaberta e eu vi Pedro sentado na cama ao lado de Yuuki que estava dormindo.
- Ele tocava seus cabelos e o olhava com tamanha adoração, que me arrepiou. Não fazia nada de errado e até deixou a porta aberta para provar isso. Mas a partir daquele momento, eu senti que todo seu carinho não era para com um "irmão mais novo".
- E os anos foram seguidos assim, eu tentava fazer com que ele me falasse alguma coisa, mas ele sempre se fechava e ao mesmo tempo nos tratava com uma consideração invejável, então não fui capaz de afastá-lo. Yuuki também nunca pareceu se importar, ao contrário, conforme foi ficando mais velho, deu cada vez menos importância a presença de Pedro, apesar da insistência de Helena para que sempre o tratasse muito bem.
Lucas ouviu tudo em silêncio, refletindo cada palavra. Yuuki nunca falou de Pedro, era como se não existisse, então o que o homem esperava? Que milagrosamente um dia, o menino que venerava a anos iria acordar apaixonado por ele? Se isso não aconteceu após tanto tempo, porque iria acontecer no futuro?
- Isso não é normal. Não é saudável, para ninguém. - conseguiu finalmente dizer.
Olhou em direção ao banheiro, antes que Yuuki pudesse ouvir algo, ou voltasse do banho, tirou as roupas que vestia rapidamente e vestiu as suas que estavam no chão.
- Eu preciso ... Eu estou indo agora, mas eu volto.
Disse com convicção, pois só precisava de um tempo, para pensar e aceitar tudo que viria no futuro. Então voltaria para ele. Voltaria para o seu Yuuki.
- Tudo bem... - ainda ouviu Haruto dizer enquanto já saia, atravessando a porta em direção às escadas.
Desceu apressado, buscando por algo que nem mesmo ele sabia o que era. Olhou em volta, só viu uma empregada indo em direção a cozinha, ainda pensou em lhe questionar pela mãe de Yuuki, mas nada haveria para dizer a ela. Então saiu da casa em busca do seu carro.
Ao sair pelo portão e atravessar a rua, visualizou o que buscava, o que desejava confrontar. Pedro estava em pé, encostado no carro de Lucas, o esperando.
Sua expressão era totalmente diferente daquela usada dentro da casa, a poucos minutos atrás. Apesar de ter se descontrolado e apertado o pulso de Yuuki em uma clara demonstração de ciúmes e ira, sua postura sempre apresentava uma certa submissão, era quase servil.
Era essa a característica que havia desenvolvido e aprimorado para permanecer a sombra de Yuuki a tantos anos. Pois era tão encantadoramente educado, prestativo e respeitoso, que Helena jamais pensaria em negar-lhe a presença do filho. E até Haruto, que sabia de suas intenções, não conseguia se impor diante de tal perfeição de pessoa.
Mas ali diante de Lucas, ele não precisava fingir cavalheirismo, seria até ridículo se o fizesse. Então estava nu de suas máscaras, com olhar de desprezo e palavras cruéis presas na garganta.
- Entra no carro. - Lucas disse em um tom baixo.
Pedro nem pensou em rebater, pois realmente não queria discutir em frente a casa de Yuuki. Pelo contrário, gostaria de procurar o lugar mais longe possível para acabar com aquela situação revoltante.
Então seguiram em silêncio por uns 5 minutos, até chegarem bem próximos da Universidade que Lucas e Yuuki estudavam. O carro parou sob uma árvore e os vidros desceram para arejar um pouco do clima sufocante que estava fazendo naquele ambiente.
- Então você também tem algo para me falar? Porque o que eu tenho a lhe dizer é bem simples e curto.
Pedro o observou calado e decidiu saber o que ele teria para lhe falar, pois nitidamente Lucas achava que conhecia aquela família o suficiente para entender tudo que acontecia naquela casa.
- Eu sei de tudo. Sei da relação que vocês têm a anos, que você é apaixonado por ele e nunca o arrastou daquela casa porque não pode cuidar dele sozinho. Mas eu também sei que Yuuki nunca te quis e nunca vai querer - falou pausadamente para que o outro entendesse.
- E agora, só o que você deve saber, é que estamos juntos. Somos um casal e você não tem o direito de se meter na vida dele, mesmo que seja só fingindo preocupação por ser amigo dos seus pais.
E Pedro que até então estava com um semblante sério, começou a rir da sua cara, como se ele tivesse acabado de contar uma piada incrível. Seu riso era debochado, como se houvesse uma carta na manga para ser usada agora, contra o ingênuo Lucas.
- Como você é tolo garoto. - disse com calma - Ele é bipolar Lucas. Ele é doente, entende?
Lucas o olhou com estranheza. Porque ele lhe afirmava algo que já sabia? E que relação isso tinha com a conversa?
- Você acha que ele te ama? Está enganado. Ele não pode te amar, garoto. Isso é só uma coisa que ele colocou na cabeça e que logo vai passar. Você acreditou nisso porque quando ele quer, é mais convincente que todos.
- Ele muda de ideia como muda de roupas, a todo momento deseja algo diferente. E quando o tem, logo enjoa e deixa de lado. Você é só mais uma de suas ideias malucas, como quando fez aulas de artesanato, depois pulou pra natação ou quando insistiu em aprender francês. Ele está com você agora somente pra satisfazer suas necessidades e principalmente para provocar Helena e eu.
- Entenda Lucas, não estou falando mentiras e você sabe disso. Hmm... Você disse que sabe de tudo? Eu duvido muito. Você sabe como ele costuma correr para mim quando tem crises maníacas? Se joga em meus braços e me beija como se fosse a última coisa que fosse fazer em vida.
- E além disso, quando está depressivo e solitário, pra onde ele corre? Pro meu restaurante, para ficar próximo a mim. Por isso eu continuo ao seu lado, eu sei que ele precisa de mim tanto quanto eu preciso dele. Então, quem não tem o direito de se meter em nossa vida é você.
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- Nos deixe em paz Lucas. Estávamos muito bem antes de você aparecer.
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Sweet and Cold
Romance*CONCLUÍDO* Como ele conseguia ser frio e logo em seguida tão doce? Lucas Valeria a pena virar sua vida de cabeça para baixo, em função de uma pessoa desconhecida? Mesmo que a atração sentida por ele fosse incontrolável? Yuuki Gostava dele, isso...