Capítulo 13

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-Bom dia! -digo e me sento no sofá.
-Bom dia! -Clara estava tomando café, em pé no balcão. Vestida para sair.
-Droga! -Digo e me levanto. -Perdi a hora...não vou conseguir me arrumar a tempo de ir para a aula.
-Já passou o horário da sua aula...agora já são...-ela olha no relógio - 11 horas da manhã. -Ela me encara e toma um gole do leite.
-Mentira. -Me levanto e sigo para onde ela estava.
-Você dormiu bem tarde. -Ela diz e deixa a xícara no balcão.
-Sim...aconteceram umas coisas com Jiyong. -digo e ela me olha um pouco preocupada. -Já está tudo resolvido.
-Sabe que torci muito por vocês não é? Mas não sei mais se ele é bom para você?

-Ele é incrível. -digo e sinto que devia defendê-lo.

-A família não vai aceitar o relacionamento de vocês...sabe o que vai acontecer? -ela se aproxima. -Ele vai embora e vai te deixar sem nem ao menos olhar para trás.

-Ele não vai fazer isso. Jiyong é forte...ele me ama.

-O pai dele também amava a mãe dele. Seu pai também amava sua mãe...no fim. Todos saíram magoados.

-Qual é o seu problema? -digo e sinto um aperto no peito. Clara nunca me dizia palavras tão pessimistas. -Você sempre me disse para parar de achar que eu teria o mesmo destino dos meus pais, agora quer que me baseie neles?

-Quero que coloque seus pés no chão Isabel...está voando alto.

-Nunca tirei meus pés do chão Clara...mas ele me ama...eu sei disso...eu sinto isso.

-Vocês estão a...quantos meses? -ela gesticula e anda em direção a cozinha, deixando a xícara, depois deixa na pia e volta...3 meses...isso é suficiente para conhecer alguém?

-É suficiente para mim. -olhamos assustadas para a porta do corredor e Jiyong estava parado nos encarando. -Não vou fazer ela sofrer Clara...não sou meu pai. -Kwon se aproxima e para ao meu lado. -Sei muito bem o que quero...não vou recuar. -ele olha nos olhos dela e Clara respira fundo e se afasta, indo até o sofá, para pegar a bolsa.

-Espero que não a faça sofrer...ela já passou por muitas coisas...se ela permitiu que você se aproximasse tanto assim...saiba valorizar.

-Eu sei. -ele pega em minha mão e encaro Clara, fazendo um sinal para ela parar.

-Vou trabalhar mais cedo...volto no horário normal. -ela diz e segue para a porta.
  -Desculpe por isso. -olho para ele que sorri e me encara.
  -Sua amiga está preocupada...tudo bem. -ele diz e sorri.
  -Está com fome?
  -Quero ir naquele lugar...que tomamos café da outra vez.
  -Na padaria? -pergunto e ele sorri. -Vou me trocar e vamos.
  Segui para o quarto e me arrumei, coloquei um short jeans, uma camiseta branca e meu allstar. Deixei meu cabelo solto e coloquei minhas coisas em uma bolsa pequena.
  -Jiyong...vamos. -digo e ele sorri. Estendendo a mão para mim.
***
-Venho te buscar na saída...ok?
-Vou esperar. -digo e ele se aproxima e me puxa levemente pela cintura, tocando meus lábios levemente.
-Obrigado...por ontem. -ele diz e coloca a testa na minha.
-Você está bem?
-Hum. -ele faz um sinal positivo e depois se afasta um pouco.
-Preciso...resolver umas coisas...huum...venho buscar você ok?
-Ok!
-Tchau! -Aceno um tchau e ele desce as escadas e segue para a saída. Havia um carro preto esperando por ele logo no portão principal. Jiyong apenas entrou no carro, sem esperar abrirem para ele.

***
-Isa...Você fecha tudo? -Carlos pergunta assim que fecha todas as janelas.
  -Sim.
-Vai esperar seu coreano? -ele sorri e reviro meus olhos. -Vocês são um tipo de complemento agora. Compre um e leve o outro.
-Para de ser ridículo. -dou um leve empurrão nele e saio sorrindo.
  -Isa ...vocês estão sérios sobre o namoro?
-Acho que sim. -digo e ele abaixa a cabeça e sorri.
-Você precisou esperar vir alguém do outro lado do mundo para se apaixonar? Sabe...seria mais fácil se fosse alguém daqui.
-Eu pensei sobre isso...mas eu estava enganada. Não escolhemos por quem nos apaixonamos.
-Wow...nem te reconheço mais. -ele brinca e me dá um leve empurrão.
-Não seja idiota. Se pudesse escolher...escolheria sua namorada? -digo e ele me olha e depois se finge de ofendido.
-Essa doeu.
-Desculpa...sério. -junto minhas mãos e suplico.
-Perdoada. -ele abre os braços e eu o abraço. -Espero que seja muito feliz ok? Você merece.
-Eu também espero isso de você.
-Isabel. -ouço a voz de Kwon e olho para a porta. Ele estava segurando a jaqueta dele com a mão e parecia bem cansado. O rosto um pouco pálido e estava me olhando com uma expressão diferente.
-Vai lá...eu fecho. -Carlos diz e se solta de mim. Bagunçando meus cabelos.
-Ei...está louco? -pergunto e dou um tapa em seu braço.
-Vai...já enjoei essa sua cara. -sorrio e pego minha bolsa do balcão.
-Obrigada...até amanhã. -digo e ele acena um tchau pra mim e faz um pequeno aceno para Kwon, que o ignora e sai na minha frente, seguindo para a saída.
-Jiyong...espera...ei. -me apresso e puxo sua mão quando o alcanço. -O que foi?
-Como assim o que foi? -ele diz e eu fico mais confusa ainda. -O que estavam fazendo?
-Como?
-Por que estava abraçando ele? -ele diz e percebo que ele estava com ciúmes.
-Jiyong...foi apenas um abraço...de amigos.
Ele começou a resmungar algo em coreano e fiquei confusa... deixei a raiva dele passar e ele se acalmar para falar algo.
-Olha...isso não é normal em meu país.
-No meu é. Aqui...os amigos se abraçam, brincam, viajam juntos, fazem sessão cinema em casa e todos dormem no mesmo ambiente, compartilham quartos nas viagens...
-Não é certo.
-É questão cultural Jiyong...para mim, seu modo de pensar é errado. Mas eu compreendo...são culturas diferentes. -tento ser objetiva e calma para não brigarmos, mas ele parecia horrorizado com aquilo.
-Não concordo.
-Tudo bem...não precisa. Mas vai ter que respeitar. -sou firme e ele passa as mãos pelos cabelos e encara a rua, falando algumas palavras em coreano de novo.
Descemos os degraus e Kwon estava calado, assim que chegamos na rua, tinha um carro preto estacionado, ele parou e ficou encarando o carro, então deu um sorriso irônico, daqueles de quando o conheci.
  -O que foi? -pergunto e ele me olha nos olhos, depois me coloca atrás dele. Então vejo a porta abrir e dela sai um homem oriental. Anda na nossa direção e faz um pequeno aceno para Jiyong. Eles conversam em coreano, e o homem mantinha uma calma impressionante para falar com Jiyong que já estava brigando e gesticulando. Ele era bem estourado, e ali parecia totalmente furioso. Toquei seu braço e ele me olhou. O homem olhou em minha direção e encarou minha mão em Jiyong.
  -Desculpe...nós já estamos indo...está tudo bem. -ele olhou para o homem e entrou na minha frente novamente, segurando firme minha mão. Voltou a dizer algo em coreano e então me puxou com ele.
  -O que aconteceu? -pergunto enquanto andamos a passos rápidos e firmes.
  -Não precisa se preocupar.
  -Jiyong...não gosto de mentiras e nem de segredos. Se não confia em mim para dizer o que está acontecendo, nãos consigo ficar do seu lado.
  -Confia em mim...só dessa vez! -ele suplica e fico encarando-o. Algo me dizia que aquele assunto era algo sério, e que eu devia deixá-lo pensar por uns dias. No dia anterior ele passou por uma experiência traumática, eu queria dar um tempo para ele agora.
  -Jiyong...não vou insistir agora...mas se não confia em mim, isso não vai dar certo.
  -Eu preciso resolver umas coisas e logo em seguida eu te conto. Ok? -ele diz e me puxa. Me dando um abraço firme e beijando minha testa, então agarra minha mão e me puxa novamente. Seguimos a passos firmes e seguimos para casa. Entramos e cozinhei para nós, fritei uma carne e fiz macarrão, Jiyong parecia com pressa e só consegui pensar em fazer essa comida para agilizar.
  Almoçamos e ele ficou comigo até perto do horário da Clara voltar. Estava com as mãos entrelaçadas na minha, e parecia bem distante.
  -Tem certeza que está tudo bem?
  -Estou apenas pensando...preciso resolver umas coisas...-ele diz e me olha. -Vou precisar ficar sumido por uns dias.
  -Por que?
  -Tenho que resolver umas coisas e ...colocar minha cabeça em ordem.
  -Para isso precisa se afastar de mim?
-Não quero bagunçar sua vida.
-Vai bagunçar se fizer isso. -me afasto um pouco e a idéia de me afastar dele me causa um vazio. -Precisa aprender a dividir o peso...me deixar estar ao seu lado. Quando você usou a palavra...namorada...você estava sendo honesto?
-Claro que sim. -ele se endireita e fica de frente.
-Então haja como um namorado e me deixa seguir ao seu lado. Ok? -ele pensa um pouco e me olha atento.
-Isa...assim que minha família descobrir que pretendo ficar e...estou namorando uma brasileira...as coisas vão ficar bem difíceis.
-Eu imagino.
-Virão atrás de você e ...eu não quero isso.
-Vou estar preparada. -digo com firmeza e ele sorri.
-Eu pretendia resolver isso sozinho. Enfrentá-los sozinho...mas já sabem sobre você...e tem algumas coisas que não te contei e ainda não estou pronto para falar...não quero esconder nada de você ...mas quero que saiba quando eu resolver tudo.
-Isso afeta o que sente por mim? -pergunto e ele sorri triste.
-Jamais...o que sinto por você é algo que nunca senti antes.
-Então sobre isso...vou esperar. Mas não vou aceitar que se afaste de mim. -digo e ele sorri, me puxando e passando seus braços por meu corpo em um forte abraço.
-Eu prometo que vou resolver tudo ok?
-Eu confio em você! -digo e o peso das palavras ditas saíram com tanta naturalidade que fiquei assustada em como eu estava confiando nele. Mas algo dentro de mim, dava a sensação de que ele estava sendo honesto sobre os sentimentos. E eu só queria não perdê-lo.

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