Capítulo 15

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-Isa...-Clara me chama da cozinha, eu estava arrumando minhas roupas em uma bolsa, iria passar um feriado prolongado na cidade em que nasci. Era aniversário dela e os pais dela dariam uma festa lá, apesar de eu não querer voltar naquele lugar nunca mais, eu não podia fazer isso com minha amiga.
-Oi...-digo e vou de encontro a ela.
-Kim disse que vai nos encontrar na rodoviária...ele e Kwon irão direto para lá. Eles tentaram falar com você mas não conseguiram.
-Ok... meu celular descarregou e deixei carregando.
-Fiz uma vitamina...você quer? -ela pergunta e me aproximo. -Eu sei que você deve estar se sentindo
bem ansiosa agora...e de verdade...não ficaria chateada se você não fosse. Eu entendo ok?
-Estou bem Clara...não se preocupe. Você, Jiyong e Kim estarão lá...ficarei bem.
-Se aquele homem aparecer...você não pode fazer nada porque é seu pai...mas pode deixar que eu...
-Clara...não quero confusão ok? Quero ir lá, curtir com meus amigos e depois voltar tranquila.
-Certo...tudo bem.
-Já arrumou sua mala?
-Já sim. Vou tomar banho e ficar pronta daqui a pouco.- ele se aproxima e para ao meu lado. -Como acha que Kwon vai se sentir lá? Tipo...é uma cidade pequena, ele será o centro das atenções usando o cabelo vermelho e chegando com toda aquela pose de "sou o dono do pedaço" ! -Ela ri e eu também.
-Vai ser interessante. -digo e sorrio.
  Clara e eu arrumamos o apartamento, nos arrumamos e depois fechamos tudo. Desligamos o gás e fui no apartamento dos meninos ver se tinham feito o mesmo, na casa dos meninos tinha uma chave do nosso apartamento e na nossa tinha uma deles, para qualquer emergência. Depois de conferir tudo, descemos e esperamos o taxi. Eu estava ansiosa para a viajem e estava rezando que não encontrasse meu pai e sua nova família. Eu sabia que estava agindo feito criança, e que o filho deles não tinha nada haver com essa história, mas eu não conseguia olhar a mulher que foi amante do meu pai e agora vivia feliz em uma casa na qual foi comprada com uma parte do dinheiro da casa que vivi com minha mãe.
  Chegando na rodoviária, verificamos o portão certo e depois seguimos para o local de embarque, Clara estava vendo alguns vídeos sobre o curso dela e eu estava apenas torcendo que os meninos chegassem logo.
  -Chegamos...-Ouço a voz de Kim e levanto meu rosto para encara-los, e se alguma vez achei que Jiyong não podia ficar mais bonito, eu acabei de descobrir que estava errada, ele estava de cabelos pretos, bem aparados na lateral, apesar de estar jogado para o lado, alguns fios caíam em seu rosto, ele pareceu um pouco tímido e cobriu o rosto.
  -Uau...se você encarar ele mais um pouco o garoto vai se assustar. -Saio do transe e vejo risadas do Kim e a cara de deboche da minha amiga.
  -Eu só fiquei surpresa.-me defendo e ela revira os olhos sorrindo.
  -Sei...Kim...vamos comprar algumas coisas ali para comermos no caminho.
  -Ok.-ele diz e deixa a bolsa no banco ao meu lado.
  Os dois saem e Kwon me olha com um sorriso no rosto.
  -Eu só fiquei surpresa...-digo na defensiva e cruzo meus braços um pouco envergonhada. Ele se aproxima e me abraça, fazendo um leve carinho em minhas costas. -Mas eu estava pensando...meu Deus...como ele ficou gato. -digo e sinto sua risada. Passo meus braços por sua cintura e me afasto um pouco para encarar aquela linda face. Subo minha mão e passo por seus cabelos.
  -Você gostou?
  -Gosto de tudo que faz em seu cabelo...quando acho que é algo que eu não gostaria você me surpreende.
  -Que responsabilidade. -ele brinca e coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
  -Por isso demorou?
  -Estava no salão...e depois fui resolver a questão do substituto nas baladas.
  -Deu tudo certo?
  -Sim...tudo certo. -ele diz e e volto a abraçá-lo. Viro meu rosto em direção a seu pescoço e inalo seu perfume, aquilo me acalmava bastante. Fiquei ali, parada apenas aproveitando. Estava ansiosa com a viajem e preocupada em como me sentiria ao ver meu pai. Na verdade eu estava torcendo para não encontrar meu pai e a esposa.
-Você está bem? -Jiyong se afasta um pouco e me encara.
-Estou sim...só cansada. -digo e ele continua me encarando. -Sério!
-Vamos?-Clara aparece com Kim e pegam suas bolsas. -Vou dormir um pouco na viajem. Estou cansada.
Subimos para os assentos e Jiyong sentou ao meu lado, depois de acomodar nossas bolsas na parte de cima. Eu não estava legal, estava ansiosa e me sentindo um pouco agitada.
-Isabel...o que aconteceu?
-Eu só estou um pouco...agitada por voltar naquela cidade.
-Faz tempo que não volta lá?
-Desde que minha mãe morreu eu não voltei lá. -Ele ficou me olhando atento e eu sabia que eu nunca havia falado com ele sobre essa parte da minha vida. -Você sabe que ela também morreu em um acidente de carro? -olho para ele e encosto minha cabeça no banco.
-Eu ouvi algumas coisas parecidas...mas nunca conversamos sobre isso.
-Meu pai nos deixou depois de mais de 15 anos casado com minha mãe. Tinha uma amante. Assim que saiu o divórcio ele se casou com ela, minha mãe não superou...se afundou...morreu e ele vendeu nossa casa para comprar outra para a esposa e o novo filho. -digo e sorrio, em tom de brincadeira.
-Você não precisa fazer isso. -ele diz e encosta a cabeça no banco e me olha nos olhos.
-O que? Voltar na cidade?
-Não...fingir que está tudo bem. -ficamos um olhando para o outro e sinto meus olhos encherem de lágrima, mas então desvio e olho para a janela.
-Não consigo perdoar ele...-digo e continuo olhando para a janela. -Não o fato dele ter se casado e construído uma nova família...mas o fato dele simplesmente ter nos abandonado como se não fôssemos ninguém...e me deixar quando eu mais precisei dele.
-Eu estou aqui...-ele diz e me viro para encará-lo.
  -Não quero ver ele. -digo e sinto um alívio ao repetir essas palavras, mas ao mesmo tempo um peso por sentir isso.
  -Tudo bem sentir isso... não precisa se forçar a nada.
  -Me sinto péssima por odiar ele, a esposa e a criança que nem conheço. E que é apenas uma vítima assim como eu. -Encosto minha cabeça na janela e respiro fundo, sinto a mão macia do Jiyong tocar a minha que estava em meu colo e logo ele entrelaça nossos dedos.
  -Você é boa Isa... eu nunca conheci alguém tão boa quanto você. Se preocupa com as pessoas, mesmo quando não devia...Lembra quando me viu passar mal na tua? -ele inclina a cabeça e eu o encaro. -Não me conhecia e mesmo assim me ajudou.
  -Isso não conta. -sorrio e encosto minha cabeça no banco. -Estava muito atraída por você. -digo e ele sorri.
  -Ok! ... Huuuum... então se lembra quando seu amigo da biblioteca chegou com a namorada e ela te ofendeu? Você tentou apaziguar tudo para não brigar... e tenta não magoar seu amigo mesmo ele namorando uma garota daquela... também está sempre cuidando de mim e do Kim... cuidando da Clara...
  -Obrigada! -digo e ele sorri.
  -Você é uma boa pessoa... tem um coração puro... não pense demais nisso.
  -Não me deixe fazer uma besteira.
  -Que ripo de besteira?
  -Qualquer coisa que eu me arrependa.
  -Ok! -ele garante e eu aproximo minha cabeça de seu ombro e respiro fundo.
   A viajem foi longa... mais longa do que imaginei. Meu coração estava aflito e quando chegamos perto da cidade senti o pânico crescer... não tinha estado ali desde que minha mãe faleceu... estar ali sabendo que não veria ela estava me matando.
  -Vamos? -Jiyong apertou nossas mãos e procurou meus olhos cautelosamente, fiz um sinal positivo com a cabeça e ele soltou nossas mãos e pegou nossas bolsas, descemos do ônibus e ele colocou minha bolsa em cima da mala de rodinhas dele. Colocou os óculos escuros e logo vi que estava sendo o centro das atenções da pequena rodoviária.
  -Wow... -digo e ele se vira para me encarar. -Você tem noção de quanta atenção consegue chamar?
  -Eu? -ele pergunta e se vira totalmente para mim.
  -Sinto que não terei paz aqui. -digo e vejo o sorriso dele crescer em seu rosto.
  Ele me puxa e agarra minha mão... então seguimos juntos até o pequeno portão de desembarque.
  Logo avisto o pai de Clara, ela sorri e corre em sua direção.
  -Pai... -ela o abraça e logo inicia uma conversa animada com ele.
  -Isa... que bom ver você aqui. -ele diz e se aproxima para me abraçar. -Sentimos sua falta.
  -Eu também senti sua falta padrinho. -digo e depois ele se afasta um pouco.
  -Esse deve ser seu namorado... -ele olha para Kim, e logo vejo Kwon enrugar levemente sua testa e se aproxima, fazendo um pequeno aceno.
  -Eu sou o namorado dela... me chamo Kwon.
  -Ahhhh... me desculpe. Muito prazer em te conhecer Kwon... Me chamo Carlos. -Meu padrinho estende a mão e os dois se cumprimentam.
  -Então você é o Kim... -ele sorri e Kim faz o mesmo, estendendo a mão.
  -Sim... prazer.
  -Tiveram uma boa viajem?
  -Sim... foi tranquila e agradável. -Kim ajuda  a colocar as malas no carro. E Jiyong leva as nossas para guardar também. Clara se aproxima e me olha cautelosa, então puxa minha mão e sorri.
  -Não guarde tudo aí ok? Foi um grande passo vir aqui, não se cobre muito.
  -Estou bem! Sério. -garanto e ofereço um sorriso para ela.
  -Que bom!
  -Vamos? -o padrinho fecha o porta malas e nos encara.
  -Vamos... estou morrendo de saudades da minha mãe.
  -Só sentiu falta dela?
  -Não pai... do senhor também... -ela se aproxima, o abraça e dá um beijo em sua bochecha.
  Clara foi no frente com o pai, fui no meio e os meninos cada um em uma ponta... Jiyong estava bem atento à cidade e Kim também... os dois olhavam fascinados a cidade pequena e verde a sua volta.
  -É bonito não é? -pergunto e eles concordam com a cabeça.
   -Passamos a vida aqui andando de bicicleta e nadando em um rio que fica aqui perto... se quiserem levamos vocês lá.
  -Queremos conhecer a cidade... ela parece linda.
  -A noite damos uma volta. -Clara garante e eu senti novamente aquele pequeno aperto. Eu sabia que mesmo fugindo de encontrar meu pai... isso acabaria acontecendo. Mas o que mais me assustava era ver a amante dele... aquilo iria me desestabilizar por completo.
  -Isa... chegamos. -Jiyong estava tocando levemente meu joelho e eu o encarei. -Vamos.
  Descemos do carro e pegamos nossas malas. Assim que vi tia Ana abrir a porta, sorri com a imagem dela que não mudou desde que éramos pequenas. Ela foi a melhor amiga da minha mãe, desde crianças, assim como Clara e eu, e também era minha madrinha... os pais dela sempre estiveram presentes em minha vida, e eu era imensamente grata por me tratarem como uma filha... porque eles foram tudo o que me restaram de uma família.
  -Minhas meninas. -Ela veio em nossa direção e abraçou nós duas de uma vez, um abraço bem apertado e firme. Eu não sabia que senti falta daquele abraço até aquele momento. Foi surpreendentemente bom.
  Ela se afastou um pouco e fez o que sempre fazia quando me via, me afastou e olhou para todo meu rosto e corpo.
-Perdeu peso... precisa engordar um pouco... tem ido ao médico? Vocês duas estão comendo comida saudável? -ela coloca a mão na cintura e Clara me olha de lado. -Aposto que não...
  -Ana... deixa as meninas chegarem... conheça os amigos delas primeiro e depois faça seu interrogatório.
  -Me desculpem meninos... sou a mãe de Clara... é um prazer conhecê-los... ela se aproximou e abraçou cada um deles... Kwon ficou um pouco surpreso, mas ofereceu um sorriso caloroso. -Sintam-se em casa.
-Obrigado. -os dois respondem e seguimos para dentro de casa.
Almoçamos em família e depois decidimos onde dormiríamos, eu iria dormir com Clara no quarto dela e os meninos dividiriam meu quarto. A festa de Clara seria no dia seguinte, então decidimos sair a noite para mostrar a cidade aos meninos. Eu estava ansiosa para andar com Jiyong pela cidade e apresentá-lo para meus amigos... mas ao mesmo tempo eu estava incerta sobre andar pela cidade.
O pai da Clara nos deu o carro para passearmos, e Kim dirigiu pra gente, fomos até a praça para comermos em uma lanchonete que tinha lá e Kim e Jiyong pareciam bem animados com tudo.
-Isabel? -ouvi uma voz e me virei, era Alice, era uma amiga quando éramos crianças...e como toda cidade pequena, era parente de alguém próximo a mim. No caso, era algo ruim pra mim. Foi o motivo de deixarmos de conversar. Ela era sobrinha da amante do meu pai.
-Oi Alice. -Clara respondeu em meu lugar e senti a raiva subir novamente, o que era ridículo, pois Alice não tinha nada haver com essa história. Mas só de lembrar de que a tia dela ia nas minhas festas de aniversário usando Alice para ver meu pai, aquilo me dava nojo.
-Eu não sabia que estavam aqui. -Ela insisti e chego a ter pena dela, pois sei que também foi difícil sua infância por ser sobrinha da amante do pai da melhor amiga dela.
-Oi Alice. -digo e ela sorri.
-Fico feliz que tenham vindo. -ela diz e logo sinto a mão do Jiyong na minha. Entrelaço nossas mãos e sorrio para ele. Aproveitando a sensação de segurança. -Vieram pra sua festa de aniversário Clara?
-Sim... este é Jiyong, namorado da Isa e este é Kim... um amigo nosso.
-Prazer meninos... espero que gostem da nossa cidade.
-Estamos adorando até agora. -Kim diz e Alice sorri.
  -Estou com fome. -Jiyong me encara e sorrio para ele.
  -Vamos? Estamos com fome.
-Alice... nos vemos depois ok? -Clara sorri amigavelmente e acena um tchau. Eu apenas ofereço um sorriso amarelo e saio de lá agarrada a mão de Kwon.
-O que houve? -ele pergunta e eu respiro fundo. Contando toda a história baixinho enquanto andávamos a passos lentos atrás de Kim e Clara. Jiyong parecia atento a tudo o que eu falava, e não me julgou. Mesmo eu sabendo que estava errada, que Alice não era culpada... aquele sentimento me matava aos poucos. - Por que se esforçou tanto para vir aqui?-ele pergunta e eu respirei fundo e apenas olhei para o céu.
-Em algum momento da minha vida eu teria que fazer isso... provavelmente estou usando a Clara como desculpa para vir.
   -Você acha que está pronta para lidar com isso agora?
  -Não sei... acho que sim. -digo e ele inclinou levemente a cabeça e me olhou atento.
  -Ei... vocês dois, vamos entrar e fazer o pedido... estou faminto. -Kim aponta para a lanchonete e Jiyong sorri, me puxando com ele.
Como acontecia em toda cidade pequena, os meninos chamaram muita atenção... todos que nos conheciam se aproximaram da mesa para conversar e conhecê-los. Eu estava feliz com isso, pois assim o fato de eu estar lá não seria a novidade. Me senti um pouco aliviada.
-Vamos tomar um sorvete na praça? -Clara sorri e nos olha com entusiasmo, Kim sorri e concorda com ela.
-Vamos. -Pego na mão de Jiyong e seguimos juntos para a pracinha da cidade, já era noite e estava cheia dos jovens conversando.
-Você gosta daqui? -Jiyong me pergunta, e fico surpresa.
-Gosto... mas não temos muitas opções de emprego aqui... e não voltaria a morar aqui novamente. Seria estranho não ter minha mãe e ter que lidar com meu pai e a esposa novamente.
-Entendo...quando você se casar um dia... este lugar seria uma boa opção para construir uma família. -ele diz todo sério e eu fico sem saber o que dizer.
-Se eu me casasse com alguém daqui... talvez seria uma boa opção... mas as pessoas de onde estou morando não viriam para cá.
-Está ampliando muito suas opções... eu estava me referindo a nós dois. -ele diz e sorri, então anda mais rápido e me puxa levemente pela mão para segui-lo.
Eu não tinha entendido o que ele quis dizer... e meu coração acelerou bastante. Era como se ele já tivesse pensado em nós dois como um casal mesmo...uma família! Chacoalhei minha cabeça para não estar me iludindo... ele pode apenas ter brincado, eu não devia ter levado tão a sério.
  Chegando na pracinha, fomos até onde comprávamos o sorvete e então nos sentamos no banco, Clara como sempre estava bem animada, falando sobre vários assuntos em cima de outro. 
  -Olha quem está aqui... -ouço alguém dizer e logo vejo Lucas e outros dois amigos nossos da escola se aproximarem. Murilo e Junior.
  -Ei meninos... -Clara sorri e se levanta para vê-los e cumprimentar. Faço o mesmo.
   -Quanto tempo não vejo vocês... wow... Isa...você está muito gata. -Murilo sempre foi assim...era a Clara, só que na versão masculina e mais descarado.
  -Obrigada! -sorrio e ele se aproxima e me abraça, então Junior se aproxima e faz o mesmo, me abraçando forte. Me tornei muito amiga deles na época que namorei Lucas... andávamos os cinco para todos os lados, nos divertíamos muito.
  -Que bom que voltou pra casa Isa. -Lucas diz e me abraça também.
  -É... não podia ficar de fora da festa da minha amiga... -brinco e ele sorri.
  -Meninos...esses são nossos amigos. -Clara olha para Kim e Jiyong, eles se levantam e os meninos se aproximam para cumprimentar eles.
  -Este é Lucas... o que ficou em casa um tempo atras... -Clara sorriu um pouco sem graça e me encarou , se lembrando do ciúmes de Jiyong. -Este é o Murilo, e este o Junior... passávamos o tempo todo juntos aqui...íamos para a escola, passear... nadar... tudo juntos. -ela diz e os meninos sorriem. -Este é o Kim... um amigo muito querido nosso... -ela sorri carinhosamente para ele e Kim retribui, se aproximando e cumprimentando os garotos com um aperto de mão. -Este é Kwon... namorado da Isa.-Clara diz e os meninos encaram Kwon e depois sorriem e se aproximam, cumprimentando-o. Eles eram excelentes amigos... estiveram ao meu lado quando precisei... mas eu me afastei mesmo assim, quando quis enterrar aquele lugar junto com minha mãe. Me sentia mal por ter feito aquilo com todos, mas eu precisava de tempo e espaço. E era agradecida por eles não guardarem mágoa por eu ter sumido.
   Tomamos sorvete juntos e depois ficamos lembrando do passado. Os meninos se deram bem com Kim... e apesar de Kwon ser mais fechado e distante, ele foi bem amigável com os meninos. Sem perceber, estávamos com muitos dos colegas de escola e da infância a nossa volta, e novamente Kim e Kwon eram o centro das atenções. Todos estavam curiosos sobre o garoto que veio de outro país, e estavam perguntando muitas coisas para Kwon. As vezes ele ficava confuso com as perguntas, porque falavam muito rápido, mas ele estava se saindo muito bem.
  -Então vocês se conheceram porque você veio fazer um intercâmbio no Brazil.
  -Sim...
-Está gostando daqui? -Junior perguntou e Kwon apenas fez um aceno positivo.
-Gostei muito... algumas coisas são um pouco estranhas pra mim... mas a experiência é incrível.
-Se quiserem sair amanhã para irmos nadar... o tempo vai estar bem quente. -Murilo diz e Kim sorri, concordando.
Jiyong parecia levemente desconfortável, mas ele estava bem amigável, então me aproximei e apoiei minha cabeça em seu ombro, pegando sua mão que estava no colo e entrelaçando com a minha. Ele sorriu e me olhou timidamente.
-Isso é estranho pra mim. -Ele sussurra.
-Ficar assim na frente das pessoas?
-Também... mas estar rodeado de pessoas que fizeram parte da sua vida por tanto tempo... me deixou com um pouco de ciúmes. -ele brinca e eu sorrio.
-Vou ficar bem triste de não podermos dormir juntos essa noite. -brinco e ele sorri, mas dessa vez ele realmente ficou tímido.
-Quer ir embora? -pergunto e ele faz um não com a cabeça.
-Estou gostando de saber mais sobre você. -ele sorri e dá um beijo em minha testa. Sorrimos um para o outro e voltamos a observar a conversa.
Ter Jiyong ali tornou a experiência de voltar para aquele lugar menos desagradável, doía, mas ele me ajudou a suportar. Eu estava tão aliviada de poder estar ali com todos, e ele estar comigo que tinha milhões de sentimentos misturados em meu coração e minha mente. Naquele momento fiz uma prece em voz baixa, para que Jiyong não saísse da minha vida. Que pudéssemos ficar juntos sempre. E que ele pudesse ficar no Brasil... mas se não pudesse, e quisesse ficar comigo, eu iria para qualquer lugar com ele. Tinha certeza que estava pronta para enfrentar o que precisasse, tudo para poder estar com ele.

Stupid LiarOnde histórias criam vida. Descubra agora