Camila's POV
"Talvez, Camila... Você simplesmente não tenha sido boa o suficiente."
Essas haviam sido as palavras dela, não é?
Eu acho que nunca as esqueceria. Não tinha como, na verdade. Não importava quanto tempo se passasse, elas ainda estavam dentro de mim, vivas... Tão incrivelmente vivas que seria engraçado, se meu senso de humor fosse doentio àquele ponto. Rir da marca que aquelas palavras haviam deixado em meu peito exigiria possuir um nível de frieza que eu ainda não havia atingido.
A verdade era que se eu precisasse fazer uma lista das frases mais marcantes que já me haviam sido ditas, essa de Lauren estaria com certeza no topo. A voz dela pronunciando aquela suposição cruel era o símbolo de todas as minhas inseguranças. O jeito como ela havia dito aquilo, fria, aparentando se divertir destruindo a pouca dignidade que eu ainda conservava... Ainda doía. Sempre doía. Ela havia conseguido me empurrar para ainda mais fundo em um momento no qual eu já pensava me encontrar no fundo do poço. Um poço do qual eu sabia ainda não ter saído.
Eu nunca antes havia me sentido tão insignificante, tão patética quanto naquela noite há meses atrás, quando eu havia ido até ela em busca de explicações. Aquelas palavras... Aquelas palavras haviam me derrubado de uma forma que não era possível explicar. Só mesmo quem já se sentiu a última das criaturas da terra pode entender como foi ser humilhada daquele jeito pela vampira agora deitada ao meu lado.
"Talvez, Camila... Você simplesmente não tenha sido boa o suficiente."
Elas ecoavam na minha mente, e não só agora. Não, a vitória final daquela filha da puta havia sido a marca que elas haviam deixado em mim. Ela havia conseguido gravá-las em meu ser e elas haviam adquirido a mania de voltar e me atingir constantemente... Sempre que eu me encontrava enfraquecida, sempre que eu deixava a tristeza me dominar. Era só me entregar à dor que aquelas palavras voltavam, assombravam-me, atingiam-me quando eu já estava destruída, como se chutando um adversário já derrubado no ringue.
Torturavam-me quando eu estava vulnerável, da mesma forma que aquele que as pronunciara.
Era por isso que eu me sentia tão... Tão estranha no momento. Eu a havia deixado me tocar. Havia me entregado àquela que tornara minha vida um inferno. Ela me humilhara da forma mais dolorosa, mais cruel possível, e meses depois eu permitia que aquilo acontecesse. Era uma sensação confusa. Eu não era ridícula o suficiente para tentar mentir para mim mesma e dizer que estava arrependida, que tudo havia sido um erro... De certa forma eu estava sim arrependida e aquilo, sob todos os aspectos, havia mesmo sido um erro, mas dizer que isso era tudo que eu sentia seria mentir. O arrependimento que eu sentia era só um sentimento fraco que vinha da noção de que, para o resto do mundo, o fato de eu ter passado a noite com Lauren e gostado de cada segundo disso era algo digno de repreensão. E o fato de ser um erro... Bom, era sim um erro. Mas se eu fosse totalmente honesta comigo mesma, teria que admitir que o fato de ser errado dormir com uma assassina, com aquela que quase havia sido a minha assassina, não estava me incomodando, por mais estranho que isso pareça. Não, o que me fazia me sentir "estranha", um pouco culpada e bem perdida não era Lauren, exatamente.
Eram meus sentimentos por ela. Ou, melhor dizendo, a falta deles.
Não, na verdade essa não é a melhor definição para o que eu sentia. Não se tratava de uma falta de sentimentos, mas sim de uma falta de sentimentos definidos. Mas eu havia falado sério naquela última noite na cripta dela. Eu a detestava por um motivo, motivo esse que não podia simplesmente esquecer após um simples "eu te amo". A dor que ela ajudou a me causar, o ódio que ela alimentou, simplesmente não eram coisas que eu pudesse esquecer facilmente. Eu não podia perdoar tudo que havia acontecido simplesmente porque ela dizia me amar. Uma declaração de amor não cura o que agora me parecia uma eternidade de sofrimento. Eu não era uma romântica estúpida, que suspirava e perdia a cabeça por quaisquer palavras bonitas. Eu não amava Lauren. O que eu sentia por ela era uma mistura de sentimentos incompletos. Eu a queria, odiava-a, precisava dela, mas ainda assim... Não podia amá-la. Não me sentia capaz de amá-la, e nem a mais ninguém. Não daquela forma. Aquilo simplesmente não era da minha natureza. Após todo o desastre que havia sido meu relacionamento com Ariana, a pouca propensão que eu tinha ao amor havia sofrido uma ferida mortal. Eu tinha consciência de que tudo aquilo devia me fazer parecer uma vadia sem coração, mas era isso que eu havia me tornado mesmo, em parte pela própria Lauren. Ela ajudou a me transformar no que eu era hoje, então quem era ela para reclamar de alguma coisa? E se eu era o que eu era, sentia o que sentia... Não fazia sentido tentar fingir que não, pegar leve com minha pior inimiga simplesmente por supostos "sentimentos" da parte dela. Eu era tudo, menos falsa. Nunca a daria esperanças inúteis, nunca seria "boazinha" com ela sentindo o ódio que na maior parte do tempo eu sentia.
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Vampire
FanfictionVocês acreditariam se eu dissesse que por trás desse mundo ensolarado no qual nós vivemos, existe um submundo sóbrio onde vampiros, magia e profecias acontecem? E vocês acreditariam se eu dissesse que existe uma organização secreta que nos protege d...