Together (To Get Her)

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Camila's POV

Eu me sentia suja.

Por um momento eu desejei que meu corpo estivesse coberto de lama ou algo igualmente nojento. Eu queria que o resto do mundo pudesse ver o quão impura eu me sentia. Estranho, na verdade. Enquanto eu atravessava os corredores da sede, surpreendentemente movimentados naquela noite, eu deveria estar querendo me esconder. Devia estar rezando para que ninguém nunca descobrisse o que eu havia deixado acontecer – e também todo o resto que poderia ter acontecido. Mas, ao contrário, eu queria me expor. Queria usar a desaprovação dos outros como castigo para minha fraqueza. Mas não acho que jamais seria capaz de verbalizar o que acontecera, então apenas me contentava em me desprezar sozinha enquanto seguia para meu quarto. Não, ninguém repararia em minha sordidez. A imundice que eu sentia pelo fato de desejar, de sentir prazer graças a um monstro não era física. Não, a sujeira era algo que poluía apenas minha alma.

Eu realmente não sei como havia aguentado a última hora. A incomum agitação pelos corredores do prédio era minha culpa, na verdade. Depois de rodar sem rumo pela cidade por algumas horas, eu havia voltado para a Sede, determinada a cumprir meu dever. Eu precisava contar tudo que havíamos descoberto para Reid. Nem preciso dizer que, quando a noticia de que a Organização era o principal alvo do mais novo e mais organizado grupo de vampiros que já havíamos encontrado vazou, o caos se instaurou. Não, ninguém chorou em desespero ou saiu correndo, mas... Pessoas subiam e desciam os corredores, entrando na sala de colegas para dividir as novidades ou simplesmente compartilhar o nervosismo. Eu mesma estivera bem ocupada na última hora, contando tudo com detalhes para Reid e tentando fugir das perguntas de Simon e de minhas amigas. Eu simplesmente não estava com cabeça para a condenação iminente da Organização no momento. O toque das mãos de Lauren sobre meu corpo estava gravado na minha mente, de forma excitante e repulsiva ao mesmo tempo. Fisicamente excitante. Mentalmente repulsiva.

Quando fingir que nada estava errado passou a ser coisa demais para suportar, eu pedi a Reid que parasse o interrogatório para que eu pudesse voltar para o meu quarto, tomar um extremamente necessário banho e colocar roupas limpas. Ele me deixou ir, com a condição de que eu voltasse depois. Aparentemente, ainda havia um assunto importante sobre o qual ele precisava discutir comigo.

Só quando eu finalmente pude entrar no meu chuveiro que as lágrimas caíram.

O estranho nisso tudo é que, desde o momento em que eu deixei Lauren do lado de fora daquela casa abandonada, eu sabia que acabaria chorando. Pelo que, exatamente, eu não sei, mas durante toda a noite eu tive essa certeza de que, quando estivesse finalmente isolada do mundo, iria chorar. Chorar de medo, talvez. Medo pela atração doentia que eu sentia por Lauren. Medo perante a ameaça a Organização, o resumo de tudo que era importante na minha vida. Medo de continuar para sempre me sentindo como sentia desde que Ariana fora embora... Não, desde antes disso. Desde que me entendo por gente. Medo de para sempre sentir aquele vazio, aquela escuridão dentro de mim. Medo de não conseguir ser forte o suficiente para lutar contra meus inimigos e contra o maior deles: eu mesma.

Medo de sentir medo.

Sentindo os jatos fortes de água sobre meu corpo, eu ri sem humor. Qual era essa ligação entre a água e o poder de me fazer chorar? A tempestade havia acabado com meu longo jejum de lágrimas. Agora aqui estava eu, chorando embaixo do chuveiro sem um motivo concreto. Talvez eu só precisasse colocar tudo aquilo para fora de vez em quando. Eram tantos problemas... Tantas preocupações e nem um pouco de alegria. Se havia algo que eu aprendera em anos como caçadora é que eu tinha apenas duas alternativas: viver deprimida ou viver com raiva do mundo. Para fugir da depressão, eu aprendera a ser fria, cruel, violenta e irritadiça. Se eu convertesse tudo de ruim na minha vida em ódio, doeria menos. O lado bom do ódio é que ele ocupa tanto sua mente que não deixa espaço para dor. E assim, o que começou como um esforço consciente para me defender se tornou a realidade. Eu me acostumara com aquilo e me tornara essa criatura tão amável que era hoje em dia. Ruim, amarga e por vezes distante. Eu realmente não conseguia entender como ainda assim eu conservara meus poucos amigos. Como ainda assim Lauren podia dizer que me amava.

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