Capítulo 23

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  Abri meus olhos e momentaneamente estranhei o lugar, então me lembrei que estava na casa da senhora Kim. Estava escuro pela janela e me dei conta que havia dormido o dia todo. Minha barriga estava roncando, procurei meu celular e vinque eram 19:00. Havia dormido por mais de 8 horas seguidas. Nunca imaginei que eu conseguiria dormir em uma situação dessa. Tinham mais de 20 ligações perdidas do Jiyong, e a caixa de mensagem estava cheia, mas não olhei nenhuma, deixei o celular ali e fui até o banheiro. Meus olhos estavam avermelhados e eu estava me sentindo cansada. Lembrar dele me fazia querer chorar mais ainda. Lavei meu rosto, dei uma arrumada no cabelo e desci as escadas. Senti cheiro de comida e logo a fome aumentou. Andei até a sala e não vi ninguém, fui até a cozinha e a senhora Kim estava terminando de cozinhar.
  -Boa noite! -digo e ela se vira e sorri.
  -Boa noite Isa... -ela secou as mãos na toalha e veio em minha direção. -Que bom que acordou, bem na hora. Fiz uma comida bem reforçada pra você. Não usei pimenta, sei que não gosta. -ela piscou e eu sorri. A comida estava muito bonita, vários legumes e vegetais colocados separados e bem arrumados com uma parte com arroz e um ovo em cima. -Bibbimbap... é o nome desse prato. Você vai gostar.
  Ando até a mesa e puxo a cadeira para me sentar, ela mistura tudo pra mim, deixa os temperos perto e depois se senta na minha frente com o dela. Em silêncio, sem perguntar ou falar qualquer coisa.
  -Obrigada! O cheiro está maravilhoso.
  -Espero que goste.
  Começamos a comer e a comida era realmente incrível, eu repeti mais uma vez e parecia não me cansar de comer. Depois tomamos um copo de suco e eu insisti para lavar a louça. Deixamos tudo arrumado e depois seguimos para a sala.
  -Tae contou o que aconteceu?
  -Sim... e eu sinto muito por ter que passar por isso. Eu já imaginava... mas sei que deve ser doloroso.
  -Jiyong mentiu mesmo...a armação foi apenas me mostrar a mentira dele.
  -Isabel... lá é comum existir noivados por conveniência na classe social deles... muitas vezes esses pobres casais nem sabem sequer a comida favorita do outro.
  -Isso não muda o fato dele não ter me contado.
  -Não estou justificando... mas acho que devia ouvir ele e saber a versão dele dos fatos. Eu gostaria de dar o conselho que dei no início e dizer para se afastar... mas vocês dois já estão apaixonados... e Jiyong não é como o pai. Ele tem se preparado para poder viver sem qualquer tipo de ajuda deles. Ele tem os meios para lutar.
-A senhora me disse que não pegaram leve com sua irmã!
-E com certeza não pegarão leve com você! -ela sorri e me olha. -Mas você vai ter ele do seu lado...é egoísmo da minha parte Isabel... e eu não gostaria de ter que te pedir isso. -ela se aproxima e pega em uma das minhas mãos... -mas não deixe ele sozinho... aquele menino esteve só depois que perdeu a mãe, recebendo atenção dos empregados... tendo que chamar atenção de outras maneiras... mas com você foi diferente. Ele esta mais calmo. Mais feliz.
-Eu... não... -digo e ela apenas faz um carinho em meu rosto e sorri.
-Tudo bem Isa... faça o que seu coração mandar.
-Eu amo Jiyong... muito... morro de medo de perder ele. -digo e sinto meus olhos arderem. -Mas ele mentiu pra mim... ele tem uma noiva e sabe de toda a minha história... do que eu penso sobre amantes.
-Não posso te dizer o que fazer... ninguém pode. Se decidir ficar com ele, você terá uma batalha para enfrentar com todos eles... senão...
-A batalha será comigo mesma. -digo e sorrio, porque notei que a mãe de Kim era mais parecida com Clara do que eu pensei.
-Kim ficou de trazer uma roupa para você dormir...
-Não precisa... vou voltar pra casa... só não podia voltar de manhã porque meus padrinhos estavam lá.
-Querida, fique aqui, descanse e amanhã você lida com o que tiver que lidar.
-Boa idéia. -digo e seguimos juntas para a sala.
Assisti uma novela com ela, e um programa coreano, ela ria com alguma coisa que diziam e eu não entendia nada, mas estava com a mente em outro lugar. Sentia falta dele e queria vê-lo, mas eu estava confusa, brava e precisava colocar meus pensamentos em ordem.
-Isa... Isa... -ouço a voz da Clara me chamar e abro os olhos devagar. -Até que enfim, achei que estivesse desmaiada.
-Clara?!- me levanto confusa e aperto a lateral do meu ombro.
-Sim... cheguei a 40 minutos e vc nem se mexeu, achei que te encontraria aos prantos... mas está dormindo.
-Sinto te decepcionar. -brinco e me sento direito.
-Obriguei Kim a me contar tudo... e depois fui até a casa dele cometer um crime com seu mentiroso. -ela diz e me sinto em alerta.
-Não quero falar nele. -digo e me levanto.
-Eu também não iria querer...-ela vem em minha direção. -Mas ele me contou o lado dele... você não era amante dele Isa...
-Clara... eu não quero falar disso.
-Ok... mas acha que eu falaria algo assim se eu não acreditasse de verdade? Eu entrei lá para bater nele... mas ele me contou.
-Ele tinha que ter feito isso antes... não esperar que o pai dele fizesse isso. -eu me lembrei da noiva e me irritei novamente. -O pai dele esfregou a noiva na minha cara.
-Que cara nojento... mal amado... e você está dando esse gostinho pra ele. Com certeza esse diabo vestido de roupa de marca está se divertindo sabendo que conseguiu o que queria.
-Odeio mentiras Clara! -digo e ela se aproxima.
-Eu sei amiga... e isso é algo que você tem que ficar brava... xingar... brigar... mas deve ouvir ele.
-Está do lado de quem? -pergunto e cruzo os braços.
-Do seu... sempre... quer dar uma surra nele? Vamos lá... eu topo! Quer fazer isso com o pai dele? Eu vou fácil fácil... agora... isso vai te fazer bem? -ela pega minha mão. -Isa... você se abriu pra ele, estava mais leve, feliz... sabe... era você de novo. Perder isso porque aquele pai que nunca soube ser um pai vem aqui e decide com quem o filho fica, está errado. Você é boa de mais pra eles, e não o contrário.
-Você não entende.
-Se me disser que não o ama, e que quer paz e vai ficar melhor sem ele. Te apoio. -olho pra ela e ela conclui. -Agora se vai sofrer e ficar chorando, porque tem medo de lutar por isso... não vou concordar. Vou estar ao seu lado Isa... vamos conseguir... só tem que escolher o que é melhor pra você!
-Não quero pensar sobre isso hoje.
-Tudo bem... dorme aqui... amanhã a gente vem te buscar... e você decide amanhã o que quer fazer.
Passei aquela noite pensando em tudo, tudo o que Jiyong e eu passamos, no que ele me contou, nas histórias em que eu ouvi sobre a família dele. E eu estava muito confusa. Meu coração estava apertado e eu peguei meu celular... por volta das 4 da manhã e olhei minhas fotos com Jiyong, desde o dia da praia, quando começamos a namorar e ele me ensinou a palavra te amo em coreano, até aquele dia. Ele me esconder algo como aquele noivado foi muito sério, e eu não estava bem com aquela informação. Mas eu precisava ouvir ele. De todo jeito. Me levantei, tomei um banho e tentei colocar uma calça jeans, mas estava apertada, então a joguei na cama frustrada e peguei um vestidinho. Peguei meu allstar, minha bolsa e chamei um táxi. Coloquei o endereço de casa e fui falar com Jiyong.
Chegando lá, fui até o apartamento dele, abri a porta e tranquei. Eram 6 horas da manhã, tirei meu tênis e deixei minha bolsa no sofá, seguindo em silêncio até seu quarto, abri a porta e lá estava ele, dormindo... tinha uma garrafa de vinho e uma taça ao lado da cama e ele estava apenas jogado nela. Me aproximei fiquei olhando para ele, então me sentei e fiquei encarando. Estava com tanto medo de perdê-lo, olhei seu rosto fino, seu cabelo caindo em seu rosto e pensei nas promessas que ele me fez, eu não iria abrir mão dele. Não sem lutar primeiro. Passei a mão levemente para tirar o cabelo dos olhos e ele abriu os olhos um pouco assustado, me encarou e então se sentou bruscamente. Passou as mãos no cabelo e continuou me encarando.
-Eu estava preocupado. -ele diz e parecia cauteloso.
-Eu li suas mensagens... todas elas. -digo e instala um silêncio absurdo.
-Eu amo você... nunca foi amante... eu juro. Eu não escolhi ela... Mina e eu somos amigos, apenas fizemos isso para não sermos forçados a casar e cada um fazer o que quer.
-Era um noivado... para as famílias.
-Não para nós... não para mim. -ele diz e passo as mãos na cabeça. -Isabel...eu disse para meu pai... para Mina e para minha avó... eu vou ficar com você. Ninguém mais... se eles não te aceitam... então não me aceitam também. Não vou abrir mão de você.
Senti meus olhos encherem de lágrimas e tentei respirar fundo para segurar.
-Não quero perder você... mas agora sinto como se eu não pudesse acreditar em você... porque vai me esconder as coisas.
-Não tenho mais nada para esconder... eu não te contei isso porque no começo... eu achei que só ficaríamos, eu irritaria minha Família, mas depois cada um seguiria seu rumo. -dei uma risada irônica por saber que eu fui apenas alguém que seria usada para irritar. -Mas Isa... isso era uma desculpa porque me senti atraído assim que te vi... você chamou minha atenção de um jeito q nem sei explicar. Quando notei eu já estava todo girando ao seu redor. Você me trouxe paz... me fez sentir o que ninguém mais fez... e é você que eu quero. -ele se aproxima e coloca a mão sobre a minha. -Me perdoa por ter te escondido isso...Isa... eu amo você... quero me casar com você, montar uma família e viver tranquilo e te fazer feliz... não me importo com o dinheiro deles... com nada... renuncio tudo... menos você.
-O que você disse? -pergunto um pouco confusa.
-Eu quero me casar com você... e se você puder me perdoar por ter escondido de você tudo isso... -coloquei minha mão sobre a boca dele e deixei as lágrimas escorrerem.
-Volte para seu país...
-Isa... não... -ele tira minha mão e me encara.
-Deixa eu terminar... -digo e tento sorrir. -Volte... resolva tudo isso... faça o que precisa fazer, se responsabilize por suas ações... e quando tiver livre e totalmente bem resolvido... volta pra mim... e me diga isso novamente. -meu coração doía... mas começar algo desse jeito... era complicar tudo...passei a vida toda sendo coerente e me protegendo e agindo racionalmente, eu não podia agir por impulso e sem levar em conta o que aconteceu com a mãe dele. Não podia.
-Não quero te deixar... quero que venha comigo.
-Jiyong... como? Para todos em seu país, você tem uma noiva... e...
-Eu não me importo...
-Eu me importo.
-Você está me deixando?
-Não! -digo e me aproximo. -Estou dizendo que quero que volte lá, diga o que sente, resolva tudo e volte pra mim... vou te esperar. -Digo e ele abaixa a cabeça. -Resolva tudo rápido... e volte pra mim ok?
Ele me puxa e nos abraçamos. Deixo as lágrimas escorrerem pelo rosto e depois nos beijamos. Jiyong me puxou e me sentei em seu colo, apertei ele em meus braços e ficamos um tempo abraçados. Então ele puxou meu rosto e juntou nossos lábios. Nos beijamos com intensidade e ele passou as mãos pelo meu corpo com uma intensidade e desejo maior. Ele me fez sentir amada e desejada. Era como se ele quisesse ficar em mim e nos transformar em uma única pessoa.
***
-Isa... vamos comer...-Ele estava me chamando e eu abri meus olhos devagar.-Sua barriga está roncando. -ele riu e eu me senti levemente constrangida, mas não consegui não sorrir de volta. -Até acordei com isso.
-Jura? -pergunto e me preocupo que tenha realmente acontecido.
-Não... -ele ri e joga a cabeça para trás dando uma risada gostosa.
-Babo... -digo e ele finge surpresa ao me encarar.
-Babo é? -e dá uma leve mordida em meu pescoço.
-Vamos... preciso comer... agora que mencionou estou realmente faminta. -digo e me levanto, puxando o lençol e enrolando em meu corpo.
-Vai tomar um banho e eu vou prepara algo para comermos. -ele se levanta e eu fico admirando-o, Jiyong não tinha mais vergonha, e ele sempre se levantava e se vestia na minha frente sem se preocupar se eu estava olhando ou não, e era uma visão esplêndida. Ele percebeu que eu estava encarando ele e sorriu, ficando de frente e parecendo corar levemente. Então... tentei algo bem ousado, soltei o lençol e o encarei. Ele ficou surpreso, mas não tirou os olhos, senti um pouco de ansiedade, e vi ele passear os olhos por meu corpo, então ele se aproximou e puxou meu cabelo levemente para trás, tirando da frente e deixando meu colo totalmente livre. Umedeci levemente os lábios e ele estava agindo diferente do normal. Jiyong deu a volta me olhando e parou atrás de mim, senti ele se aproximar e logo ele acariciou minhas costas e subiu a mão até meus ombros, pegando meus cabelos levemente em um punhado e puxando levemente para o lado, enquanto aproxima os lábios em meu pescoço. -Consegue esperar um pouco antes de tomar café? -ele sussurra e eu sorrio, fazendo um sim com a cabeça e sentindo ele beijar meu pescoço. Então ele mudou de carinhoso, para sedutor e puro desejo. Passou as mãos por cada lugar do meu corpo apertando e como se estivesse deixando sua marca por onde passava, isso me deixou instigada e logo eu estava fazendo o mesmo nele, éramos puro desejo e nossa respira aos acelerada e descompassada era tudo o que se ouvia. Ali tinha tudo misturado, amor, desejo, luxúria, medo, paixão... toda uma mistura de sentimentos sendo liberados através dos nossos toques e beijos.

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