Capítulo 5 - Gizelly Bicalho

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Assim que pego o elevador, solto um ar que não sabia que estava prendendo, encontrar com Marcela se demostrou mais difícil que imaginado, porém acho que me sai bem. Estava na cara dela que ela não esperar ser tratada bem, mas assim que soube que ela voltaria ao Brasil comecei um trabalho mental, tinha que em comportar como adulta, madura e não uma adolescente ressentida. Saio do elevador, indo direto ao escritório de Guilherme, onde Mariana disse por mensagem que estaria. Viro a direita  e depois a esquerda no outro corredor e chego a sala que tem a placa com seu nome e entre aspas Guilherme, essa placa sempre me faz rir. Bato e não preciso repetir o processo pois Mariana já abre a mesma me envolvendo num abraço.

- O que foi? Que cara é esse? - Ela pergunta se afastando, não há nada que eu consiga esconder dela, aprendi a anos que não adianta nem tentar.

- Encontrei sua irmã, na entrada do prédio - Começo e já até sei o que ela vai falar então não dou tempo - Não, ela não fez nada, nós apenas nos esbarramos, nos desculpamos, eu fui super educada e foi até engraçado ver a cara dela - digo sentando - Ela não esperava cordialidade.

- Realmente, ela devia estar esperando um tapa na cara - Disse me fazendo rir e sentando na minha frente - Bem merecido por sinal, mesmo que alguns anos atrasados.

- Não Mariana, decidi que vou ser madura em relação a isso

- Meu Deus, viramos adultas mesmo - jogo um almofada nela - Talvez nem tanto.

- Achei que tinha me chamado para almoçar.

- Tá bem, tá bem, vamos nessa. - Mariana se levanta para pegar sua bolsa e me levanto em seguida. 

(...)

- Então vocês terão que trabalhar juntas por um ano na escola - Repito em voz alto o que minha melhor amiga acabou de me contar.

- Mas pra variar ela saiu toda bolada falando que o pai dela ainda estava tentando manipulá-la - Disse bebendo mais gole do suco a sua frente.

- Bem a cara dela, ela não teve contato com ele nos últimos anos, o Marcelo que ela conhece sempre tentava manipulá-la.

- Ah não, não creio 

- O que? 

- Você tem a coragem de defende-la?

- Não estou defendendo - tento desviar, mas ela já me manda aquele olhar - Achei que tinha perdido esse hábito, foi mal

- Bem, eu realmente acho que ela não vai aceitar então, provavelmente não vamos vê-la por mais uma década.

- Você acha que ser forcada a ficar aqui iria mudar algo entre vocês? - Sei que Mariana ficou muito magoada por Marcela ter sumido e deixado de fazer contato, ela demorou a se acostumar com a ideia de ter uma irmã, e do nada era como se tivesse perdido a irmã.

- Eu tinha uma certa esperança sabe. - Ela diz em meio a suspiros - Sei lá Gi, talvez se ela decidisse ficar poderíamos nos reaproximar, Jossi também sentiu muita falta dela - Tudo que podia fazer era acenar, ela precisa falar - Apesar de Jossi ter ido mais vezes lá pra visitá-la. 

- Relaxa Mariana, parece que Marcela não mudou muito ao longo dos anos. - Mentalmente pelo menos, por que fisicamente ela está ainda mais bonita, os cabelos ainda curtos, tinha mais curvas mas ainda era magra, tinha um olhar mais cansado também, ela acabou de enterra o pai acho que é normal. - Que foi? - Digo após Mariana estalar os dedos na minha frente

- Você tava viajando aí.

- Não tava não. - De novo, apenas tento

- Pensando na minha irmã?

- Ou sou extremamente transparente ou você é uma expert em ler pessoas - Digo olhando pro meu braço - acho que sou meio transparente mesmo - recebo uma cutucada da loira

- Sou expert em ler minha melhor amiga, Gi já tem anos.

- Eu sei Mariana, ja está tudo no passado. - Ela não acredita - Juro

- E quantas vezes você lembra do passado?

- Ah vai Mariana, eu tenho minha vida, segui uma carreira, estou bem, o que mais você precisa?

- Que você seja feliz amiga. - Ela alcança minha mão e eu me forço a olhar pra cima, por que os olhos delas de preocupação sempre me fazem falar mais do que quero. Ela solta minha mão. - Por mais que eu queria minha irmã de volta, o que mais me preocupava em relação a sua volta era como você ficaria.

- Eu consigo cuidar de mim Mariana - Sei que ela quer o meu bem e sei também que não posso confiar em mim quando se trata de Marcela, mas não iria admitir isso.

- Quero muito acreditar nisso Gizelly, mas nós duas sabemos como você ficou, ano atrás, quando ela foi embora.

- Não sou mais aquela adolescente, sou uma adulta muito bem sucedida, obrigada.

- Por mais que eu ame seus projetos, um dos quais inclui minha casa, linda e maravilhosa - Tinha que me fazer rir - Esse não era seu sonho, e sabemos disso, mas você se deu bem e era algo que te dava foco então sempre te apoiei, mas não vem me dizer que é 100% feliz, por que eu sei o que uma Gizelly feliz

- Bem, poderia me informar então - Digo cruzando os braços, tenho plena noção da resposta que ela pode dar mas preciso ouvir, de outra fonte que não minha consciência

- A cantora Gizelly, artista, viajando o mundo, curtindo - Por um segundo achei que ela fosse mencionar sua irmã mas aí ela continua - Namorando

- Não começa de novo, você sabe que já tentei, relacionamentos não são pra mim.

- Me recuso a acreditar que minha irmã foi a única que conseguiu ter colocar em um relacionamento

- E olha no que deu - olho pra ela pra ver se ela entende que não dá certo relacionamento e Gizelly

- Deu errado uma vez, dá errado sempre? Qual era o problema com Alexandre? Amanda?

- Você sabe muito bem, e você nunca suportou Amanda, lembro muito bem que quando te apresentei ela queria até ligar pra Marcela pedindo pra ela voltar - Ela revira os olhos e admite que eu estava certa.

- Realmente ela era um saco - e começamos a rir - Vamos pedir a conta?

- Vamos, tenho que voltar a escola, alguém tem que botar ordem lá.

- Diretora Mariana Mc Gowan, quem diria - Ela põe um braço em volta do meu pescoço, e saímos abraçadas. 

- Me deixa na escola? Vim com o Guilherme pro escritório 

- Claro

Andamos até o carro, e entramos mas aviso que iria parar pra entregar um projeto num escritório que ficava bem no meio do caminho pra escola, mas ela diz que não tem problemas. Paro o carro, digo que ela não precisa descer. Pego o projeto na mala, é para um antigo amigo da família, um dos meus clientes mais antigos. 

Assim que volto pro carro vejo na hora que tem algo de errado, Mariana parece que viu um fantasma.

- Aconteceu alguma coisa enquanto estive fora? - Pergunto já ligando o carro.

- Marcela decidiu ficar - Na hora o carro morre

- O que? - Me viro pra ela no susto

- Guilherme acabou de me ligar falando que ela deixou a papelada no prédio assinada. - Quando não digo nada ela continua - Ela aceitou ficar um ano e ser diretora comigo do colégio. Ela aceitou

- Já entendi - Digo sem saber o que sentir ou o que pensar - Ainda vai pra escola? - Pergunto ligando de volta o carro

- Sim 

O resto do tempo todo até a escola foi outro silencio no carro mas na minha cabeça parecia uma festa rave de tanto barulho. Marcela estava voltando, houve uma época em que o que eu mais queria era isso, que ela voltasse pro Brasil, pra mim. Mas nunca aconteceu e fui forcada a andar com a minha vida, e agora que minha vida já está estabilizada, ela decide voltar e ficar?

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