trinta e seis

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Tenho o computador aberto sobre as minhas pernas e tenho o olhar focado no material que eu estou escrevendo

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Tenho o computador aberto sobre as minhas pernas e tenho o olhar focado no material que eu estou escrevendo. Eu já escrevi duas páginas, mas infelizmente ainda não atingi a meta de palavras que a professora quer e suspiro pensando no que mais eu posso acrescentar.

Tínhamos que escrever um artigo jornalístico e os temas eram temas complexos de se escrever e eu caí com o único que eu não queria: aborto.

Honestamente, aquele ainda era um assunto extremamente complicado para mim e era um tipo de um gatilho para mim. Durante a semana, tive que "entrevistar" algumas pessoas que contaram suas histórias pessoais e ouvi diversos relatos. Enquanto algumas se sentiam aliviadas e tranquilas com a atitude que tinham tomado, outras não conseguiam lidar com a a dor do julgamento e do arrependimento.

Eu na maioria das vezes não conseguia expressar reação alguma porque eu sabia o que aquelas mulheres passaram. Eu sei como é ligar com o alívio, mas também sei como é lidar com a culpa, o pensamento do que teria sido se você tivesse tomado um outro caminho.

Era agonizante.

Torturante.

Durante muito tempo eu me perguntei se aquilo era o que u realmente teria feito. Não vou dizer que me arrependo, porque, sinceramente, acho que minha vida teria sido um caos se eu tivesse continuado com aquilo. Eu provavelmente teria que ter ir viver com Chase e sua família e aí minha vida se tornaria um completo inferno.

Aquilo não era a vida que eu queria, muito menos a que eu sonhei.

Mas ao mesmo tempo, eu sempre sonhei em ser mãe e construir minha família. Quando eu era pequena, eu sonhava com esse momento, um pouco apressada demais, mas eu sonhava. Pensava em como seria quando eu descobrisse que estava grávida, eu explodiria de felicidade, contaria ao meu marido e viveríamos felizes para sempre (era o que a minha mente de criança e de uma adolescente de 13 anos pensava), mas quando realmente aconteceu, nada saiu como o planejado.

Eu passei meses na cama.

Não conseguia sair de casa e muito menos encarar as pessoas na rua. Quando meus amigos mais próximos descobriram todos se afastaram de mim e quando eu saia na rua recebia olhares de julgamentos de absolutamente todos e foi ali que eu decidi que eu iria embora. Decidi que eu sairia daquela cidade e nunca mais olharia para trás e foi o que eu fiz.

E desde então, Cora Thompson nunca mais foi a mesma.

Algo dentro de mim mudou completamente e eu não conseguia sentir nada pelas pessoas ao meu redor. Me tornei vazia e necessitada por algo que me fizesse sentir, ao menos por um segundo, que eu ainda tinha um coração. Um coração pulsante e vivo dentro do meu peito que estava só esperando pelo momento certo para voltar a bater rapidamente novamente.

E é isso que acontece no instante que eu vejo Logan caminhando em minha direção com duas xícaras de café em suas mãos.

Ele estava na minha casa e assim como eu também estava estudando. Eu não amanheci muito bem emocionalmente hoje e ele percebeu e quando se ofereceu para me fazer companhia, eu não neguei.

Perfect Disaster - PAUSADO Onde histórias criam vida. Descubra agora