Capítulo 32

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Jiyong estava distante. Passava muito tempo fora de casa, e eu sabia que era por causa da avó e do pai. Ele evitava falar comigo sobre o assunto, era angustiante ter que confiar e acreditar que tudo seria resolvido. Jiyong estava se esforçando para arrumar uma solução sem que precisasse voltar para a Coréia, mas a avó o pressionava para que se sentisse culpado. Ele trabalhava o dia inteiro, quando chegava, ficava no escritório, ficava comigo e com Haru pouco, e eu sabia que ele estava dando o seu melhor.
  -Jiyong... quer sair para comer algo? -apareço na porta do escritório, onde ele estava atras do computador todo sério. Ele respirou fundo e sorri para mim.
  -Já jantaram?
  - Não, só a Haru, mas eu queria saber se você quer comer... quem sabe a gente sai para comer algo... e passa um tempo junto. -sorrio e entro, seguindo em sua direção.
  Jiyong sorriu e estendeu a mão para que eu a segurasse. A segurei firme e me sentei em seu colo, depositando um beijo suave em seus lábios.
  -Desculpa... eu sei que estou ausente, mas preciso resolver isso.
  -O que exatamente está resolvendo? -perguntei na esperança dele conversar um pouco e se abrir.
  Jiyong me olhou, ficou em silêncio e depois respirou fundo.
  -Estou entrando em contato com alguns investidores, renegociando alguns contratos e me reunindo por videoconferência com nossa equipe para encontrar um meio de sairmos dessa crise.
  -Por que está fazendo tudo isso?
  -Porque eu fui responsável por tudo isso.
  -Por não se casar com que eles queriam?
  -Não... por ter feito escolhas e permitido que chegasse nisso.
  -Que tipo de escolhas? -pergunto e sinto que a resposta dele seria algo que me machucaria.
  -Tudo o que fiz esse tempo todo Isa... a maneira que vivi, a raiva que sentia e sempre querendo me vingar deles por ter deixado minha mãe partir e não me permitirem ver ela e minha irmã... -ele me tirou do colo e se levantou. -Eu estou com a cabeça cheia.
  -Está arrependido? -pergunto e ele me olha com a testa franzida.
  -Claro que não. Você foi a melhor coisa que me aconteceu aqui... -Jiyong se aproximou e me abraçou forte. -Eu só não queria você no meio de tudo isso.
  -Não vou ficar no meio disso! -respondo e ele me abraça mais.
  -Vou precisar ir à Coréia. -ele diz e o silêncio toma conta da sala.
  -Você disse que não iria... que não precisávamos ir... Não posso ir com você e levar nossa filha.
  -Eu sei... eu preciso ir sozinho.
  Fico um tempo em silêncio e confusa... achei que ele estivesse querendo que fôssemos juntos. Mas ele estava indo sozinho. Não sabia o que aquilo significava, e o fato dele ser vago, estava começando a me deixar irritada e ansiosa.
  -Como assim sozinho?
  -Você mesmo disse que não iria com Haru para a Coréia.
  -E você disse que não queria voltar pra lá. Achei que havíamos concordado nisso.
  -Não consigo resolver tudo daqui Isabel. Se queremos ficar juntos, eu preciso concertar o que fiz.
  -Não é sua culpa não querer se casar com alguém que você não ama.
  -Esse não é o problema... você não entende. As coisas são diferentes lá.
  -Mas estamos no Brasil Jiyong, não na Coréia.
  -Mas eu sou Coreano Isabel... não brasileiro. -estávamos irritados e a conversa não parecia que fluiria. -Você não vai entender como me sinto, porque crescemos com perspectivas diferentes.
  -Você não demonstrou essa visão quando estávamos namorando.
  -Porque eu não estava ciente dos problemas que causei à eles.
  -Para resolver vai ter que voltar e ficar quanto tempo lá ?
  -Não sei...
  -1 mês?
  -Com certeza mais que isso.
  -Quanto tempo Jiyong?
  -Talvez 6... vou fazer de tudo para ser menos que isso.
  -Isso é ridículo... 6 meses? -Sinto meu peito apertar um pouco e já imagino essa distância. Ando de um lado para o outro e paro na frente dele.
  -Eu vou voltar!
  -Já decidiu? -me irrito, percebendo que ele havia se decidido sem conversarmos.
  -Eu ía te falar... estou falando...
  -Somos um casal Jiyong... precisava conversar antes dessa decisão...
  -Eu vou voltar... é uma viagem de 6 meses. -ele parecia estar ansioso. -Não é como se eu fosse morar lá.
  -Isso é ridículo... essa sua atitude demonstra que não se importa em como me sinto.
  -Isso não é verdade, estou fazendo isso por nós!
  -Não quero mais conversar... não vale a pena. -digo e saio da sala.
  -Isabel... -ele vem em minha direção e segura minha mão, me fazendo olhar pra ele. -Eu ía conversar com você... não ía sair sem te avisar.
   -Essa não é a questão... você já está com a decisão tomada antes mesmo de conversarmos... como quer que eu me sinta sabendo que vai para o outro lado do mundo praticamente e ficar por 6 meses... longe da nossa filha... de mim....
  -Vai ser difícil... mas assim que eu terminar, viveremos tranquilos e sem tudo isso para atrapalhar. -ele se aproxima e acaricia meu rosto.
  -Eu esperava mais consideração de você Jiyong...- digo e tiro a mão dele do meu rosto.
  -Mais? -ele passa as mãos pelos cabelos e me olha impaciente. -Eu estou há dias tentando fazer tudo ao meu alcance para minha família nos deixar em paz e evitar que eles saíam prejudicados, tentando mostrar que posso concertar isso sem precisar me casar com alguém que eu não amo... e mesmo assim você não entende... eu não falei porque sabia que iria reagir assim.
  -Agora a culpa é minha por você não me contar?
  -Desde que eles chegaram, você fica repetindo que não vai para a Coréia com nossa filha, que não sairá do Brasil... o que quer que eu faça? -ele estava irritado, gesticulava com as mãos e mexia com frequência no cabelo. Parecia que estava sufocado. Que estava confuso. Aquilo me fez sentir pior.
  -Vai descansar... vai dormir... eu preciso pensar. Não vamos chegar a lugar algum hoje. -digo e começo a subir as escadas.
  -Você disse que ía jantar... -ele se aproximou da escada.
  -Estou sem fome. -digo e subo com pressa os degraus. Vou até o quarto da Haru e fecho a porta, me sento na poltrona e sinto meus olhos arderem. A saudade dele iria doer. Já estava doendo e ele nem havia partido ainda. Todas as incertezas me acertaram em cheio, todas as dúvidas tomaram conta da minha mente. Será que voltaria? Será que Haru não veria mais o pai? E se tentassem levar ela? E se eu nunca mais soubesse nada dele?
  Senti as lágrimas escorrendo em meus olhos, minha garganta estava queimando e meu peito doía. O choro saiu livre e eu apenas permiti que saísse. Eu sabia que minha vida não seria assim tão fácil. Sabia que algo estava para vir. E eu me permiti apaixonar por alguém que podia ir embora a qualquer momento. Baixei minha guarda e deixei alguém ocupar mais espaço do que devia em minha vida. O preço seria alto. E eu não poderia fazer nada.
                                      ***

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⏰ Última atualização: Sep 28, 2022 ⏰

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