And Life Gets Even Worse

886 94 16
                                    


Lauren's POV

Eu só posso ser muito estúpida mesmo.

Naquele meu momento de epifania, eu conseguia ver isso com clareza. Ouvia a voz de Ariana, durante meus primeiros anos como vampira, reclamando com Cora sobre o quão inútil eu era. Uma criança irresponsável, segundo ela. A quem faltava juízo e crueldade para pertencer àquele trio.

Não que eu não fosse cruel, é claro. Mas admito que comparado à Cora ou a Ariana, antes de sua "redenção", eu era praticamente um anjo. Lembro que só o que eu queria fazer era me divertir, aproveitar minha imortalidade, me alimentar quando tivesse vontade. Para mim sempre pareceu perda de tempo as "brincadeiras" de Coraline e Ariana, o modo como torturavam suas vítimas antes de devorá-las. Nunca tive problema em matar humanos, mas não via sentido em gastar horas e horas amedrontando-os antes.

Agora eu via que Ariana Grande talvez estivesse certa, afinal de contas. Eu era mesmo muito estúpida. Existe estupidez maior do que se apaixonar por sua pior inimiga?

Não que eu não estivesse tentando bloquear aquela súbita compreensão. Ali, minutos após acordar do que provavelmente fora o pior e melhor sonho da minha vida, eu ainda tentava abafar o turbilhão de sentimentos conflitantes que se apossavam de mim. Eu tentava negar para mim mesma que aquilo fosse verdade.

Inútil, na verdade. Afinal, no fundo eu sabia que não podia negar. Acho que sempre soube.

É claro que eu a amava. Muito provavelmente desde o primeiro momento no qual pus meus olhos nela. Lembro perfeitamente daquela noite, Cora e eu havíamos acabado de chegar à cidade, vindas da Inglaterra, minha terra natal, e eu saíra para reconhecer o lugar. Camila estava patrulhando em um cemitério, devidamente armada, mas em seus lábios havia um sorriso que eu logo descobriria ser bem raro naquela garota. Um sorriso calmo, feliz. Naquela época, a relação dela com Ariana estava começando a se acertar.

Isso foi antes de Cora trazer Ariana para o nosso lado, é claro.

Depois disso só o que eu vi foi à criatura aparentemente sem sentimentos que ela se esforça tanto pra ser. Mas eu nunca esqueci aquele sorriso. Lembro que fiquei vários minutos escondida nas sombras, a observando com curiosidade. Que criatura diferente ela era! Tudo nela me chamava, me atraía. A beleza, o cheiro, a força, a coragem. Desde o primeiro momento ela monopolizou minha atenção, e eu, ingênua, interpretei aquilo como sede de sangue, como a atração por um desafio, e mais tarde também como vingança.

Como eu saberia que aquilo era amor? Eu tinha Cora na época. Por tudo que eu sabia, o que sentia por Coraline só podia ser amor. No fundo eu tinha consciência de que ela não me amava, claro. Não, Cora era muito fria, muito egoísta para amar realmente alguém, para ser capaz de dar carinho a algum outro ser. Duvido até mesmo que o que ela sentia por Ariana fosse amor.

Mas e o que eu sentia por Cora? Na época me parecia amor. Mas se eu for totalmente honesta comigo mesma, tenho que admitir que uma parte quase totalmente oculta de mim já vinha se fazendo essa pergunta há algum tempo. Aquilo era amor? Eu não tivera tempo de aprender muito sobre o sentimento quando viva, e após transformada, eu passei a adorar minha criadora. Nunca antes de conhecer Camila eu havia pensado no fato de que talvez o que eu sentisse por Coraline não passasse de adoração, gratidão, ou algo do gênero. Debater aquele assunto internamente era inútil, no entanto. Tentar entender o passado não me ajudaria a resolver o problema no qual eu me encontrava no presente. Eu sou uma vampira de cento e trinta anos. Oh, e é claro, eu resolvi me apaixonar por uma caçadora de vampiros.

Eu devo me odiar muito mesmo.

No fundo talvez eu goste mesmo de sofrer. Desde humana, no fim do século XIX, eu sempre me senti atraída por mulheres que me machucavam. Eu era uma romântica quando viva, uma poetisa. Era rica, morava com os meus pais, e era o que hoje pode se chamar de uma perdedora. Uma nerd, tímida, sensível, sempre desprezada pelas donzelas da alta sociedade pelas quais eu me apaixonava. Eu era a grande piada dos bailes.

VampireOnde histórias criam vida. Descubra agora