Capítulo 19

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Kwon ficou cerca de duas horas conversando com a pessoa que veio ao nosso apartamento, e depois subiu calado e deixou as malas na sala e sentou no sofá. Estávamos em silêncio nos encarando por uns 5 minutos e ele ainda estava parecendo ansioso.
-Quando vai me contar o que está acontecendo?
-Eu vou Isa... não tem muito o que contar...
-Quem era? -pergunto e me aproximo dele. Mas já suspeitando.
-Meu pai. -ele responde e me olha um pouco cauteloso.
-Já sabíamos que isso aconteceria...O que ele quer?
-Que eu vá embora com ele. -ele diz e se levanta vindo em minha direção. Senti meu coração acelerar... eu sabia que isso não era bom.
-O que vai acontecer agora Jiyong? -digo sentindo meu coração apertar.
  -Vamos ficar bem... mas eu preciso que você confie em mim ok? -ele me puxa e abraça, eu faço o mesmo e permito sentir que ele vai resolver tudo.
  -Ele...sabe da gente? -pergunto e me afasto um pouco para encará-lo.
  -Ele sabe... nos viu juntos descendo do carro...
  -E... o que ele acha disso? -pergunto e percebo que essa pergunta o deixou desconfortável. -Ele não gostou nada de saber que estamos juntos... estou certa?
  -Isa... minha família não aceita ninguém que eles mesmos não tenham escolhido... não fique preocupada com isso... eu vou cuidar de tudo ok?
  -Ok.
  -Quero que me prometa uma coisa...-ele diz e eu encaro seus olhos.
  -Se vierem te procurar... pra falar com você... só faça se estivermos juntos. Ou nem precisa... não precisamos da aprovação de ninguém Isa... entendeu?
  -Você acha que tentariam alguma coisa com a gente?
  -Depois do que descobri sobre minha mãe... não estou certo do que diriam ou tentariam. -ele diz amargo e vejo a expressão dos olhos dele ficarem frias de novo.
-Jiyong...você vai precisar ir embora?- pergunto, mas não estava certa se queria ouvir a resposta.
-Vou precisar ir... por um tempo... mas falamos sobre isso, eu vou voltar, só tenho que resolver umas coisas.
-Quando vai ser isso? -a ansiedade estava crescendo em meu peito, apesar de saber que ele teria que ir em algum momento, a certeza disso estava me matando.
-Termino o intercâmbio em breve, no final do ano, vou voltar assim q terminar.
-Isso já é mês que vem.
-Isa... estamos no começo desse mês... temos ele inteiro e o próximo inteiro... não vamos pensar nisso agora ok? -ele se aproxima e me puxa em um abraço.
-Ele veio te buscar... isso pode mudar alguma coisa... e... -começo e dizer, mas ele me beija, suave e calmo. Depois deixa os lábios apenas encostados nos meus enquanto ficamos em silêncio por alguns momentos.
-Quero que confie em mim... pode fazer isso? -ele segura meu rosto com as duas mãos e olha em meus olhos.
Um alerta acendeu em mim... eu sabia que ele estava preocupado, só queria me tranquilizar, e depois de ouvir a mãe do Tae, eu sabia que isso ía ficar bem difícil.
-Seja honesto comigo ok? Não me esconda nada e mesmo que fique difícil, não tente resolver sozinho... se fizer isso, posso confiar em você. -digo com firmeza e ficamos nos encarando por um tempo. Então ele me puxou e me abraçou forte.
-Vamos ficar bem... prometo. -ele diz e eu retribuo o abraço. Deixando ali nossos medos e certeza do nosso sentimento.
***
Não ouvi falar do pai do pai do Jiyong na semana que se passou, contei tudo a Clara que passou a ficar desconfiada de tudo, Kim pareceu desconfortável também, mas não tocávamos no assunto perto dele, sabíamos que ele devia estar sendo pressionado.
Duas semanas se passaram, era final de novembro... aqueles dias estavam me deixando tensa e exausta, o medo constante da partida do Jiyong e saber que o pai dele havia visitado a mãe do Tae deixou Jiyong nervoso e ele passou a ficar impaciente.
-Isa... vou almoçar com o Tae... quer ir? -ela perguntou e eu sabia que Jiyong iria almoçar com o pai dele, apesar de não querer sair, ficar ansiosa estava me deixando com muita fome no último mês.
-Eu vou Clara... deixa eu colocar uma roupa mais confortável... ok?
-Essa está apertada também? -ela riu e revirei meus olhos. -Você lidar com os problemas comendo... não é a solução... pode conversar comigo, ok?
-Relaxa amiga... estou bem.
-Certo... estou aqui... só quero que tenha certeza disso.
-Eu tenho.
-Ok... vou deixar você se trocar.
Ela saiu do quarto e eu coloquei um vestido solto e uma sandália baixinha... fiz um rabo de cavalo e saí.
-Kim acabou de ligar... disse que teve um problema... mas nos encontramos na lanchonete.
-Ok... aqui mesmo?
-Sim.
Saímos de casa e fomos até a lanchonete comer, eu estava com vontade de comer lasanha, pedi uma e a Clara pediu algumas panquecas. Almoçamos, falamos sobre nossos planos, eu iria me formar ainda esse ano, Clara ficaria mais um ano na faculdade, e eu já havia feito meu TCC com o grupo e apresentamos naquela semana... teria apenas mais duas semanas de aula, mas já havia sido aprovada em todas as matérias, as pessoas que precisavam das provas para complementar as notas estavam indo nessas semanas. Eu não iria mais, estava apenas aguardando a colação e o recebimento do meu diploma.
-Vamos comprar seu vestido esse fim de semana?
-Vamos...Jiyong quer ir...
-Comprar um vestido? -ela riu. -Com certeza... sabemos que ele ama moda.
-Pois é.
-Ele não dormiu hoje com você...
-Ele ficou com o pai no Hotel... disse que almoçariam hoje e resolveriam algumas coisas.
-Entendi... ele tem dormido com você todos os dias desde que o pai chegou.
-Sim... e acho que isso vai ser pior quando ele for embora. -digo e sinto meus olhos encherem de lágrimas.
-Amiga... ele vai voltar... ele disse.
-Ele está muito tenso ultimamente... sinto que ele está me escondendo mais do que devia.
-Porque talvez ele não queira te preocupar Isabel.
-E se não for isso?
-O que você acha que é?
-Não sei... mas Jiyong teria que brigar com a família e renunciar a tudo... ele é tudo o que restou deles... a mãe e a irmã morreram...
-Isa... isso não é problema seu.
-Pense comigo... o pai dele perdeu tudo... só tem o filho... e ele tinha uma foto com a avó no celular...e ele estava com um sorriso bem genuíno.
-Agora ele tem sua foto lá.
-Porque está magoado.
-Isabel... não confunda as coisas e nem queria ser a santa na história e tomar todo o sofrimento pra você.
Já pensou se ele resolvesse se meter na sua relação com seu pai pq é tudo o que te sobrou?
-É diferente...
-Não é... ele já te disse que tinha planos de viver a vida dele sozinho, sem essa complicação toda, que ele vem trabalhando para ter o dinheiro e negócios por conta própria... então... para com isso.
Fiquei com a cabeça a mil... mas decidi não ficar pensando nisso.
-Vou pedir um sorvete de limão... vai comer sobremesa?
-Não... estou bem satisfeita... você devia estar também.
-Não enche... -digo e ela sorri.
Terminamos nossa refeição e seguimos para casa, Tae estava chegando também, ele sorriu ao nos ver e Clara foi em sua direção. Eles estavam diferentes, sorrisos cúmplices, segredinhos e eu já imaginava o que era, mas dei o espaço para ela curtir isso sem ficar pressionando.
-Desculpem não conseguir chegar a tempo... precisei resolver um problema com um documento que traduzi e precisei ir na empresa para ajudar eles a entrar no arquivo. Vocês querem tomar um sorvete ou já comeram a sobremesa também?
-Eu adoraria uma sobremesa... acabei não pedindo... mas estou com vontade de comer algo doce. -Clara disse e eu a encarei sorrindo.
-Eu passo essa. -digo e sorrio. -Vou dormir um pouco, estou cansada e essa noite foi bem difícil.
-Ela não consegue mais dormir sem o namoradinho dela.
-Me erra Clara. -digo e dou um leve empurrão nela. -Vão lá e divirtam-se. -Digo e sigo em direção à porta.
-Isa... minha mãe disse que gostaria de te ver... ela disse pra você ligar pra ela.
-Ok... vou ligar assim que eu subir...
-Olha... você sabe o que ela pensa sobre a família do Jiyong... então não dê muita atenção ao que ela vai dizer ok? Ela cismou que precisa te alertar.
-Obrigada Tae... -sorrio e entro para casa.
Entrei no apartamento e fui tomar um banho, estava com muito calor, e havia comido muito no almoço, estava um pouco enjoada. Assim que saí do banho eu troquei de roupa e me senti melhor, coloquei uma camiseta do Jiyong que estava em meu guarda-roupa e fui na cozinha tomar uma água. Peguei meu celular e liguei para a mãe do Kim, mas chamou até cair na caixa postal. Decidi deitar no sofá e ligar em 5 minutos. Fiquei na frente da porta de vidro que leva para a pequena varanda e aproveitei a pequena brisa que entrava por ela. Senti meu corpo inteiro relaxar.
**
Estava sentindo um cheiro gostoso dos temperos que Jiyong usava para cozinhar o lamem dele, abri os olhos devagar e o vi de costas, cortando alguns temperos e cozinhando. Sorri e me levantei, andando a passos largos e o abraçando pelas costas, inalei seu perfume e era um remédio para mim, meu corpo inteiro relaxou.
-Oi.-digo e ele sorri, me olhando e se soltando um pouco para me abraçar.
-Oi... -ele se virou e passou os braços pelo meu corpo, inalando o perfume dos meus cabelos recém lavados.
-Por que não me acordou?
-Você parecia cansada... não devia dormir só de camiseta no sofá. -ele diz e junta levemente as sobrancelhas.
  -Eu só estava descansando... eu ía ligar para a mãe do Kim... ela quer falar comigo. Mas acabei pegando no sono. -ele ficou em silêncio, me olhando atento.
  -O que ela queria?
  -Não sei... caiu na caixa postal... eu ia dar um tempo e acabei dormindo.
  -Huum...está com fome?
  -Estou... almocei mais cedo, mas sentir o cheiro dos seus temperos me fez sentir aqui uma fome de 10 dias. -digo e ele sorri, aproximando nossos lábios e me beijando.
  -Vou terminar aqui...-ele afasta nossos lábios, mas aquele beijo fez minha fome ficar para segundo plano, apaguei o fogo do fogão e ele continuou me olhando atento.
  Nos beijamos novamente e Jiyong desceu as mãos até minhas coxas e me suspendeu, dei um gritinho com o susto e sorri, voltamos a nos beijar e eu entrelacei minhas pernas em sua cintura e ele segurou firme acima das minhas coxas enquanto caminhava comigo para o quarto.
  Chegando lá, os beijos ficaram mais urgentes, ele foi até a cama e sentou comigo, colocando as mãos nas minhas costas, por dentro da camiseta dele e me apertando mais em seu corpo. Puxei a camiseta preta dele por cima da cama e olhei seu corpo mais uma vez, traçando as tatuagens com meus dedos. Olhei para ele que estava atento com cada movimento, então ele tirou uma das mãos das costas e colocou em meu rosto e acariciou. Era um toque diferente, cheio de ternura, paixão... amor.
  -Eu te amo Isabel. -ele diz e eu sorrio, sentindo meus olhos encherem de lágrimas, era um sentimento forte e assustador.
  -Eu te amo também... muito. -digo e ele puxa meu rosto, aproximando nossos lábios e me beijando.
  Não foi sexo o que fizemos ali... era muito mais que isso... nunca entendi direito essa diferença, mas naquele momento eu entendi o que era fazer amor. Quem inventou essa palavra, experimentou isso e precisou dar um nome com maior significado de sexo. Nos acariciamos, beijamos, foi lento, rápido, cheio de toque e tudo o que ouvíamos eram nossas respirações.
  Eu não fazia idéia de como conseguiria ficar sem ele. Iria doer... mais do que eu imaginei. Naquele momento eu tive um medo que podia me deixar paralisada. Era um pânico, porque só de imaginar a dor, já era algo horrível, sentir devia ser milhares de vezes pior.
  -Não me deixe!
  -Não me deixe!
  Dissemos isso juntos e a surpresa em nossos olhares só trouxe a confirmação que isso seria difícil para os dois. Nos beijamos novamente e continuamos a nos amar por algumas horas. Parando, descansando, nos beijando e fazendo tudo de novo. Foi surreal.

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