Guilt Part 1

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Camila's POV

– Bom dia, pessoas. – foi o que eu disse ao entrar no QG naquela tarde, em um tom alegre que, eu admito, não era nada característico.

Você sabe que é problemática quando as pessoas a sua volta te olham estranho quando você é simpática.

– Bom... Bom dia. – disse Normani, clareando a garganta em uma péssima tentativa de consertar a situação. Dinah e Simon, os demais ocupantes da sala, fizeram o mesmo – Quero dizer, boa tarde.

– O que foi, gente? Que caras são essas? – como se para compensar o surto de simpatia, meu lado escrota resolveu se manifestar – Alguém morreu?

Eu havia dito para mim mesma que não tocaria naquele assunto. O problema era que geralmente eu não me escutava.

Simon suspirou, parecendo cansado. Sua postura, no entanto, relaxou. Eu devia me sentir mal de constatar que as pessoas a minha volta achavam mais normal meu comportamento ruim do que minhas tentativas de ser legal. Talvez quando meu bom humor passasse, eu me sentisse.

– Nós queríamos pedir desculpas. – disse ele, sem me encarar.

– Nós não devíamos ter escondido aquilo. – acrescentou Mani – Não foi certo. Principalmente na situação atual... Não podemos esconder nada uns dos outros.

Uma pequena correção: eles não podiam esconder nada de mim. Eu era uma vadia hipócrita que escondia coisas de todo mundo.

Bom humor, Camila. Lembre-se que você está de bom humor.

– E nós temos donuts! – terminou Dinah, me oferecendo uma caixinha. Se eu não estivesse disposta a perdoá-los antes, aquilo com certeza teria me feito mudar de ideia. Eu havia acabado de acordar e não havia comido nada.

– Relaxem, eu não to com raiva de vocês. – eu disse, pegando a caixa das mãos de Dinah e me jogando no sofá.

– Não? – perguntou Dinah, parecendo surpresa. Ao levar uma cotovelada de Normani, no entanto, ela consertou – Quero dizer... Que bom!

– Nós prometemos que não vai acontecer novamente. – prometeu Mani.

– Exato. – acrescentou Simon – É como a Normani disse, não podemos esconder nada uns dos outros. Nós achamos que estávamos te protegendo. Com tudo que anda acontecendo, com tudo pelo qual você já passou... Sabemos que você está vivendo sob circunstâncias delicadas.

Circunstâncias delicadas. Eu era uma garota de 21 anos que, ao invés de estar na faculdade saindo com carinhas de fraternidade, passava minhas noites matando vampiros que estavam sob o comando de alguém que ameaçava o único lugar no mundo no qual uma híbrida como eu pertencia ao menos um pouquinho. Oh, vamos adicionar a isso o fato de que eu nunca tive pais e ao invés de um namorado, eu tinha uma relação nada saudável com uma garota que eu odiava e que já tentara me matar mais de uma vez. Relação essa que nunca teria se iniciado se eu não tivesse perdido a única mulher que havia amado na vida.

Aparentemente, "circunstâncias delicadas" era alguma espécie de código britânico para "coisas que matam seu coração".

Eu respirei fundo, reprimindo meu pessimismo natural. Não fazia sentido acabar com meu bom humor daquela forma, remoendo tudo que havia de errado na minha vida. Eu precisava me concentrar nas coisas boas. Eu havia tido um excelente fim de noite, que de quebra havia eliminado uma das minhas maiores angústias. Eu havia resolvido minha situação com Lauren, então qual era o ponto em continuar me martirizando por aquilo? A razão do nosso acordo era justamente fazer com que eu parasse de pensar naquilo como algo errado. Não era errado se haviam regras. Era apenas um acordo, um contrato, e ambas as partes tinham total consciência do que ele implicava. Era só sexo. Eu era maior de idade e solteira, tinha direito de dormir com quem eu bem entendesse... Mesmo se essa pessoa fosse Lauren. Se eu continuasse me certificando de que aquilo não significava mais do que uma relação física, não haveria problemas.

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