Guilt Part 2

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– Eu sei que eu já disse isso mil vezes, mas... Meu Deus, ele é a cara do Aramis! – disse Normani, pela milésima vez desde que havíamos começado a assistir "O Retrato de Dorian Gray".

– Assustador, né? – eu disse, distraída enquanto rodava a colher no meu pote de sorvete. Havia desistido de tentar prestar atenção no Ben Barnes na tela.

Minha mente estava cheia demais, como de costume. Normani costumava dizer que eu pensava demais, analisava demais às coisas sem necessidade, e em parte era verdade. Mas o que eu podia fazer? Lidar com mil problemas ao mesmo tempo vinha sendo minha realidade há mais de dez anos. Claro que eu pensava obsessivamente em cada probleminha... Eu não conhecia outra vida.
No momento minha cabeça girava em torno do Mestre, dos segredos que eu escondia das minhas amigas e do meu mentor, da Organização em perigo e OH MEU DEUS! O QUE TINHA DE ERRADO COM LAUREN?!

Ok, então talvez eu estivesse obcecada com apenas um problema.

Mas aquilo não era normal. Não era normal. Lauren não era indiferente a mim. Não podia me ignorar agora que eu finalmente havia aceitado ela na minha vida – de certa forma. Ela já havia me ignorado antes, é claro. Já havia sido fria e distante, mas isso quando eu a machucava (o que, eu admito, acontecia bastante). Mas eu não a havia machucado dessa vez. Acredite, eu conheço Lauren. Sei quando atinjo ela e essa não era uma dessas ocasiões. Ela não era uma florzinha delicada. Uma rejeição bem explicada da minha parte não a deixaria magoada. Pelo contrário, só a daria mais vontade de me fazer mudar de ideia.

E esse era o problema. Porque não foi bem assim que aconteceu.

Ela não me ignorou, não foi fria comigo ou nada parecido. Mas durante toda a patrulha daquela noite ela... Não. Tentou. Absolutamente. Nada.
Nenhuma indireta. Nenhum sorrisinho provocante. Nem um mísero toque inapropriado. Nada. Não que eu quisesse que ela tentasse algo. Eu não podia, por causa de Normani. Mas ela não devia ter simplesmente aceitado assim tão fácil. Era até um pouco ofensivo. O que, de repente ela não achava mais que valia a pena me provocar até eu perder a cabeça?

Na verdade ela nem precisava. Pelo pensamento anterior percebe-se que eu já perdi a cabeça há muito tempo.

Eu estava confusa. E irritada. Irritada porque Lauren fizera exatamente o que eu havia sugerido ao dizer que não podia acontecer nada naquela noite. Havia aceitado o fato. Mas ela nunca fazia isso, e aquilo não fazia sentido e eu não estava gostando nada daquela história. Lauren não devia ser capaz de simplesmente aceitar ficar longe de mim. Devia ficar me perseguindo e tentando conseguir minha atenção.

Às vezes eu acho que não presto.

E às vezes eu tenho certeza.

– Então, ele tá solteiro? – Normani perguntou, de repente. Bom, de repente pra mim, que estava em meu mundinho particular.

– Quem, o Ben Barnes?

– Não, acéfala. O Aramis. Tem namorada, ou tá afim de alguém...?

Eu não consegui responder imediatamente. Apenas voltei a encarar meu sorvete que há essas horas já não passava de uma sopa de chocolate. Isso foi resposta o suficiente para Mani.

– Oh meu Deus, é inacreditável! – disse Normani jogando os braços pra cima em um gesto exagerado de frustração. Felizmente eu a conhecia o suficiente para reconhecer que aquilo em sua voz era divertimento, e não vontade de me matar.

Ok, talvez um pouquinho de vontade de me matar.

– Não é minha culpa! – eu disse, de forma defensiva – São os feromônios ou sei lá. Simon diz que essa atração é uma espécie de vantagem de predador. Uma "arma". Só queria saber que tipo de "arma" é essa.

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